O preço dos passeios de barco moliceiro nos canais urbanos de Aveiro, uma das principais atrações turísticas da cidade, que custa 10 euros por adulto, deverá ter “um aumento de dois dígitos” em 2020.
Estimativa apontada por Virgílio Porto, presidente da associação Laguna de Aveiro, que representa operadores marítimo-turísticos, na sequência da hasta pública para atribuição das licenças de 2020 a 2025 que rendeu cerca de 5,4 milhões de euros à autarquia.
“Isto foi de loucos, fizemos as nossas contas, ficámos com o que podemos aguentar. E nós somos das empresas com mais lotação, mas cada um avalia o que pode fazer”, comentou José Soares, da empresa Onda Colossal que há quatro anos ficou com os três lugares junto à capitania por 180.500 euros, o valor mais alto da hasta pública de então. A mesma posição foi agora arrematada por 800 mil euros pelo grupo Cale de Oiro.
A Onda Colossal vai ficar com dois lugares no canal central, junto ao Rossio, que arrematou por 454 mil euros. Um esforço que irá refletir-se nos preços dos passeios. “Têm de aumentar como é óbvio, para 12, 13 euros ou mais, caso contrário não há forma de pagar os cais”, referiu o operador que investiu também na requalificação da marinha da Noerinha para produção de sal e visitas turísticas.
Virgílio Porto, do grupo Aveiro Emotions, assumiu que “pagar esta pequena grande fortuna” vai obrigar os operadores “a prestar um melhor serviço, de maior qualidade, de forma a valorizar o seu produto” e, assim, justificar a subida do preço.
“O mercado não tem capacidade para crescer muito mais, o crescimento a dois dígitos de outros anos não se repetirá. Temos de atender o poder de compra dos nossos principais clientes, que são nacionais, condicionados pelo seu poder de compra. Mas certamente haverá uma atualização relevante em termos percentuais, acima dos dois digitos, para forma a compensar o grande investimento das empresas”, disse o gestor que preside à associação Laguna, que é formada por vários operadores locais.
A subida da licitação dos lugares disponíveis foi justificada pelo interesse de alguns operadores em se reposicionarem nos cais existentes. “Não entraram novos, os que estavam continuam. Mudaram de lugar”, explicou Virgílio Porto que pediu, no final da hasta pública, maior empenho camarário, para que utilize “parte substancial” do dinheiro a angariar pelas licenças “na promoção da cidade em termos turísticos, em concreto, o que tem sido feito com valores irrisórios”.
As obras de requalificação do jardim do Rossio irão afectar parte dos cais, estando previsto a relocalização dos barcos em lugares a definir, sem indemnizações. “Espero que haja bom senso da Câmara, a respeitar e acautelar o nosso investimento, são centenas de postos de trabalho, é o que pedimos e sem surpresas”, concluiu Virgílio Porto.
“Não estou surpreendido, estava dentro das minhas expetativas” – Ribau Esteves
“Sinceramente não é uma surpresa. É bom termos em consideração que este negócio em dez anos, grosso modo, cresceu 10 vezes.
O que nós decidimos foi ir para esta hasta pública com o valor que viemos da primeira. Com a base para o segundo concurso do primeiro, o tal 1,2 milhões. E o mercado que decida. Estou muito contente, foi a decisão certa e correta. O mercado quis valorizar 4,3 vezes. É normal, não estou surpreendido, estava dentro das minhas expetativas. O negócio multiplicou por dez a faturação, parece equilibrado, vem ganhar posição para os próximos anos. Queremos saudar as empresas. Vamos trabalhar para termos cinco bons anos, crescer em qualidade e notoriedade deste produto turístico tão importante e naturalmente remunerarem o investimento que vão fazer”.
“Claramente assumimos o moliceiro nos canais urbanos como uma peça base da nossa imagem e discurso promocional, tem corrido mundo, com muito trabalho dos operadores, do Turismo Centro, até somos criticados por alguns que dizem que o turismo em Aveiro é só passeio de moliceiro. Fazemos uma promoção permanente dos eventos ao longo do ano. É um quadro de eventos cada um deles uma ação promocional com muito investimento, veja-se o caso da introdução dos motores elétricos que teve impacto nas televisões. Teremos sempre um lugar especial para os operadores marítimo turísticos”.
“Há cinco anos, o tarifário era de 4 euros por pessoa, agora é 10. Não quisemos mandar nessa matéria. As empresas estão cá para ganharem dinheiro. Souberam modelar a relação entre preço e vontade do consumidor. Não tenho nenhum medo, somos um município em que o motor principal é privado. Se houver um despiste grave, estaremos atentos. Correu bem e vai continuar a correr bem”
“As obras em qualquer zona de cidade têm incomodidade, tentamos gerir o melhor possível, até para que as pessoas possam acompanhar a obra. A obra do Rossio não vai criar problemas financeiros à volta dela. Teremos uma operação o mais equilibrada possível. No final queremos ganhar uma cidade muito mais atrativa e qualificada, para quem cá venha possa trazer mais gente dos seus contactos” – Presidente da Câmara de Aveiro.
Artigo relacionado
Aveiro: Hasta pública rende 5,4 milhões de euros, quase cinco vezes mais do que em 2014