Apesar do Turismo de Portugal – entidade responsável pela promoção do turismo português – ter nos últimos anos investido em grandes campanhas de promoção relativamente ao enoturismo, a verdade é que continua a dar tiros ao lado.
Por Maria João de Almeida *
O aumento da qualidade do vinho permitiu o investimento do enoturismo. Hoje, temos exemplos de empresas que não ficam atrás de nenhuma outra a nível mundial, mas é preciso continuar a trabalhar na qualidade do serviço, na formação dos recursos humanos e numa promoção mais objectiva. Mas vamos por partes.
Em 1986, a entrada de Portugal para a Comunidade Europeia veio introduzir novas regras, alterando por completo o panorama vitivinícola português. A década de 90 viria a tornar mais visível o resultado dessas alterações e, a pouco e pouco, o enoturismo surgiu e começou a ganhar cada vez mais força.
A produção de vinho passou a apostar na qualidade. Surgiram novas marcas, que invadiram supermercados, garrafeiras e restaurantes. Surgiram também mais livros, revistas, cursos de formação e programas de televisão, o que muito contribuiu para o surgimento de um consumidor mais informado e exigente. Tudo isto levou os produtores a terem boas razões para abrirem as suas portas aos visitantes, e as empresas de turismo a incluírem no seu portefólio actividades com uma componente vitivinícola. Hoje, as melhores empresas desta área – especialmente produtores de vinho – têm instalações atractivas e uma oferta de enoturismo destacada. Mas ainda nos falta trabalhar bem o sector para que possamos ir mais longe e ser uma referência neste sector. Então, o que nos falta fazer?
Apesar do Turismo de Portugal – entidade responsável pela promoção do turismo português – ter nos últimos anos investido em grandes campanhas de promoção relativamente ao enoturismo, a verdade é que continua a dar tiros ao lado. Porque entendem que o enoturismo se pode promover sem entender a sua essência, a raiz dos seus problemas, para poder ser mais forte.
Falamos muito de enoturismo mas, ao contrário do mundo do turismo e do vinho, é um sector sem estatísticas. Quantas adegas em Portugal praticam enoturismo? Que emprego gera? Quantos profissionais nesta área têm formação específica? Qual é a oferta de actividades? Esta e outras questões estão ainda por responder. Só conhecendo e organizando um sector, só conhecendo os seus pontos fortes e pontos fracos, se consegue definir uma estratégia. E, sendo um sector que engloba dois mundos, o turismo e o vinho, é preciso andar de mãos dadas, conhecer bem um e outro, para que o possamos promover bem dando tiros certeiros.
Por essa razão, o Turismo de Portugal, que tem o poder na mão, deveria ouvir mais o mundo do vinho. Conhecer in loco a nossa realidade, conversar com os players do mercado, definir uma estratégia com objectivos concretos, e não fazer só barulho. Daquilo que conhecemos de anos de experiência, sabemos que faltam recursos humanos ao sector, faltam regras, falta formação, falta certificação, falta aconselhamento às empresas, falta informação, falta promoção eficaz. Se soubermos trabalhar bem, estaremos a nivelar por cima o enoturismo português.
Os prémios que temos ganho nos últimos anos nas áreas do turismo e do vinho, e alguns no enoturismo, têm mostrado o nosso grande potencial. Mas para que estes resultados se multipliquem, é preciso fazer muito mais e melhor. E fazer melhor é fazer um estudo para o enoturismo, mas também promover o enoturismo através de eventos exclusivamente dedicados ao sector com grande impacto mediático, a nível nacional e internacional, e promover a formação de quadros especializados, entre outras actividades que poderiam abanar o sector.
* Presidente da Associação Portuguesa de Enoturismo (APENO). Artigo publicado originalmente no site Editor de Gastronomia.
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