O arquiteto Gonçalo Canto Moniz, que trabalhou enquanto estagiário na Câmara de Aveiro, participando no projeto do Museu da Cidade, defendeu a reutilização da antiga fábrica da Vitasal, no extremo nascente do canal de S. Roque, como “centro de estudo do sal”, envolvendo a universidade local, evitando a sua demolição, como estará em vista.
A proposta, que resulta de um estudo académico de 2014 realizado por alunos do quarto ano da arquitetura da Universidade de Coimbra, foi deixada esta sexta-feira durante as ‘Jornadas de História Local e Património Documental’, este ano com o tema “Aveiro, um território de Ria”.
O edifício da Vitasal, propriedade privada, está devoluto há vários anos, por força do encerramento da empresa de higienização de sal que albergou, perspetivando-se para a zona um projeto imobiliário de funções multiplas.
“Percebemos na altura que era preciso fazer algo mais pela Vitasal e desafiei os alunos a pensarmos como pode ser um edifício que tem uma função urbana especial, fazendo, não só, um elemento estruturante do canal, mas também tentando recuperar os valores culturais e sociais que o sal sempre teve na cidade, sabendo que hoje há muitos elementos de recuperação dessa cultura”, explicou o coordenador do estudo apresentado por um dos alunos envolvidos.
“Obviamente sabemos que não é um edifício excecional, que traga multidões para visitar, mas tem qualidades arquitetónicas interessantes, únicas, e um papel humano extremamente importante”, acrescentou o arquiteto Gonçalo Canto Moniz, lamentando o abandono a que o edifício industrial foi sujeito, “um esqueleto que se vai aguentando, com uma estrutura de betão armado robusta e outra mais frágil que vai desaparecendo, mas continua com grande potencialidade de ser reabilitado”.
Os alunos contactaram as pessoas, a comunidade local, sobre a história e vivências contemporâneas à atividade da fábrica, que tem nas naves em ruínas e no edifício mais moderno imagens fortes.
A recuperação dos elementos mais significativos da Vitasal poderiam, segundo os autores do estudo, ajudar a revitalizar a zona. “Os edifícios tem uma capacidade de contribuir para a regeneração urbana, não são objetos isolados, interessa conhecer esta relação da cidade com as salinas, como ficou quando foi quebrada pelo grande viaduto”, lembrou Gonçalo Canto Moniz.
Os estudantes concluíram que a Vitasal poderia ter uma dimensão ligada à investigação e educativa da cultura do sal, integrando-se nas várias rotas da cidade, com atividades sociais, abertas à comunidade local, incluindo, por exemplo, um polo da Universidade de Aveiro, à semelhança do que acontece com a reabilitação de outras antigas fábricas existentes no país, que ganharam funções diferentes.
Discurso direto
“Interessa discutir projetos que façam sentido para a cidade, em diálogo com as comunidades. Ainda faz sentido discutir a Vitasal, sabemos que está em cima da mesa a sua demolição e substituição por outro tipo de edifícios que poderiam estar em outro sítio da cidade e este edifício, que é único e com características que tentamos evidenciar pelo seu grande potencial pode ser um elemento de relação entre a cidade e a ria. Podemos construir os hotéis e a habitação em outras áreas, sem ter de sacrificar estes edifícios que fazem parte da nossa história” – Arquiteto Gonçalo Canto Moniz.
Consultar o estudo dos finalistas de arquitetura da Universidade de Coimbra
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