Esta semana, Aveiro ficou a saber que uma das suas mais emblemáticas salas, Cine-Teatro Avenida, vai encerrar portas.
Este artigo é publicado por NotíciasdeAveiro.pt no âmbito do espaço de opinião mensal disponibilizado aos partidos com representação na Assembleia Municipal de Aveiro, que foram convidados a ocuparem com tema livre a partir do mês de maio.
Por João Moniz *
Segundo o que foi transmitido à imprensa, o atual proprietário do prédio prevê uma operação imobiliária para o edifício, privando assim as gentes do município de uma estrutura cultural fundamental em Aveiro.
O Cine-Teatro Avenida é um património histórico da cidade. Em abril de 1973, acolheu o III Congresso da Oposição Democrática, etapa fundamental para a derrota do regime fascista do Estado Novo um ano depois. Hoje em dia, este mesmo espaço desempenha um papel fulcral de divulgação cultural e de formação de públicos no município. Esta história, identidade e função social devem ser respeitadas e valorizadas: a autarquia deveria agilizar todos os esforços para estudar formas de classificação e proteção do património e do legado do Cine -Teatro Avenida.
Esta perda enorme para o município, é para Ribau Esteves, o mercado a funcionar: “há um destino novo para o edifício e o proprietário tem esse direito”. O que o líder da autarquia esconde é que têm responsabilidades diretas na criação das condições que levaram a este desfecho.
Há muito que o Bloco tem caracterizado a política municipal em curso como uma em que o investimento no espaço público, sem qualquer intervenção ou regulação no edificado, apenas beneficia um punhado de gente ligada ao imobiliário e à grande hotelaria.
O resultado está à vista de todos que necessitam de aceder a habitação: a subida drástica dos preços, expulsão do centro da cidade das pessoas com menores rendimentos, pressão enorme noutras atividades económicas como a cultura e o comércio tradicional. Os senhores do setor imobiliário agradecem as benesses.
Não deixa de ser ilustrador, que este é o mesmo Ribau Esteves que no passado ameaçou vetar a construção de habitação a preços controlados em Aveiro nos antigos terrenos na Luzostela. Hoje, perante a possibilidade da destruição de um património histórico para Aveiro, Ribau Esteves estendeu o tapete vermelho. É o mercado a funcionar.
Que não exista qualquer dúvida, esta é uma perda enorme para o município e uma ameaça à viabilidade da candidatura Aveirense a capital Europeia da cultura.
Este encerramento mostra bem que a candidatura aveirense a capital europeia da cultura tem falhas enormes em termos de produção local e da salvaguarda e promoção dos agentes e estruturas culturais na região. A cultura não pode ser apenas a compra de espetáculos e a promoção do espaço público. São necessárias políticas públicas que promovam a produção local, que tragam produção de outros locais e que formem públicos. O Cine-Teatro Avenida ajudava a cumprir essa função essencial.
Onde hoje está cultura e património, amanhã provavelmente estará mais um hotel ou mais um conjunto de T1s e T0s a preços incomportáveis para a maioria dos que vivem do seu salário. É o mercado a funcionar.
* Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal de Aveiro.
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