As cidades dos 15 minutos

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Cidade de Aveiro (foto /www.rialidades.pt/).

São cada vez mais prementes e recorrentes as teorias e o estudo de como podemos potenciar a vida nas grandes cidades. Uma das que tem reunido maior publicidade nos últimos meses é a que dá o nome a esta crónica: as cidades dos 15 minutos, um conceito desenvolvido em 2021 por Carlos Moreno, professor de Urbanismo da Universidade de Paris.

Por Francisco Mota Ferreira *

Em Portugal este é um tema que está a dar os primeiros passos. Mas, lá fora, há já um caminho percorrido, que nos permite tentar aprender com os erros e sucessos cometidos e, mais importante do que isso, desmistificar alegadas teorias da conspiração que, infelizmente, também as há quando se pensam nestes temas da reorganização urbana das cidades.

Em breves linhas, as cidades dos 15 minutos (com variações temporais ligeiras de cinco minutos para cima ou para baixo) traduz-se na ambição de colocar tudo o que pode ser necessário e fazer falta no dia-a-dia de uma família preferencialmente a um walking distance de 15 minutos. Ou seja, criar em cada cidade uma espécie de super bairros, que seriam de alguma forma autossuficientes e onde as pessoas poderiam ter tudo ao seu alcance: compras para a casa, escolas dos filhos, espaço de ginástica e lazer, espaços verdes e, no limite, o próprio local de trabalho. Idealmente estes 15 minutos poderiam ser alcançados a pé, mas podiam igualmente ser atingidos por transportes públicos e/ou o uso de transportes de mobilidade suave (bicicleta, trotinete, etc.), desincentivando-se o uso do carro ou outros transportes poluentes, melhorando as condições de vida e ambientais.

Descrito desta forma, não parece que existam grandes razões para contestar este conceito. Mas o facto é que, mesmo assim, experiências testadas lá fora, após o Covid e confinamento, levaram pessoas a desconfiar que isto poderia ser uma medida de manter algum grau de confinamento a bairros inteiros.

Em Portugal, Lisboa está na liderança desta experiência. No passado, já vimos serem colocados pilaretes que condicionam o acesso a certas da cidade (por exemplo no Bairro Alto). No presente este conceito está em análise por um Conselho de Cidadãos, constituído por milhares de representantes aleatórios de várias freguesias da cidade que, ainda sem data prevista, deverão dar o seu input e medidas que querem ver aplicadas que, no limite, melhorem as condições de vida da cidade.

Ainda será talvez prematuro perceber se o conceito das cidades dos 15 minutos é algo viável e, no limite, se até fará sentido em Portugal. Agora uma coisa tenho a certeza: para levar este conceito à prática, é necessário repensar de forma profunda a organização das cidades e ter uma política de reabilitação urbana activa e permanente. Só assim se poderão potenciar todos os espaços da cidade e abrir caminho a que possam surgir outros, reaproveitados ou, no seu lugar, criados espaços verdes de raiz.

Desincentivar ou tornar obsoleto o uso do carro próprio e levar as pessoas a que possam usar outros meios alternativos de transporte que façam bem à sua própria saúde (no caso de ser a pé) ou ao meio ambiente (no caso de serem transportes públicos como o metropolitano) seria, desde já uma grande vitória.

O problema nisto tudo, como tão bem sabemos, é que as grandes cidades não estão ainda pensadas para este tipo de revolução.

No caso de Lisboa, antevejo, pelo menos, três grandes dificuldades para o sucesso desta medida: a rede de transportes públicos é miserável e roça a ineficiência; não há uma política eficaz de parques de estacionamento à entrada da cidade, que permita a quem vive fora de Lisboa mas trabalhe na cidade, possa deixar o seu veículo a preços competitivos nestes parques; e, por último, não há uma estratégia clara de reabilitação urbana na cidade, havendo decisões esparsas que, muitas vezes, não têm sequer em linha de conta outros players como o Estado.

Sosseguem, pois, os adeptos das teorias da conspiração. Lisboa (atrever-me-ia a dizer Portugal) está a anos-luz de ver implementada as cidades dos 15 minutos.

* Trabalha com Fundos de Private Equity e Investidores e escreve semanalmente no Diário Imobiliário sobre o sector. Artigo publicado originalmente no site Diário Imobiliário.

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