A nova ponte suspensa, construída na chamada Garganta do Paiva em Arouca, constitui um equipamento turístico de relevo, capaz de projetar o concelho de Arouca e o Rio Paiva em todo o mundo e atrair muitos milhares de turistas à região.
No entanto, é muito importante ter em conta algumas questões que continuam a preocupar a associação S.O.S. Rio Paiva, nomeadamente, o aumento da pressão humana neste troço do Rio Paiva, a poluição do rio e o aumento de espécies invasoras.
A S.O.S. Rio Paiva espera que as autoridades coloquem restrições de acesso à nova ponte e “Passadiços do Paiva” tendo em conta, não só a situação atual de pandemia, a saúde pública, mas também a salvaguarda da tranquilidade e preservação deste espaço natural, classificado como uma área protegida (Rede Natura 2000) para que não se repitam os graves problemas que surgiram após a abertura dos “Passadiços do Paiva” em 2015, devido ao excessivo fluxo de turistas. A S.O.S. Rio Paiva apela a uma redução do número máximo de acesso de pessoas aos equipamentos construídos para minimizar a pressão no rio e melhorar a experiência de quem procura um turismo de natureza sustentável.
Tememos que possam surgir novas construções
A S.O.S. Rio Paiva teme que este mediatismo e sucesso dos “Passadiços do Paiva” e da nova ponte possam exigir que sejam acrescentados novos equipamentos de apoio ao turismo no futuro, de forma a garantir um elevado fluxo de turistas a Arouca e garantir a sustentabilidade económica do investimento, pelo que faz um apelo às autoridades locais e nacionais para que façam cumprir os planos de conservação deste espaço da Rede Natura 2000 que identificaram a construção de infraestruturas e o desenvolvimento turístico como ameaças à conservação de habitats, restringindo a construção de novas infraestruturas de lazer e de equipamentos turísticos como bares, alojamentos e restaurantes.
Poluição tem vindo a aumentar
Numa altura em que a Câmara de Arouca inaugura a nova ponte suspensa sobre o Rio Paiva, é fundamental não esquecer que o verão de 2020 foi dos mais negros no que diz respeito à poluição do Rio Paiva, com imagens chocantes de grandes descargas poluentes com origem nos concelhos a montante, nomeadamente Vila Nova de Paiva e Castro Daire, onde as Estações de Tratamento de Águas Residuais, continuam a ser um dos principais focos de poluição deste que já foi conhecido como “o rio mais limpo da Europa” e que agora tem as suas praias naturais interditas à prática balnear.
Além disso, a escassos metros da nova ponte, no lugar da Mealha, foi autorizada a construção de uma grande exploração de suinicultura, que produz intensos maus cheiros e cujo impacto na bacia hidrográfica do Paiva e no próprio turismo nos levanta sérias preocupações.
Lembramos que há uma nova ETAR em Castro Daire, que custou cerca de 6 milhões de euros e que continua à espera da inauguração, enquanto a velha ETAR da Ponte Pedrinha continua a ser um dos principais focos de poluição do Rio Paiva, e a debitar todos os dias efluente não tratado nas águas do Rio Paiva. Uma vergonha que continua a manchar a atividade turística no Paiva e a contribuir para a interdição da prática balnear nas praias fluviais, sem que se fale neste assunto. A nova ETAR de Castro Daire é uma reivindicação antiga e a sua entrada em funcionamento devia ser uma prioridade não só das autarquias locais mas também do Governo que continua à espera que sejam resolvidos problemas relacionados com a instalação elétrica.
Rio Paiva excluído do REACT
A S.O.S. Rio Paiva lamenta que o Rio Paiva não tenha sido incluído no programa de investimento do Governo de 50 milhões de euros para recuperar 150 km de rios e margens, quando o Governo e o Ministério do Ambiente têm conhecimento dos graves problemas no Paiva como a poluição e necessidade de intervenção urgente na recuperação da galeria ripícola e reconversão das margens atualmente cobertas de plantações de eucalipto e invasoras, que impedem a sobrevivência de espécies e nada contribuem para a valorização paisagística, além de potenciar os riscos de incêndio naquele troço do rio, que é muito elevado.
O aumento da pressão turística vai aumentar estes problemas, pelo que se espera que o investimento no turismo seja acompanhado de medidas de compensação para garantir o equilíbrio e a conservação desta área natural no futuro, e que as autarquias se mobilizem para que este investimento seja uma realidade.
A S.O.S. Rio Paiva considera urgente:
– Medidas de compensação para a promoção e conservação da biodiversidade;
– Investimento na identificação e eliminação dos focos de poluição;
– Controlo e erradicação de espécies de fauna e flora invasoras;
– Investimento e fiscalização eficaz das ETAR do vale do Paiva.
A associação não-governamental S.O.S. Rio Paiva continua disponível para encontrar consensos e soluções que contribuam para a conservação deste importante espaço natural, continuando a pugnar pela defesa do Rio Paiva e dos seus afluentes, com dinamismo, independência e seriedade.
S.O.S. Rio Paiva – Associação de Defesa do Vale do Paiva.