Está na hora de exigirmos à Câmara Municipal de Aveiro que use práticas sustentáveis no espaço público e que proteja a saúde pública.
Nelson Peralta *
A 30 de abril 2016, o presidente da autarquia garantia que se ia deixar de usar glifosato no espaço público em Aveiro. Assim que acabasse o stock, passaria a ser aplicada uma alternativa sem riscos. Volvidos mais de dois anos há a perguntar: por que continua este herbicida potencialmente cancerígeno a ser usado tão profusamente nas nossas ruas?
Antes de mais, é de estranhar que se reconheça que o uso de glifosato (herbicida utilizado para controlo de ervas) acarreta riscos para a saúde pública ao mesmo tempo que se assume que se continuará a expor a população a esse risco até o stock acabar. Mas mais grave é perceber que afinal a garantia dada não correspondia à verdade.
A garantia dada pelo autarca surgiu apenas dois meses após o PSD e CDS chumbarem na Assembleia Municipal uma proposta do Bloco de Esquerda para precisamente abandonar a utilização deste herbicida nos espaços públicos.
Nesse período de tempo, descobriu-se – através de um estudo de análises à urina – que a situação portuguesa é mais grave que noutros países europeus, com grandes níveis de contaminação nos indivíduos testados. Não obstante, nada mudou em Aveiro.
Este mês a Bayer/Monsanto foi condenada em tribunal ao pagamento de 289 milhões de dólares por não ter informado o público sobre a perigosidade do seu herbicida à base de glifosato que provocou um cancro terminal num jardineiro estado-unidense.
Que a empresa que lucra com o produto tenha agido desta forma é absolutamente condenável. Mas, civicamente, é também condenável que autarcas mantenham a população exposta a este herbicida. Mais ainda quando reconheceram a sua perigosidade e que deram garantias públicas de abandonar o seu uso.
Está na hora de exigirmos à Câmara Municipal de Aveiro que use práticas sustentáveis no espaço público e que proteja a saúde pública.
É tempo de abandonar o glifosato em Aveiro.
* Biólogo, membro do Bloco de Esquerda.