A pergunta que se faz todos os dias nesta data é: os objetivos do 25 de Abril foram cumpridos?
Ana Seiça Neves *
Festejar o 25 de Abril é festejar a LIBERDADE!
Decorreram 45 anos sobre aquela madrugada em que corajosos militares saíram dos quartéis e se dirigiram a Lisboa para pôr fim a um Estado totalitário, autoritário em que as palavras “Proibição” “Medo” o sustentaram durante largos e longos anos.
Foi com ESPERANÇA que naquela madrugada do dia 25 de Abril de 1974, o povo tomou conhecimento de um movimento militar que veio restituir-lhe o maior de todos os direitos que lhe foram retirados – a LIBERDADE.
Como escreveu Sophia de Mello Breyner:
“Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo”
A LIBERDADE é e sempre será a bandeira da Democracia, liberdade essa tão desejada, mas durante tanto tempo negada, proibida.
LIBERDADE o bem maior que nos trouxe o 25 de Abril, conquistada com o sacrifício de tantos portugueses e aveirenses que por essa luta foram perseguidos, presos e até impedidos de trabalhar..
E era tão grande o anseio pela LIBERDADE que o povo, nesse dia 25 de Abril de 1974, mesmo sem saber exatamente o que os militares tinham planeado, de imediato aderiram aquele movimento, apoiando-o sem quaisquer restrições.
Terá sido este apoio imediato que fez do 25 de Abril a Revolução pacífica que o mundo tanto admirou.
A pergunta que se faz todos os dias nesta data é: os objetivos do 25 de Abril foram cumpridos?
Ainda não, mas grande parte desses objectivos foram concretizados, muitos direitos conquistados e de tal maneira que hoje em dia nos esquecemos dessas conquistas: direitos laborais, direitos de índole social, educação, serviço nacional de saúde. Mas foram conquistas de Abril.
A construção do Estado democrático faz-se todos os dias, e nunca está terminado.
A sociedade em que hoje vivemos é diferente da sociedade à data do 25 de Abril.
Os desafios de então – legalização dos partidos políticos, eleição por sufrágio direto para os vários órgãos de soberania, autarquias, a nova Constituição, legalização dos sindicatos, entre outras – foram cumpridos.
Porém, a construção de uma sociedade mais democrática, mais justa e mais fraterna que se pretende está longe de ser alcançada.
Para essa construção todos somos chamados a dar o seu contributo, o qual se efetiva através do voto!
De facto, somos chamados a participar ,mas ao renunciar ao seu direito e dever que cada um de nós tem de, através do seu voto, contribuir com a sua opinião para a construção da sociedade, tem como consequência o aumento do nível de abstenção, que é factor de grande preocupação.
Os partidos políticos, através dos seus eleitos, têm, necessariamente, que estar mais do que nunca atentos a este problema e mais do que nunca em união com o povo que os elege. É fundamental que assim seja para desse modo combater a indiferença pela politica que se manifesta dessa forma: não votando.
Os políticos eleitos representam os seus eleitores, daí que devam aproximar-se cada mais deles, e como seus representantes têm a obrigação de conhecer os seus desejos e ansiedades.
Tem que se caminhar cada vez mais para uma maior proximidade e ligação entre eleitos e eleitores, procurando-os, indagando não só dos seus problemas individuais, mas também dos da sua comunidade.
Os eleitos têm, pois, uma missão de mais alto relevo e importância, na construção do estado democrático.
Só assim se recuperará a confiança dos eleitores nos políticos, que nos primórdios do 25 de Abril existiu, mas atualmente está cada vez mais posta em causa.
A classe política tem que ser um exemplo, tal como o 25 de Abril pretendeu.
Há, pois, que trabalhar para repor essa confiança nos políticos e na politica.
Uma vez reposta essa confiança, estou certa que a indiferença que hoje as pessoas têm para com a política e, especialmente os jovens, daremos um passo em frente para a construção do Estado democrático e afastaremos a abstenção, que cada vez é maior e nos preocupa a todos.
A LIBERDADE trouxe-nos direitos , deveres e responsabilidade..
Vivemos numa sociedade que olha apenas para os direitos e cada vez menos para os seus deveres.
Referi há pouco os jovens, que serão o futuro de Portugal, no sentido dos incentivar a uma maior intervenção política. É urgente e necessária essa chamada.
Devo também referir as mulheres.
O 25 de Abril veio dar às mulheres direitos que nunca lhe tinham sido reconhecidos pelo Estado Novo, como acesso a profissões predominantemente masculinas, a direitos iguais dentro da família,
Tem sido grande a luta pela igualdade de direitos das mulheres, mas hoje em dia, apesar de serem a maioria em várias profissões, na política e apesar das cotas, são relegadas para segundo plano.
Por opção ou indiferença, as mulheres que geralmente são muito empenhadas nas suas atividades profissionais, estão cada vez mais indiferentes à política.
A política é uma arte nobre que tão bem pode ser exercida pelos homens como pelas mulheres. Lembro algumas das deputadas da Assembleia da Republica: Maria de Jesus Barroso, Natália Correia, Sophia de Mello Breyner ,
Apelo, pois, a que as mulheres votem, contribuam, reivindiquem e intervenham na vida do País.
Vivemos em democracia e devemo-lo ao 25 de Abril e aos seus corajosos capitães que ousaram confrontar um país autoritário, antidemocrático. Devemos pois honrar essa grande conquista.
Dirão: falta muito por fazer e até que não é esta a democracia que queremos. Pois, mas.
Dizia Winston Churchill, político e estadista do séc. XX, “A Democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há melhor que ela”.
A democracia tem defeitos mas seria impossível hoje em dia vivermos doutra forma,
Não é só o Estado que tem que fazer tudo, o que queremos ou necessitamos , mas nós temos também que intervir e dar o nosso melhor contributo para a construção do Estado Democrático., se não directamente através dos nossos representantes eleitos em Liberdade e democraticamente.
No séc. XX um político que faleceu precocemente Jonh Kennedy disse: “Não perguntes o que a tua pátria pode fazer por ti. Pergunta o que tu podes fazer por ela”.
Imbuídos deste espírito do 25 de Abril, unamo-nos, discutamos as nossas diferenças, respeitemos as ideias dos outros, estejamos atentos a qualquer tipo de populismo e radicalismo que hoje em se vem alastrando pela Europa ,bem como qualquer diferença de raça ou religião, e sejamos dignos da herança que nos deixou o 25 de Abril e construamos mais Estado Democrático, com todos e para todos, sem radicalismos e facilitismos , e façamos de Portugal um país mais democrático, mais solidário, mais fraterno e pacífico.
Todos e com todos cumprimos Abril.
O Partido Socialista está, como sempre esteve, e estará aberto e disponível e na linha da frente da defesa da democracia sempre que esta seja posta em causa.
Viva a Liberdade
Viva o 25 de Abril.
Viva Aveiro.
Viva Portugal.
* Advogada, deputada do PS na Assembleia Municipal de Aveiro. Intervenção lida na sessão evocativa do 25 de Abril organizada pelo município de Aveiro.