Sempre que alguém faz passar um produto não certificado, como sendo Bairrada, está a prejudicar de forma evidente aqueles que trabalham para a promoção da marca coletiva e que cumprem as regras.
Por Pedro Soares *
A Bairrada no presente
Actualmente, a Região Demarcada da Bairrada, que se situa entre os rios Vouga (a Norte) e Mondego (a Sul) e as Serras do Buçaco (a Oeste) e do Caramulo (a Este), é constituída por oito concelhos – Águeda, Anadia, Aveiro, Cantanhede, Coimbra, Mealhada, Oliveira do Bairro e Vagos – e contabiliza cerca de 2.400 produtores de vinhos, que exploram quase mais de 6.000 hectares de vinha.
Perdemos muita área de vinha, que estamos a começar a recuperar, assim como uma imagem positiva da região.
Existem cerca de 110 produtores inscritos na Comissão Vitivinícola da Bairrada, dos quais 84 colocam no mercado vinho com o selo de Denominação de Origem (DO) Bairrada.
A região produz mais de 50% do espumante nacional, sendo o mercado nacional o seu maior consumidor, seguido do Brasil, Canadá e Estados Unidos da América.
Os números de 2019 são positivos, apontando para um crescimento em certificação, preço médio do vinho espumante transaccionado e preço das uvas.
Em 2019 a Bairrada produziu mais de 21 milhões de litros de vinhos, espumantes e tranquilos. Houve uma quebra de 15% na produção de brancos e de 5% de tintos, mas foi compensada pela qualidade.
Quatro décadas de Região Demarcada
Sobre a defesa do território e da marca Bairrada, ambas são de extrema importância para a CVB. O sector do vinho é o único que suporta, verdadeiramente, a promoção contínua da marca Bairrada.
Nos últimos dez anos, a consciência da importância de estarmos unidos em torno de uma marca colectiva tem sido muito maior por parte de todos e o facto de empresas, como as tradicionais caves, que apenas engarrafavam, passarem a ter vinhas e/ou controlo sobre as uvas, fez com que também tenham de apostar de forma evidente na marca da região.
A qualidade e a diferenciação são as principais características da região. A influência Atlântica, o tipo de solos, as castas e as pessoas são apontados como factores diferenciadores da Bairrada.
Somos os líderes em termos de produção de espumante nacional e queremos ser também a região que pode alavancar o espumante como um produto de interesse colectivo e não como um subproduto.
Contudo, o negócio traduzido em baixo preço e em volume, a confusão entre o vinho não certificado e os produtos com Denominação de Origem, bem como a utilização da marca Bairrada na comunicação e produtos quando as uvas não são provenientes da região e/ou os produtos não são submetidos ao processo de certificação são tidas, durante estas quatro décadas, como as maiores dificuldades face ao trabalho realizado pela CVB.
Sempre que alguém faz passar um produto não certificado, como sendo Bairrada, está a prejudicar de forma evidente aqueles que trabalham para a promoção da marca coletiva e que cumprem as regras.
O futuro do espumante bairradino
A produção de espumantes na Bairrada regista uma quota de mercado de mais de 50%. O incremento deste produto também está associado ao projeto Baga Bairrada, fundado em 2015, com o objectivo de valorizar, demarcar e autenticar a (tinta) Baga, a casta-emblemática da região e, ao mesmo tempo, evidenciar a diferenciação dos espumantes Bairrada, no sentido de assegurar o crescimento dos chamados ‘Blanc de Noirs’.
A escassa informação sobre a produção de espumante é uma realidade actual. Por essa razão, a CVB aposta na criação urgente de um centro/plataforma baseado na aquisição de conhecimento sobre o espumante. A finalidade é fomentar a aprendizagem e definir conceitos inerentes a este tipo de vinho produzido, quer na região bairradina, quer a nível nacional.
* Presidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada. Intervenção nos 40 anos da Região Demarcada.