Coleccionismo: Um museu de práticas funerárias em Esgueira, Aveiro

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Museu da Funerária Gamelas, Aveiro.
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O Homem sempre quis honrar os seus quando eles partiam desta vida para uma outra existência. Essas honrarias eram desde logo manifestadas nas práticas funerárias. Cada povo, tendo em conta as suas especificidades culturais, criou os seus próprios rituais ligados às cerimónias fúnebres e manteve-os ao longo dos tempos.

Por Alberto Pires da Rosa *

Para dar a dignidade merecida aos membros que partiram para uma outra dimensão, as comunidades foram desenvolvendo diversas formas de manifestações artísticas. Ao longo dos tempos a arte esteve fortemente associada aos ritos funerários.

A prova disso esteve à vista na Exposição FUNERAIS PELO MUNDO, que, desde há anos, com este ou outro nome e com carácter não regular vinha sendo realizada no Centro Cultural de Esgueira. Esse evento, foi o resultado de uma feliz iniciativa da Agência Funerária Gamelas, propriedade do COLECIONADOR FERNANDO OLIVEIRA com a colaboração da Junta de Freguesia de ESGUEIRA. Estiveram na mostra mais de 1.000 artigos relacionados com as práticas funerárias: Uma panóplia de artefactos da mais variada ordem e natureza, destinados aos mais diversos fins, de diferentes proveniências, feitios e cores, exóticos alguns, Malas “post-mortem”, Carretas – uma delas do ano de 1900 -, informações sobre variadíssimos objetos, Paramentos e Livros usados pela Igreja nos funerais, bem como sobre os ritos (um dos documentos existentes tem quase 500 anos), baseados na tradição e normas aprovadas pelos Papas ao longo dos séculos, não esquecendo exposição de Jornais com muitos dos funerais célebres bem como fotografias que fazem a História dos Povos, não esquecendo menção a histórias interessantíssimas sobre muitos dos funerais inéditos, extravagantes até, por esse mundo fora.

Toda esta riqueza que esteve patente nas três exposições já realizadas, dá-nos, para além da noção das diferenças no que à morte diz respeito, o conhecimento das diferentes práticas e rituais que acompanham essa etapa da passagem das pessoas pela Terra. A primeira das exposições, realizada no Centro Cultural de Esgueira entre 30 de março e 12 de abril de 2015, tão completa, foi inédita e a primeira do género em Portugal, tudo com o notável espólio do COLECIONADOR FERNANDO OLIVEIRA. Para espanto de muitos, dado o aparente carácter “sombrio” do tema, teve mais de um milhar de visitantes. As restantes tiveram a douta intervenção de eminentes especialistas na área a que se faz referência, como sejam os Catedráticos José Pinto da Costa, médico, e António Delgado Tomás, escultor, que teceram aos eventos os mais rasgados elogios, para além das lições de sapiência que na circunstância proferiram.

De cada vez que é realizada uma exposição, regressa o material disponibilizado às garagens da Agência em causa, a anexos e garagens do seu proprietário e a outros lugares, não lhe permitindo acautelar devidamente nem ampliar o espólio com coisas interessantes que por entidades diversas e conhecedoras da sua sagacidade, cultura e interesse na matéria lhe vêm sendo indicadas para aquisição ou oferta.

Não há em Portugal idêntica mostra. Não há em Portugal nenhum Museu, Núcleo ou Galeria com idêntica panóplia de artefactos. Este espantoso e qualificado acervo, a não ser preservado em lugar próprio e objeto do interesse dos Entes Públicos, poderá vir a ser, será certamente, fruto da cobiça de Entidades fora da nossa zona, sendo certo que algumas têm vindo a solicitar as mais variadas peças para diversas exposições. Quiçá, perder-se-à um dia nalguma lixeira.

Do que fica dito, parece ser imperativo que, com rapidez, se aborde o proprietário de tão valioso espólio para que o mesmo venha a ficar na FREGUESIA de ESGUEIRA e concelho de AVEIRO, Aveiro capital de distrito CANDIDATA A CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA EM 2027. Esgueira tem hoje ou terá em breve possibilidades de espaço para neste momento ou muito brevemente acolher uma Casa deste género, já que tem um Parque Escolar excessivo em Edifícios, havendo ainda na sua área diversas Casas Senhoriais e, de todas estas hipóteses, nascerá a possibilidade de em Esgueira poder vir a ser instalado o citado MUSEU.

É evidente que desconheço também as condições para a cedência do acervo existente, mas estando certo da disponibilidade que, em princípio, o COLECIONADOR FERNANDO OLIVEIRA tem para o efeito acolhido, acho que era de todo o interesse da FREGUESIA de ESGUEIRA e suas Gentes (existe enorme expetativa no novo Executivo que vai sair das eleições autárquicas de setembro próximo) movimentar-se no sentido de que a CÂMARA MUNICIPAL DE AVEIRO e o Colecionador Fernando Oliveira aprofundassem, estudassem e apresentassem um projeto de resolução futura. E, assim, porque não, vir a criar uma ROTA DE TURISMO NEGRO, englobando este Museu, o Cemitério de Esgueira, um cemitério airoso, perdoe-se até a expressão “um cemitério bonito” e o Cemitério Central, bem no coração de Aveiro, um cemitério carregado de História e até uma possível extensão a outros cemitérios com história.

* Cidadão residente e eleitor em Esgueira.

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