O lar da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro viveu uma sexta-feira um pouco mais agitada do que habitual, mas por bons motivos. Em especial para Maria Conceição Surrador, que passou o dia a ouvir “parabéns” e votos de “muitas felicidades” pelo seu centenário.
Há 23 anos que esta utente natural da freguesia de Ribafeita, no distrito de Viseu, faz do complexo da Moita a sua casa, continuando ativa e apenas socorrendo-se da cadeira de rodas para não ser traída pela falta de equilíbrio.
No aniversário há direito a decidir a ementa de almoço e mandou vir um ‘bitoque’, que não faz parte habitualmente da dieta. Recebeu prendas e soprou com fôlego as velas do obrigatório ‘bolo de anos’ distribuído em fatias, primeiramente, pelo coro que entoou ‘os parabéns a você’.
Nascida no ano em que a gripe espanhola terminou, Conceição viveu para assistir muito de perto a uma pandemia que também ficará para a história. Esta sexta-feira, no entanto, não houve lamentos pelas perdas e receios dos últimos meses.
“Sinto-me muito bem. Quero agradecer a todos. Obrigado, obrigado. Correu muito bem, graças a Deus”, disse pelo telefone ao final da tarde sem dar mostras de cansaço.
Mãe de seis filhos (três homens e três mulheres), a centenária passou muitos anos em Angola. Aquando do regresso do ultramar veio para Aveiro, onde o falecido marido tinha familiares. “A minha vida ? Era trabalhar no campo, a tratar dos animais e a criar os filhos. Foi isso”, lembrou.
A aniversariante, atualmente a única pessoa centenária da instituição, passou o resto da tarde ocupada em vídeo chamadas com alguns dos filhos, que ligaram de vários pontos do país, e, presencialmente, separada apenas pelo vidro da sala de espera, juntamente com outros familiares, que foram ao seu encontro.
“Andou bem disposta, sempre animada, é uma pessoa que mantém alguma autonomia, faz as suas rotinas, gosta muito de tratar das suas plantas” contou o enfermeiro-diretor do lar aveirense, Óscar Norelho.
O complexo da Moita viveu dias muito dificéis devido à pandemia, com casos de infeção pelo Covid-19 com perdas de vidas entre utentes (25). Agora procura-se recuperar a vida normal, tanto quanto possível. “Quisemos dar um alento especial às pessoas com esta festinha, no meio deste contexto é possível momentos felizes, que devem ser celebrados”, sublinhou aquele responsável.