Aveiro / Ampliação do Hospital: Apelo a um esclarecimento público que tarda…

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CHBV (Hospital de Aveiro).
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Não é precipitando decisões – mais uma vez; resolvendo sem projeto e sem plano – outra vez; fazendo tudo desconsiderando todos – repetidamente, que tais instituições cumprem o seu papel, se engrandecem e credibilizam quem as governa.

Por Pompílio Souto *

Reconheço a indispensabilidade de salvaguardar o bom nome e apreço público pelas pessoas e instituições a quem dirijo esta carta: José Ribau Esteves, Presidente da Câmara Municipal de Aveiro; Paulo Jorge Ferreira, Reitor da Universidade de Aveiro e Margarida França, Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Baixo Vouga.

1. Ao que parece estes responsáveis e entidades estarão envolvidos na decisão de, por via de uma ampliação do Hospital existente, fixar o Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV) à ilharga da Avenida da Universidade, associando-lhe um Centro Clínico Académico da UA (CCA.UA) e assim criando o que eu chamaria de um novo “Complexo Hospitalar”.

Esta é uma iniciativa inegavelmente controversa.

Ora, quer pelas implicações que as novas tendências do “inovar em Bem-estar e Saúde” suscitam numa iniciativa desta natureza, quer pela dimensão e custo dessa operação, quer, finalmente, pelos impactos e exigências que a localização desse Complexo pressupõem, o que se pretende fazer haveria de ser incontroverso em todos os domínios:

– Incontroverso, porque é científica e tecnicamente bem sustentado; incontroverso, porque conta com apoios institucionais consistentes e é publicamente assumido por uma maioria partidária diversificada e expressiva; incontroverso, finalmente, porque é bem conhecido dos cidadãos e (preferencialmente) conta com o seu apoio.

2. Tenho consciência da imperiosidade de novas instalações para doentes e equipamentos no hospital que temos e que deixámos chegar ao mau estado em que está. Sei que os profissionais que lá trabalham precisam de condições que não têm e de perspetivas aliciantes para o que eles, outros, e todos nós ambicionamos que aí se faça.

Reconheço que a Universidade carece de novas áreas de trabalho e instalações para as Ciências Médicas. Mas também sei que não é precipitando decisões – mais uma vez; resolvendo sem projeto e sem plano – outra vez; fazendo tudo desconsiderando todos – repetidamente, que tais instituições cumprem o seu papel, se engrandecem e credibilizam quem as governa.

É imperioso, portanto, demonstrar que o sítio tem a “acessibilidade” desejável e necessária; que o lugar tem a “vocação” ou a “versatilidade e resiliência” indispensáveis; que as funções previstas carecem, de facto, das “continuidades físicas e territoriais” que se procuram e que tudo isto está garantido hoje, é sustentável e, comprovadamente, não obvia melhores soluções.

3. A situação existente na zona de intervenção e o que para ela se prevê, sugerem que poucas, ou nenhumas dessas condições se verificarão, ao que acresceria a “canibalização” de um importante troço da “Cidade consolidada” (*1), seja pela desmesurada dimensão da “zona monofuncional” que aí se estabeleceria, seja pelo enorme acréscimo de tráfego mecânico e de poluição que isso geraria.

(*1) A Cidade que vai da Estação dos CF ao Albói e da EN109 ao Canal de S. Roque.

Senão vejamos.

Se considerarmos como “zona monofuncional” a que incluiria a UA (central), o CHBV e o CCA.UA (*2) – ou seja o troço de cidade compreendido entre a Av.ª Araujo e Silva e o Lugar de Santiago e entre o Bairro de Santiago e a Rua Pega –, ficaríamos como uma área de equipamentos e serviços de cerca de 80ha, o que equivale a 8 Bairros da Forca ou 5 lugares como Esgueira, mas sem residentes e “vida urbana” permanentes.

(*2) UA (central) – Universidade de Aveiro (Campus Central); CHBV – Centro Hospital do Baixo Vouga; CCA.UA – Centro Clinico Académico da UA.

Os resultados deste tipo de “espaços urbanos” estão estudados e são conhecidos: são “zonas negras e inseguras”, “desertos de comunidades e de vida urbana” que “descontinuam as cidades”, geram “picos indesejáveis no funcionamento das infraestruturas e dos transportes”, constituindo, por tudo isso, no mínimo uma “ameaça”.

Se olharmos para a via de acesso e serviço à referida “zona monofuncional” e “Complexo Hospitalar” o que temos?

Temos a Avenida da Universidade – que é uma parte do “distribuidor principal da Cidade consolidada” – e que, para além disso interliga em duas faixas de rodagem, (a nascente) a A1, A17 e a EN109 com o Centro da Cidade e (a poente) este Centro com a Via Panorâmica (nova ligação a Ílhavo) e a A25 (que faz a ligação às Praias, à A1 e a Espanha).

Tal Avenida [a da UA] tem dois “nós” problemáticos nos extremos e um terceiro (a meio), que agora constitui uma “nova entrada”, e oportunidade de atravessamento do “Campus” Universitário.

Disto decorre que, em termos de tráfego, a nascente e poente da referida Avenida, a sua “intensidade” seja enorme – o que gera repetidos engarrafamentos – e que, nela própria, o seu “volume” seja muito grande – o que diminui a permeabilidade do tecido urbano e gera riscos acrescidos à circulação pedonal e ciclável, coisas obviamente indesejáveis e aqui, até “inaceitáveis”.

Para além de tudo isso, quer na envolvente próxima dessa Avenida – que não tem mais de 1km de comprimento –, quer a nascente e a poente dela, existe um conjunto de “magnetes” (atractores e movimento e de atividades) com enorme importância, singularidade e dimensão que importa ter em conta.

Desconsiderando os localizados no topo nascente e no topo poente “troço central da Av.ª da UA” (que é o que servirá o dito “Complexo Hospital), os adstritos a tal Avenida são:

O Bairro de Habitação Social de Santiago, o Bairro da Cooperativa Chave; o ISCAA – Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro [UA]; o Lar Residência de Santa Joana; a Pousada Juventude; o MacDonald’s; os Edifícios Sedes da Junta de Freguesia e da Cruz Vermelha; (o troço nascente d)o Parque da Sustentabilidade e as ligações à Av.ª Mário Sacramento e Quartel dos Bombeiros, bem como ao Parque D. Pedro V; a EB23 João Afonso – Sede do Agrupamento de Escolas de Aveiro (com Pavilhão e campo de jogos de serviço a terceiros); o Centro Clinico Académico (a construir); o Hospital D. Pedro V e Centro Hospitalar do Baixo Vouga (que resultará ada ampliação do primeiro);

Bem como o Pavilhão e Parque Desportivo da UA (com serviço a terceiros); o Campus Universitário (central) da Universidade de Aveiro; o Seminário de Santa Joana Princesa, com alojamentos e espaços (3) desportivos de serviço a terceiros; o Centro Universitário de Fé e Cultura, com serviço a terceiros;

Entidades cuja “atratividade” foi desconsiderada nas estimativas que foram feitas.

Assim, estimo que os “magnetes” coloquem no sítio, e “no troço central da Avª da UA e de serviço ao Complexo Hospitalar”, mais de 25000 não residentes e 7000 automóveis, em média diária (*3): ou seja o equivalente a cerca de 70% dos habitantes da “Cidade consolidada”, sendo necessário dispor de 27 parques de estacionamento com a capacidade do que vai ser construído no Rossio.

Acresce que, tudo isto agravaria, na “Cidade consolidada”, quer o muito significativo desequilíbrio entre o total da área de equipamentos e serviços, e o da área de habitação, quer a poluição sonora e atmosférica – o que não me parece de todo aceitável.

(*3) Desta estimativa – que outros com mais obrigações e meios poderão fazer melhor – estão excluídos: quer os visitantes, os passantes e os outros em momentos, dias ou períodos especiais, quer os novos que usem o “Complexo de Saúde” e equipamentos e serviços afins.

4. Ora perante este quadro – e o desconhecimento público dos estudos que possam sustentar esta opção –, é imperioso justificar o que já se fez no pressuposto da bondade desta operação e, sobretudo, as razões pelas quais temos de aceitar que, por um lado não se construam os anteriormente previstos 300 fogos na “Cidade consolidada” e junto da Universidade e que, por outro lado não se salvaguarde a “convivialidade e sentido de lugar” deste troço de Cidade e do Campus Universitário.

E, ao invés, porque é que – por exemplo – não se criam, com o CHBV e o CCA os “novos e necessários Subcentros” na “Cidade a nascente”, mais próximos de todos os seus potenciais utentes na Região, e aí dispondo de acessos e acessibilidades muito melhores e efeitos secundários muito menos gravosos.

Tudo isto realizando, obviamente o necessário ao bom desempenho e atratividade do Hospital que temos, mas pensando-o já, para as respostas aos novos desígnios do “inovar em Bem-estar e Saúde”.

5. A pressa no pensar e decidir, e a ansia de fazer e construir, até poderão compreender-se e unir-nos desde que se demonstre a bondade geral e especifica dos resultados.

Por isso, e sabendo-se que as entidades envolvidas têm as competências e o conhecimento indispensáveis à ponderação rigorosa, transversal e prospetiva, do que se quer fazer e sabendo–se, também, que todas elas são públicas, não duvido que partilhem connosco as suas razões, com isso ganhando-nos para uma “causa” que só vale a pena se for de todos, na Cidade e na Cidade-região.

 

* Arquiteto. [email protected]

 

 

 

 

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