Aveiro: Fazer obra: sim ou não?

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Jardim do Rossio, Aveiro (Foto Pedro Cruz).
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A pergunta parece descabida, contudo tem uma pertinência enorme. Fazer obra é, para muitos, a única finalidade de uma câmara municipal.

Por João Costa *

Quem hoje circula em Aveiro, seja a pé ou de automóvel, fica ciente do estado de alvoroço que se encontra a cidade de Aveiro. Fazer obra é importante, evidentemente, desde que esta seja feita de forma estruturada e pertinente. Aveiro tem cometido erros no planeamento das obras públicas, quer erros minuciosos, quer erros estruturais.

Todos concordarão que qualquer mudança na cidade, deve causar o mínimo de congestionamento na vida dos munícipes, contudo não é o que tem acontecido. Aquando de uma intervenção numa via, as suas adjacentes devem permanecer desocupadas a fim de mitigar ao máximo os problemas causados pelo bloqueio da via. Concretamente, ao mesmo tempo que a Avenida Europa é intervencionada, simultaneamente, intervém-se a rua da Alegria (em Mataduços), que é uma paralela a esta Avenida.

O caso mais insólito aconteceu na rua Eng. Silvério Pereira da Silva: após duas semanas de terem pintado a novo as marcações na estrada, tiveram que apagá-las e refazê-las devido ao duplo sentido que a rua possui agora, por consequência das obras na Dr. Lourenço Peixinho. Estes contratempos devem ser corrigidos. O grande problema é que se replicam e se extrapolam para os erros estruturais.

Nós, enquanto comunidade aveirense, deveríamos fazer uma reflexão sobre a cidade que queremos para o futuro, antecipando os problemas que enfrentaremos. Reflexão essa que não aconteceu, ou não deixaram acontecer, basta olhar para os exemplos da Avenida Dr. Lourenço Peixinho, e para o jardim do Rossio. Tendo em conta que estamos a falar do epicentro da cidade, seria de esperar uma grande ponderação na elaboração destes projetos, existindo um diálogo profícuo com as diversas instituições, presentes no município, dispondo todas elas de um elevado conhecimento empírico e técnico.

O caso mais gritante é, sem dúvida, o Rossio. Não se percebe como é que um município que diz não querer incrementar o número de veículos na cidade, pretende, ainda assim, construir um parque subterrâneo no coração de Aveiro, contrariando a vontade dos moradores e dos comerciantes. Como se estes argumentos não fossem fortes o suficiente, temos ainda presentes todas as questões ambientais. Passando pelo aumento do nível médio das águas do mar, o aumento das emissões de CO2 libertadas para atmosfera, ou ainda pelo dispêndio elevadíssimo da manutenção e conservação do parque. Por outro lado, temos uma Avenida que – embora necessitasse urgentemente de uma requalificação – está a ser completamente descaracterizada, desprezando a história da cidade e criando um vazio na memória do município.

Sempre que projetamos uma obra devemos fazer três perguntas muito simples: porquê, para quê, para quem? Pressinto que esta reflexão não aconteceu em nenhuma das obras acima referidas. Aveiro tem de olhar para as alterações climáticas não como um problema, mas sim como uma oportunidade. Uma oportunidade para se tornar mais verde, mais sustentável e mais saudável.

Que bom seria viver numa cidade onde houvesse, de facto, ciclovias ao longo de todo o município. Onde se desse primazia ao peão. Onde houvesse sensibilidade ambiental. Onde houvesse uma boa oferta de transportes públicos. Que bom seria ter uma Avenida (como tínhamos) com um separador central, contendo árvores em boulevard e bancos de jardim; permitindo às pessoas, não só a circulação pela principal artéria da cidade, como também a sua “fixação”, possibilitando uma inovadora dinâmica comercial ao longo de todo o espaço envolvente.

Respondendo à pergunta por mim levantada inicialmente, as obras são sim para serem feitas. Realizadas sim; com rigor, competência, responsabilidade, respeito, sustentadas e sustentáveis.

* Vice-Presidente da Juventude Socialista da Concelhia de Aveiro.

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