A mulher de 57 anos acusada de assassinar brutalmente o marido, de 60 anos, na cidade de Aveiro, a 4 agosto do ano passado, com recurso a pancadas de ancinho e esfaqueamentos, num total de 85 ferimentos, muito dos quais perfurantes, admitiu a autoria de agressões, embora enquadrando-as em contexto de violência doméstica de que seria vítima “todos os dias”, não a deixando descansar “há várias noites”.
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“A confusão começou por ele”, ressalvou no início do julgamento por crime homicídio qualificado, esta terça-feira, no Tribunal de Aveiro, dando uma versão distinta da que consta na acusação do Ministério Público (MP), que imputa à arguida a iniciativa dos atos violentos.
O desentendimento na fatídica noite, após o casal ter ido ver um jogo de futebol num café próximo, começou por uma discussão quando estavam no quarto de dormir já deitados.
Nas declarações ao tribunal, a mulher garantiu que o marido saiu da cama exaltado e regressou munido de uma faca. “Irritou-se e deu-me uma facada na coxa. Puxou-me o cabelo e disse que me matava”, relatou.
Seguiram-se agressões mútuas. “Vi sangue e fiquei desnorteada. Agarrei no ancinho e sei que houve uma luta. Nem sei como, não sou violenta, sou muito passiva e reservada”, disse a arguida, que justificou ter voltado à cama e deixado o marido prostrado no chão por pensar que ele estivesse “a fazer fitas”.
Assim, só mais tarde teve “consciência” que estava morto e enviou uma mensagem a uma irmã a relatar o sucedido.
Apenas na tarde de 5 de agosto foi dado o alerta de possível suicídio no apartamento do casal.
A mulher confirmou que depois das agressões fatais ainda saiu à rua para comprar cigarros.
“Não sei como consegui fazer aquilo”, comentou ao ser confrontada com a violência das múltiplas agressões infligidas em todo o corpo, primeiro com pancadas de ancinho que estava na varanda e, depois, esfaqueamentos perfurantes, atingindo a cabeça, o pescoço, tórax e membros.
Perante a confissão da essencialidade dos factos no tocante à autoria de agressões, a Procuradora do MP disse faltar clarificar a “dinâmica” do crime, uma vez que surgem agora diferenças entre o que consta na acusação e as declarações feitas agora em julgamento, acabando por contradizer o que arguida terá dito após a detenção. O tribunal decidiu, por isso, ouvir a gravação do primeiro interrogatório judicial.
Segundo o MP, a casal deitou-se a ver televisão. O marido levantou-se várias vezes para fumar e começaram a discutir, incomodados um com o outro. O homem terá puxado o cabelo da mulher e empurrou-a. Esta, exaltada, levantou-se, dirigiu-se à cozinha e regressou, ensaiando uma tentativa de esfaqueamento.
O marido ainda tirou a faca e quis sair do apartamento, mas foi puxado para o interior. Tentou pedir ajuda na varanda, onde terá sido surpreendido pela esposa, que muniu-se do ancinho e desferiu-lhe pancadas na cabeça. Seguiram-se agressões mútuas. O homem terá ficado deitado na cama, onde a mulher voltou com outra faca e deferiu mais golpes, incluindo na garganta. O marido tentou, novamente, fugir, mas caiu inanimado no corredor, onde voltaria a ser esfaqueado e faleceu.
A antiga auxiliar escolar, que tem uma licenciatura em geografia, e a vítima, antigo motorista de autocarros, estavam juntos desde julho de 2019, tendo casado em 2020. Segundo a acusação, o relacionamento do casal foi sempre pautado por conflitos, tendo o falecido chegado a ser acusado num processo por crime de violência doméstico, que não chegou, todavia, a julgamento.
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