Carta Aberta: Uma reflexão sobre a política de saúde em Sever do Vouga

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Centro de Saúde de Sever do Vouga.
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O que me move nesta carta aberta, Sra. Ministra da Saúde, é a angústia de quem conhece estes problemas enquanto utente e que se confrange com o estado calamitoso a que se chegou, nos apoios físicos e humanos aos utentes Severenses.

Por Artur Marques Arêde *

Excelentíssima Senhora
Ministra da Saúde
Dra. Marta Temido,

Sever do Vouga é, como V/ Excelência sabe, um pequeno concelho com cerca de 12.356 habitantes (2011) localizado no Distrito de Aveiro e inserido no núcleo do Agrupamento de Centros de Saúde do Baixo Vouga.

Senhora Ministra da Saúde, Dra. Marta Temido, nessa conformidade, com os cuidados de saúde nas comunidades que os tempos actuais de pandemia vieram tornar ainda mais frágeis, a unidade do Centro de Saúde Sever do Vouga (USSV) é enferma de transtornos operativos diversos, como é do conhecimento geral e sei, da Dra. Marta Temido, em especial e do Director Executivo dos Centros de Saúde do Baixo Vouga, Dr. Pedro Branco de Almeida. Estão identificados e registados variadíssimos problemas sérios, de vária ordem. Sobretudo ao nível de infraestruturas e muito particularmente da precariedade do edifício principal de origem, cujas instalações, tanto ao nível de requisitos essenciais para os técnicos de saúde, como ao nível de utentes estão absolutamente degradadas e no meu entender, no limiar dos limites do aceitável para o exercício dos fins a que se destina.
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Acresce referir, que estamos perante um concelho com 7 freguesias, dispersas numa área de 130 Km2, onde recentemente, várias extensões de saúde de algumas dessas freguesias foram encerradas, nomeadamente as extensões de Silva Escura, Rocas do Vouga e Pessegueiro do Vouga. Por conseguinte, os utentes dos mencionados núcleos encerrados e outros sem médico de família, têm de se deslocar à USSV para marcar consulta, existindo apenas oito vagas diárias, obrigando os utentes necessitados de consulta a deslocarem-se de madrugada para “guardar vez”, muitos deles sem meios de transporte, dependendo da caridade alheia, “criando-se assim filas intermináveis, com idosos e doentes sem local para se sentarem” e sem consulta, uma vez que a procura supera em muito as vagas existentes.

Senhora Ministra da Saúde, Dra. Marta Temido, este é um dos aspectos graves com que nos confrontamos diariamente, mas outra das questões não menos pertinente, é o referido estado físico geral do edifício, que não só demonstra a degradante imagem dos serviços de saúde, como coloca em causa o brio, a respeitabilidade e a dignidade que o equipamento deixa transparecer. Não se resume somente e apenas aos técnicos de saúde/funcionários e aos utentes, mas igualmente àqueles que visitam a Vila de Sever do Vouga, que ficam com a sensação da enorme incúria e desleixo que perpassa para a opinião pública, relativamente ao equipamento sob alçada do SNS e do ACes do Baixo Vouga.

Senhora Ministra, se não forem efectuadas as diligências essenciais para colmatar as anomalias evidentes nas infraestruturas, com a brevidade exigível, a qualidade dos serviços tende a degradar-se perigosamente, já que em alguns locais, detectam-se paredes interiores de gabinetes de atendimento, com fungos e bolores derivados da penetração de humidades em fissuras visíveis a olho nu, que podem vir a contaminar e comprometer as eventuais intervenções aos utentes. Não se compreende esta situação, uma vez que, ao encerrar as extensões de saúde de 3 das 7 freguesias do nosso concelho, de realçar que são infraestruturas construídas recentemente, era previsível a afluência dos utentes à USSV, que se deparam com um edifício sem condições físicas para os acolher e lhes ser prestado o devido auxílio exigível. Esta degradação do edifício, deveria ter sido tida em conta, aquando do encerramento das 3 extensões de saúde, pois sem recursos humanos, nem físicos, o bem estar da população de Sever do Vouga está comprometido.

O “ping pong” actual entre o SNS, que objectivamente se pretende desfazer da responsabilidade e consequente encargo da estrutura, alocando a mesma ao Município, esbarra com a óbvia relutância dos Severenses, em receberem um equipamento em estado de degradação, sem que o SNS o requalifique primeiramente, como é desejável e exigível, para posteriormente o alienar à gestão autárquica. É nesse jogo do empurra, que dura há anos, que todos saem a perder. O SNS insiste na degradação do bem comum, descurando a manutenção das infraestruturas, as suas intervenções periódicas, em suma ausenta-se das suas obrigações/responsabilidades perante a sociedade em geral e dos utentes em particular, e a autarquia, vê-se a braços com um equipamento no centro da vila a que não pode acudir/intervir, limitando-se a assistir à confrangedora situação. Em última instância, os cidadãos Severenses e não só, que necessitam de recorrer aos serviços médicos, num município extremamente envelhecido e com necessidades paliativas permanentes são os mais afetados.

O que me move nesta carta aberta, Sra. Ministra da Saúde, é a angústia de quem conhece estes problemas enquanto utente e que se confrange com o estado calamitoso a que se chegou, nos apoios físicos e humanos aos utentes Severenses. Não fosse a belíssima equipa dos técnicos de saúde daquela unidade, que tudo têm feito para suavizar a situação, certamente teríamos as televisões a divulgarem a calamidade a que iremos chegar em breve, se nada for feito urgentemente. Além de imprudente, denota, lamentavelmente, que afinal a vida humana e o bem-estar comum, não faz parte das políticas sociais do SNS para o concelho de Sever do Vouga. Parece-nos que será necessário, porventura, que o edifício entre em colapso, para que, “in extremis”, as responsabilidades sejam assacadas, alguém tome uma decisão e faça o que é devido!

Aqui deixo à Senhora Ministra da Saúde, Dra. Marta Temido, estas modestas sugestões no sentido de corporizar uma reflexão sobre a política de saúde em Sever do Vouga.
Estou convicto, de que o devir da prosperidade do País e do concelho de Sever do Vouga e até da sua sobrevivência nos serviços prestados às populações, dependerá das decisões políticas que hoje se tomem, no sentido de delas nos aproximar, aos requisitos essenciais para uma vida moderna, próspera, saudável e condigna!

* O subscritor, um cidadão residente em Sever do Vouga.

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