A Sociedade Portuguesa de Cerâmica e Vidro (SPCV) fica definida no primeiro artigo dos seus Estatutos: “…é uma associação portuguesa sem fins lucrativos que tem por objetivo promover a cerâmica e o vidro nos planos científico, tecnológico, artístico, didático e cultural.”
Por José Carlos Almeida *
Foi no dia 12 de abril de 1980, no anfiteatro do então Departamento de Engenharia Cerâmica e Vidro (DECV) da Universidade de Aveiro (UA), que um grupo de técnicos das indústrias do vidro, do refratário, do barro vermelho e do barro branco, para além de representantes do Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial e do DECV, reuniu-se para discutir a criação daquilo que viria a ser a SPCV.
Na reunião ficariam definidos os objetivos da mesma, e o compromisso para uma nova reunião, alargada a todos os interessados (industriais, técnicos, académicos), que acabaria por se realizar no dia 14 de maio do mesmo ano.
O ano de 1980 marca também o nascimento da Associação de Apoio à Cerâmica, associação de empresas que se constituiu para apoiar as atividades de investigação/desenvolvimento industrial, e que apoiou, por exemplo, a aquisição do primeiro microscópio eletrónico de varrimento da Universidade de Aveiro.
Para trás, e apenas quatro anos antes, fica o nascimento, na ainda jovem Universidade de Aveiro, do Departamento de Engenharia Cerâmica e Vidro, com o intuito de fornecer técnicos a uma indústria que estava em grande expansão.
Também antes, em 1979, tem lugar em Aveiro o primeiro Congresso Luso-Espanhol de Cerâmica, fruto dos excelentes contactos com a congénere espanhola Sociedade Española de Cerámica y Vidrio (SECV), e que se voltariam a realizar em 1984 (Figueira da Foz), 1988 (Leiria), 2011 (Aveiro) e 2018 (Barcelona).
Com a adesão à União Europeia em 1 de janeiro de 1986, o país assiste à um enorme incremento (cerca de três vezes) do valor das suas exportações de materiais cerâmicos, com uma contribuição crescente das indústrias de barro branco. Em maio de 1987 nasce a European Ceramic Society (ECerS), e em 1988 a SPCV é aceite como membro.
Em Junho de 1989 é publicado o primeiro número do Journal of the European Ceramic Society, editado pela Elsevier, e cujas receitas darão origem ao Fundo JECS Trust (fundo de apoio às iniciativas da ECerS).
Toda uma conjuntura propicia um fervilhar de ideias e de iniciativas da SPCV. Assim seguirá a década de 80 e a seguinte, com workshops sectoriais (e.g., Luso 1988) e Jornadas Técnicas de Cerâmica e Vidro (e.g., Luso 1995), os congressos conjuntos com a SECV (já referidos), e o nascimento da Revista da Sociedade Portuguesa de Cerâmica e Vidro em outubro de 1982. A Revista servirá de fórum de discussão, de apresentação de temas tecnológicos e científicos, e de trabalhos académicos.
Em maio de 1990, em Vilamoura, realiza-se o 1º Congresso de Cerâmica Portuguesa, que junta, para além da SPCV, as três associações setoriais de então: a Associação Portuguesa de Cerâmica, a Associação Nacional dos Industriais do Barro Vermelho, e a Associação Portuguesa dos Industriais da Cerâmica da Construção.
Desse congresso sairão as bases de criação da APICER – Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria (1996).
Os anos 90 assistirão ao início da reestruturação do setor, continuando pelo primeiro decénio do século XXI até a crise financeira de 2008. Consequentemente, acaba por ser um período de alguma inatividade da SPCV.
A segunda década irá marcar uma nova etapa. Em 2011, em Aveiro, tem lugar o IV Congresso Luso-Espanhol de Cerâmica e Vidro, com uma grande participação dos meios académicos e industriais.
Em 2015 nasce o website da SPCV e é apresentado o Prémio Faria Frasco (hoje já na sua quarta edição).
O prémio, que nasce como uma homenagem ao primeiro Presidente da SPCV, o Engenheiro Alberto Fernandes Faria Frasco, visa incentivar a produção de projetos originais e inovadores, desenvolvidos em Portugal, por jovens investigadores, nas áreas científicas, tecnológicas, do design, ou da gestão, e que potencialmente possam contribuir para as indústrias da cerâmica e/ou do vidro.
Em 2017, em Aveiro, tem lugar o Primeiro Encontro de Jovens Investigadores de Cerâmica e Vidro, e a participação da SPCV na XIII Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro.
Durante a Bienal, e para além de uma exposição sobre as etapas de produção de uma peça cerâmica, tem lugar um seminário sobre Novas Tecnologias de Decoração. Nesse mesmo ano a SPCV participa nas Jornadas Técnicas de Cerâmica, em Coimbra, agora organizadas pelo Centro Tecnológico de Cerâmica e Vidro (CTCV) e pela APICER.
Em 2018 a SPCV é convidada pela SECV para a organização de outro congresso conjunto, desta vez em Barcelona, contando com a participação de jovens investigadores de várias instituições.
Em 2019, também em Aveiro, a SPCV organiza a VII Conferência Internacional de Conformação de Materiais Cerâmicos (SHAPING 7), uma Summer School sobre Reologia Aplicada à Manufatura Aditiva, ambas em parceria com a ECerS, e um seminário sobre Novas Tecnologias de Conformação em Cerâmica; os três eventos numa única semana, e com a participação de estudantes, técnicos e académicos de vários países. Participa na XIV Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro e nas Jornadas Técnicas de Cerâmica.
Atualmente a SPCV é Membro Honorário da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica, tem assento no Conselho Consultivo do CTCV, e no Conselho Executivo Permanente da ECerS. Nestes últimos cinco anos verifica-se um novo incremento de atividade do setor, com valores históricos ao nível da exportação, e do posicionamento do país no panorama internacional.
Entretanto, novos desafios tecnológicos são colocados com as normas REACH e com o European Green Deal. Cabe-nos a nós, SPCV, continuar a servir de charneira entre os vários atores setoriais (academia, centros tecnológicos e indústria), servindo de forma altruísta.
Para tal, precisamos da contribuição e do empenho de todos que, de alguma forma, estejam ligados à cerâmica e ao vidro em Portugal. 2020 seria o ano de realização de uma grande comemoração dos 40 anos da SPCV.
Infelizmente, este momento de má memória para a humanidade, não o permitirá. Teremos de aguardar pelos próximos meses, na esperança de nos reunirmos com todos os nossos membros e amigos, para um grande evento. Fica a promessa.
Este texto pretende ser uma pequena homenagem às mulheres e homens que, durante estes quarenta anos, contribuíram de alguma forma para a Sociedade Portuguesa de Cerâmica e Vidro.
Em nome da SPCV, o nosso muito obrigado.
* Presidente da Sociedade Portuguesa de Cerâmica e Vidro (SPCV). Título adaptado de artigo escrito para a revista Keramica.