O pulsar do que era a vida do dia a dia normal, alterada pelas obrigatórias contingências da pandemia do Covid-19, ainda se faz sentir nos mercados municipais de Aveiro, que a par dos supermercados sustentam as necessidades básicas da população local.
No mercado de Santiago, o maior da cidade, as rotinas foram alteradas pelos procedimentos de contenção que todos foram adotando seguindo as recomendações de saúde pública, impondo restrições nas entradas, filas limitadas e maior distanciamento físico entre vendedores e clientes, alguns já não dispensam a cautela adicional das máscaras faciais.
“A vida tem de continuar, tenho uma família para alimentar e é aqui que gosto de me abastecer, conheço as pessoas, só mesmo se não puder. Temos os nossos receios, menos tempo para os outros fora de casa, mas há-de passar, o mais importante agora é a saúde”, afirma uma sexagenária antes de prosseguir o caminho, acelerando o passo com o saco de legumes e fruta na mão de regresso ao lar, ali perto, no bairro de Santiago, de onde raramente sai por estes dias de isolamento preventivo.
Dos cerca de 15 vendedores, meia dúzia, com mais idade, optaram por fazer um interregno forçado na atividade.
Com uma vida dedicada às vendas nos mercados, Álvaro Barros divide as tarefas na banca com a esposa. “As pessoas aderiram bem, temos clientes que nos conhecem, pedem as compras por telefone. Quando chegam já está tudo preparado, nós sabemos o que é costume levarem e não há problemas. Os clientes não despareceram”, conta o vendedor legumes e fruta que, ao contrário de outros sectores, como o talho, não mexeu nos preços, nem sente dificuldade na cadeia de abastecimento, “que também temos de ajudar a dar saída para se manterem a trabalhar”.
Os vendedores temem, ainda assim, um abalo pela Covid-19, que possa colocar em causa o retorno do investimento feito para arrematar as bancas na última hasta pública. “Não parece, isto fica caro, mais água e luz. Podemos encontrar rendas mais baratas fora daqui”, garante Álvaro Barros que, para já, só não teve forma de ir ao encontro de outro pedido da Câmara, além de manter as vendas. “Pediram-nos para entregar porta a porta, mas isso para nós é incomportável, infelizmente ficava caro andar por aí nas entregas”, referiu o vendedor.
No mercado José Estevão, em pleno bairro da Beira Mar, os principais clientes deixaram de ser vistos e já não desesperam pelas entregas, para não faltar o peixe na ementa quando os turistas faziam filas à porta. “O pessoal da restauração está fechado, é uma desgraça para eles e para nós também. As vendas take away dão uns trocos, é o que temos”, diz, resignado, um dos peixeiros que mantém a venda na emblemática ‘praça do peixe’.
“Planeamos ficar em funcionamento enquanto pudermos”
O mercado Manuel Firmino permanece aberto e nós estamos a trabalhar das 8:30 até às 19:00. Existe, de momento, uma porta aberta (do lado do Fórum) para que se controle o número de clientes do mercado que não poderá ultrapassar os 10.
Em relação ao atendimento, apelamos à compreensão das pessoas para que façam as suas encomendas com hora marcada para fazerem o levantamento das mesmas, de modo a ser mais fácil para todos.
Em casos excecionais (pessoas de mais idade, doentes, ou de risco) fazemos entregas ao domicílio, mas com horário muito condicionado uma vez que depois de sair do mercado vamos ainda abastecer para o dia seguinte.
É possível, também, o cliente chegar e ser atendido (um de cada vez) sem encomenda prévia, tranquilamente, uma vez que o mercado se encontra a maior parte do tempo vazio…
Planeamos ficar em funcionamento enquanto pudermos, fazendo o horário alargado de segunda a sábado das 8:30 às 19:00. As lojas e cafés estão encerradas à exceção de dois talhos. Atualmente, há ainda dois ou três operadores no interior do mercado (além de nós), nomeadamente na venda de pão (1) e também de frutas e hortícolas (1 a tempo inteiro e outros que nem sempre estão) – Rui Melo, vendedor de produtos hortícolas e frutícolas no mercado Manuel Firmino.