Aveiro / CHBV: Ordem dos Médicos reclama mais investimento físico e humano / Administração garante “muitas obras” e vagas a concurso

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Hospital de Aveiro.

Falta de espaço, instalações degradadas, e escassez de recursos humanos, nomeadamente ausência de médicos que deixam equipas no limiar dos serviços mínimos. Este o panorama traçado pelo bastonário da Ordem dos Médicos (OM) após visitar o Hospital de Aveiro, sede do Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV), ao cumprir o segundo dia de um périplo que irá percorrer o país.

A administração, na resposta, anunciou a contratação de mais médicos e garantiu que está a tratar da ampliação das instalações no âmbito do acordo celebrado com a autarquia local, que prevê a cedência dos terrenos dos antigos armazéns gerais e do estádio Mário Duarte, a demolir.

No final da visita, o bastonário Miguel Rodrigues começou por referir a necessidade de “um movimento cívico” em torno de um hospital novo na cidade de Aveiro, que tem sido “tradicionalmente esquecida pela administração central, merecendo que se invista mais”.

Depois, fez eco dos problemas, já conhecidos de anteriores tomadas de posição, devido à falta de médicos. Continuará a fazer-se sentir “em muitas especialidades” mas especialmente na medicina interna ou para “assegurar” o Serviço de Urgência (SU). A cirurgia geral “tem sofrido muito”, onde os 11 cirurgiões disponíveis, metade do quadro, estão sem mãos a medir para assegurar 14 turnos semanais. Devem estar presentes três médicos cirurgiões, a cada turno de 12 horas, mas não raro trabalham dois com um interno e nem sempre. “Em vários dias, não existem chefias de equipa”, denunciou ainda o responsável.

As consequências da falta de cirurgiões já se fazem notar: desde há dois anos as cirurgias em Aveiro baixaram 11 por cento nas programadas e 14 por centro em ambulatório.

“São claramente insuficientes e o hospital tem de recorrer muitas vezes a serviços externos, o que gera uma dinâmica negativa, muitas vezes com a equipa tipo desfalcada, numa especialidade absolutamente essencial num serviço de urgência médico-cirúrgico”, alertou Miguel Rodrigues, adiantando que em Aveiro, à semelhança de outras unidades, há doentes que ficam à espera no SU, em macas, por falta de camas no internamento,

Em Aveiro, a OM aponta para a falta de 60 médicos de várias especialidades, a avaliar pelos custos de ordens extraordinárias e recursos a tarefeiros. O preenchimento das vagas enfrentará já reticências de médicos que não estão dispostos a trabalhar com as limitações existentes. O que obriga os utentes a terem de recorrer a hospitais centrais, nomeadamente Coimbra.

Pela positiva, Miguel Rodrigues, destacou “a elevada qualidade” dos médicos do hospital, apoiados pelo restante pessoal – “uns heróis, mesmo sem terem as condições adequadas” – e a avaliação satisfatória de “muitos médicos internos” que escolheram o CHBV para receber formação.

A OM lamentou, contudo, que Aveiro continue a não dispor de um laboratório de hemodinâmica que permita identificar os doentes com enfartes de miocárdio. Os exemplos vão acontecendo, com mais um caso recente, de um profissional de saúde em Estarreja. Feito o diagnóstico, faleceu no tempo de transporte para Coimbra. “Uma população de 350 mil habitantes tem de ter um laboratório de hemodinâmica”, insistiu o bastonário.

Aveiro também não tem um laboratório de ressonância magnética, que é fundamental na imagiologia e radiologia. “São estes pequenos pormenores que fazem a diferença e que não têm sido tidos em conta por quem tem responsabilidade políticas”, referiu Miguel Rodrigues.

“Não temos evidência de serviço nenhum em rutura”

Margarida França, presidente do Conselho de Administração, negou que não se cumpram serviços mínimos ou que existam recusas de médicos em assumirem chefias de equipa na urgências ou situações de rutura.

A responsável assumiu os problemas de instalações (“estamos bastante apertados”), disse que existe já terreno para ampliação para os terrenos municipais contíguos (o estudo funcional da nova unidade de ambulatório deverá ficar pronto depois do Verão) e decorrem “muitas obras” de requalificação “por todo o lado” em serviços que precisavam de ser melhorados, infraestruturas e a retirada de amianto, “sem esquecer Estarreja e Águeda”.

Discurso direto

“Infelizmente temos tido vagas não preenchidas, temos mais três vagas para cirurgiões no concurso de medicina interna, temos expetativas que sejam preenchidas. As recusas dos chefes de urgência, isso é do passado, com este CA não aconteceu, estamos a trabalhar muito bem em equipa, em ambiente fantástico, acreditamos que podemos melhorar, temos de melhorar. Temos alguns turnos que não conseguimos preencher mesmo recorrendo à prestação de serviços, por isso pedimos três vagas que nos foram atribuídas. Não é serviços mínimos, o ideal seria ter os três cirurgiões em permanência e vamos conseguir agora com este concurso. E no concurso de Setembro vamos fazer um ponto de situação, há que satisfazer todas as especialidades. Não temos evidência de serviço nenhum em rutura.
Temos apenas duas especialidades com lista de espera mais alargada, em áreas muito específicas, como a hematologia e reumatologia, em que o hospital se quer especializar. Demora o seu tempo. Estamos a apostar na formação de médicos em áreas muito específicas, cuidados intensivos e cardiologia. Isto tem de ser preparado.
Necessidade de 60 médicos ? Isso não está contemplado no mapa pessoal. As carências neste momento serão as 12 vagas a concurso, vamos pedir mais em setembro, são sobretudo de cirurgia, medicina, urologia” – Margarida França, presidente do CA do CHBV.

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