Um casal começou a ser julgado no Tribunal de Aveiro, esta manhã, por dois crimes de homicídio por negligência e um crime de ofensas à integridade física, também por negligência. O processo diz respeito à morte, em diferentes datas, de dois jovens numa casa que alugava quartos, no lugar do Bonsucesso, concelho de Aveiro, e ferimentos graves causados num terceiro inquilino, devido, sustenta a acusação, a inalação de gases de esquentador mal instalado.
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De acordo com a acusação do Ministério Público, baseada nas autópsias e outros exames médico-legais, a causa foi a mesma: inalação de monóxido de carbono, alegadamente, libertado devido ao mau funcionamento de um esquentador a gás (exaustão insuficiente), que as autoridades policiais apreenderam para inspecionar.
Os arguidos são os proprietários da residência, o mesmo local que funcionou ilegalmente, em momentos anteriores, como lar ilegal de idosos (encerrado duas vezes pela Segurança Social).
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A 26 de janeiro de 2019 foi encontrado morto um indivíduo de 19 anos. A 19 de fevereiro do mesmo ano, um segundo jovem, de 20 anos seria socorrido quando já estava inconsciente. Acabaria por sobreviver, mas esteve um ano a ser tratado e sofreu danos físicos irreversíveis. Três dias depois, aconteceu a segunda morte, um cidadão brasileiro, com mulher e filhos no país de origem.
O proprietário da casa, de 62 anos, atualmente cozinheiro, mas com formação em engenharia civil, remeteu-se ao silêncio no início do julgamento.
Já a companheira, de 53 anos, que cuida de idosos e faz limpezas, alegou desconhecer qualquer problema no funcionamento do esquentador até ficar a par das conclusões da investigação.
A mulher explicou que começaram a arrendar quartos depois da Segurança Social fechar pela segunda vez o lar de idosos ilegal que funcionava na casa.
Sobre a causa apontada para as mortes, disse que nunca se apercebeu de cheiro a gás, nem “nunca ninguém se queixou de problemas do esquentador”, que a investigação policial veio a descortinar após a sucessão de casos graves.
Confrontada pela Procuradora do Ministério Público se “não achou estranho tanta desgraça no mesmo quarto”, a arguida referiu que o primeiro morto era consumidor de droga e usava um camping gás para preparar as doses, o que levou “a falar-se” de overdose como causa.
Sobre o segundo caso mortal, a dona da casa deu conta que quando entraram no quarto foram encontrados “medicamentos para emagrecer”.
Quanto ao inquilino que ficou em estado grave mulher. explicou que “como não o víamos a comer nada e ele dizia que tinha de poupar tudo para mandar para o Brasil, pensávamos que fosse fraqueza”. Uma justificação que levou o advogado assistente a ironizar: “É estranho trabalhar num restaurante e ter fraqueza por não comer”.
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