Aveiro: Reflexões no dia da cidade

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Paços de concelho, Aveiro.

A comemoração do feriado municipal a 12 de maio de cada ano constitui um momento alto da nossa vida em comunidade.

Por Luís Souto de Miranda *

É dia do município e dia festivo em que a cidade se associa às celebrações da padroeira da cidade e da diocese, Santa Joana Princesa e dia de reconhecimento público pelo empenho cívico e dedicação de personalidades e instituições,as quais desde já felicito vivamente: Instituto das Telecomunicações (IT), a Pedro Machado, a Armando Regala, a Diogo Rego e a Hernâni Santos.

Santa Joana princesa foi uma das personalidades que mais marcou a história e o destino de Aveiro ao escolher para o seu recolhimento a simplicidade e humildade do convento de Jesus implantado numa então modesta vila e dando exemplos de caridade e apoio aos mais necessitados – a solidariedade é um valor que mantém toda a atualidade.

Afirmar a centralidade de Aveiro e recuperar a ideia distrital

Ao longo dos anos muitos nomes deram o seu contributo para a afirmação de Aveiro: recordemos a figura ímpar de José Estêvão – empenhado liberal que muito se bateu contra o poder absoluto deixando um legado indelével na história do Parlamento em Portugal. Foi graças ao empenho de José Estevão que Aveiro afirmou a sua centralidade como capital distrital. José Estêvão lutou por grandes causas aveirenses: da melhoria da barra portuária; ao Liceu, passando pelo estratégico caminho de ferro desviado no seu traçado de forma a passar por Aveiro.

Infelizmente nos últimos anos tem-se assistido a um deficit da representação ou se quisermos do “bom lobby “dos interesses de Aveiro no parlamento e nos diferentes níveis do governo central. Talvez isso explique os sucessivos atrasos na resolução de questões como o hospital, a antiga lota, as portagens, o abandono dos bairros sociais a cargo do IRU, o adiamento do previsto edifício central para os tribunais, entre muitos outros. Se calhar faz falta a figura do governador civil como interlocutor priveligiado junto do governo.
A afirmação de Aveiro com polo regional é uma questão que se volta a colocar com grande pertinência. Somos “capital de distrito”, as populações, regra geral sentem-se como parte do distrito de Aveiro mas os distritos, mal ou bem, estão hoje fora do ordenamento territorial.

Somos parte da “região de Aveiro” – materializada pela Comunidade Intermunicipal (CIRA), da qual não fazem parte concelhos com a importância de Espinho, Feira, Oliveira de Azeméis ou Vale de cambra e Arouca, todos antigos integrantes do “distrito de Aveiro” e hoje parte da “Área Metropolitana do Porto”. Será do interesse de Aveiro cortarmos as tradicionais ligações aos dinâmicos concelhos a norte e por estes a todo o potencial da Galiza, atenta a expansão do Metro do Porto e a prevista futura Ligação Ferroviária de Alta Velocidade Porto-Vigo?

Ainda que o Estado nos imponha a arrumação das NUT : NUT II ( pertencemos ao “centro” e não ao norte) e NUT III (região de Aveiro, sem os concelhos a norte do distrito), talvez valha a pena não deixar cair o potencial do distrito de Aveiro e realçarmos e aproveitarmos essa realidade que coloca Aveiro numa centralidade da maior relevância e ligada, por laços históricos que seja, a concelhos dos mais dinâmicos a nível nacional.
Não é do interesse de Aveiro embarcar no desmantelamento do que resta do distrito, não é hoje como não o foi no passado. Não é do interesse de Aveiro desperdiçar toda a rede de base distrital já com forte implantação na sociedade civil e em estruturas delegadas da administração central , rede essa que realça a importância e a centralidade de Aveiro como capital distrital com todas as consequências políticas, económicas e sociais daí resultantes. Da própria organização dos círculos eleitorais e das estruturas dos Partidos Políticos, das associações desportivas, às associações empresariais, aos sindicatos e ordens profissionais, do ensino aos organismos do Estado incluindo comandos policiais, vários são os exemplos associados a uma ideia e geografia distrital que, sem prejuízo de outras considerações de planeamento, interessa a Aveiro preservar.

Aveiro, ao seu presente e ao seu futuro: ser uma capital distrital e com fortes ligações ao norte dinâmico e jovem é uma Força; como são Forças a nossa Ria e o Porto de Aveiro; a Universidade, o tecido empresarial dinâmico e o potencial do distrito e da ligação a toda a dinâmica do norte e do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular.

A qualidade de vida está, também, nos detalhes

A segunda ideia que gostaria de partilhar tem a ver com a qualidade de vida em Aveiro.

Inauguraremos a requalificação da Avenida Lourenço Peixinho, uma obra marcante e que, apesar de uma normal e democrática discussão pública, hoje a maior parte dos aveirenses reconhecem como mais airosa, mais amiga da fruição pedonal e do desenvolvimento económico.
O Rossio, outra obra que marcará sem dúvida o atual ciclo político, avança a passos largos e como na avenida, certamente após a tempestade virá a bonança da constatação de que Aveiro passará a ter um espaço central efetivamente utilizado com segurança e com uma beleza só permitida pela restrição de estacionamentos à superfície.

Concluídas estão as novas vias de passeio domingueiro, a Rua da Pega, o Cais do Sal, reforçando e recuperando claramente a relação dos aveirenses com a Ria, processo esse que contara já com importantes contributos anteriores que nos trouxeram de volta os moliceiros que hoje dão colorido e atratividade ao centro.

Tem sido vários os exemplos, muito fruto de uma eficaz política de maximização das oportunidades dos fundos comunitários e os anúncios das ansiadas estruturas desportivas como o pavilhão-oficina ou da piscina municipal ou da tão esperada via Aveiro-Águeda, perspetivam a continuação do bom ritmo no futuro próximo.

A todo este afã urbanístico podemos melhorias na qualidade de vida, mas o desafio que se começa a colocar com cada vez maior premência e para o qual a autarquia em primeiro lugar mas toda a sociedade civil, as suas instituições e os cidadãos são chamados à colação, é o desafio, aparentemente pouco deslumbrante mas verdadeiramente estrutural da “gestão das pequenas coisas” – ter capacidade para manter as novas realidades em bom estado de funcionamento, não descurar aquilo que foram os legados que a história nos deixou na monumentalidade e no património; cuidar do espaço público com exigências de qualidade, para residentes e visitantes; promover o verde e a biodiversidade e os pequenos espaços de bairro que incentivem o encontro, a prática informal de desportos e laser; empenharmo-nos por uma cidade e concelho socialmente coeso e culturalmente inclusivo. Tudo isto, o desafio dos detalhes, fará a diferença na nossa qualidade de vida e naquilo que todos desejamos: que Aveiro seja uma terra de gente que se sente feliz.

* Presidente da Assembleia Municipal de Aveiro, discurso na sessão solene do feriado municipal (12 de maio de 2023).

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