Como explicar às crianças o que se vive na Ucrânia

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Guerra na Ucrânia (foto difundida em https://www.bostonglobe.com).
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As crianças têm uma forma pura e genuína de lidar com a emoção, entregando-se a ela com reação clara e enfatizando-a, muitas vezes, nas suas brincadeiras e na sua linguagem não verbal.

Por Joana Pinheiro *

Antes de conversar com os seus filhos sobre o que está a acontecer do outro lado do ecrã da sua televisão, na Ucrânia, fale primeiro sobre o tema com alguém. Esclareça, também, as suas dúvidas, valide informação e normalize os sinais que o seu corpo lhe está a dar. É normal sentir-se mais nervosa, ansiosa, angustiada, irritada ou triste perante tamanha crueldade.

Obrigar-se a não ver mais notícias pode não ajudar a gerir essa ansiedade porque, afinal, o desconhecido assusta-nos sempre muito mais. Este exercício de desconstruir o assunto antes de falar sobre ele com as suas crianças vai ajudá-la a diminuir a possibilidade de respostas mais dramáticas, agressivas ou intensas.

Comece por explicar à criança o que está a acontecer com uma linguagem adequada à sua idade. Esclareça a razão pela qual a televisão passa tantas imagens sobre o assunto, aproveitando para evidenciar o valor da humanidade e solidariedade tão vincados, por todo o mundo, em torno do povo ucraniano. Aos mais pequenos, reforce que o que estão a assistir diariamente está a acontecer, ainda que seja “num país muito distante de Portugal, da nossa casa” e que há pessoas boas a trabalhar na resolução deste problema.

Evite detalhes que possam provocar medo ou insegurança e, sempre que for possível, sem que este comportamento seja facilmente identificado pela criança, evite a sua exposição recorrente a estas notícias. Ver choro, sofrimento e violência não acresce, em nada, ao seu desenvolvimento saudável.

Faça por responder a todas as dúvidas de forma cuidada, carinhosa e compreensiva. Explique-lhe o que está a acontecer sem lhe passar a ideia de medo ou perigo. Faça-a sentir-se segura e protegida perto de si.

Crie uma dinâmica familiar que reforce a sua perceção de segurança. Exemplo disto pode ser o momento de deitar acompanhado por ambos os pais ou pelos irmãos.

Desafie a criança para a elaboração de um desenho onde aponte quem são as pessoas que a fazem sentir-se protegida e sugira colá-lo na parede do quarto, bem visível. Aos mais crescidos, incentive-os a participar, em família, numa iniciativa que esteja a acontecer para apoio à população atingida, como doação de bens em espécie. A perceção de utilidade e sentido de missão para ajudar o outro, aumenta o sentido de humanidade.

Tranquilize-a explicando que, mesmo que não consiga perceber ou questionar tudo naquele momento, poderá fazê-lo sempre que assim o considerar. Dê margem e tempo para que possa gerir toda a informação.

Termine recordando-lhe que, tal como nas histórias de encantar, os heróis vencem sempre e que estas pessoas, pela coragem, lealdade e resiliência, já são os nossos heróis.

Se perceber que a criança continua muito assustada, insegura e com manifestação de comportamentos que não reconhece nela, procure ajuda.

Lembre-se que disponibilidade e atenção são cruciais neste momento.

* Psicóloga no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa. Artigo publicado originalmente no site Healthnews.pt.

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