Laboratório (Universidade de Aveiro).

Há um século, o centro de gravidade da ciência mundial estava na Alemanha. Um terço dos prémios Nobel nas ciências entre 1919 e 1933 foram atribuídos a cientistas ativos nesse país, incluindo Einstein, Von Laue, Planck, Heisenberg e Gustav Hertz.

Por Paulo Jorge Ferreira *

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Com a ascensão do nazismo, muitos cientistas procuraram refúgio nos EUA. No final da guerra, a Europa tinha perdido para os EUA muitos dos seus mais influentes cientistas e a maioria das universidades europeias estava devastada e incapaz de os acolher de volta.

A redistribuição do talento veio alterar o equilíbrio global. Descobertas como o radar e a bomba nuclear transformaram a ciência em objeto de cobiça. A corrida às armas e ao espaço fizeram o resto. Os EUA criaram a DARPA e a NASA e imprimiram-lhes uma agenda ambiciosa. O investimento público em ciência disparou e os EUA afirmaram-se como o novo centro da ciência e tecnologia mundiais.

Um século depois, as limitações à liberdade académica e os cortes no financiamento estão a inquietar a comunidade científica americana e podem levar alguns dos seus cientistas a considerar outros destinos. Isso pode causar uma nova fuga de cérebros e redistribuição do talento.

Um inquérito da “Nature” revela que 75% dos cientistas norte-americanos ponderam emigrar. Entre os destinos mais atrativos está a Europa. Também o “The Economist” divulgou um estudo baseado em dados da Gallup e realizado anualmente entre 2022-24 com 150 mil graduados de 135 países. Portugal é o 12.º país mais desejado por quem quer sair dos EUA.

Se conseguir oferecer um ambiente apropriado – com financiamento competitivo, estabilidade e liberdade para pensar – Portugal pode tornar-se atrativo para cientistas capazes de acrescentar valor às universidades, à economia e ao país.

Há, contudo, uma condição importante. O sistema científico e de ensino superior português tem fragilidades, por exemplo ao nível do financiamento e das carreiras. É essencial não prejudicar os esforços em curso para o melhorar.

Para isso, qualquer programa que venha a ser desenhado para tornar o país mais atrativo ao talento vindo dos EUA ou de outro lugar qualquer tem de encontrar financiamento adicional, além do que estava destinado ao sistema científico e de ensino superior. É tempo de agir com ambição e rapidez, mas também com responsabilidade.

A criação de um instrumento financeiro “Choose Europe”, que permita às alianças universitárias europeias lançar os seus próprios programas de acolhimento, é uma hipótese a considerar. Talvez possa ser a base de um programa específico, “Choose Portugal”, semelhante ao que Macron acabou de lançar em França.

Vale a pena pensar nisso.

* Reitor da Universidade de Aveiro. Artigo publicado no site UA.pt.

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