Arouca: O impacto de infraestruturas de acesso à internet deficientes

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Radar Meteorológico de Arouca.

As pessoas, principalmente os mais jovens, não veem outra opção a não ser o abandono, cada vez mais prematuro, destas localidades que os “afastam” do mundo globalizado.

Por Fernando Jorge Correia Martins *

Venho, por este meio, dar nota de uma situação que penso ser oportuna para divulgação na comunicação social. Não faço parte de nenhum movimento político, mas dou a cara por mais de 200 habitantes da minha freguesia. Enfrentamos um problema que vou expor de seguida.

Há um conjunto de lugares (Adaúfe, Bustelo, Cavadas, Chão de Espinho, Espinheiro, Espinho, Friães, Fuste, Granja, Pedrogão e Prechã) da freguesia de Moldes, concelho de Arouca, distrito de Aveiro que, embora estejam muito próximas da sede do concelho (algumas apenas a 3km) estão completamente “esquecidas” e ignoradas.

Neste contexto atual de pandemia, onde o teletrabalho e a tele-escola são obrigatórios, estas localidades não usufruem das mínimas condições, a nível de infraestruturas de comunicação, que permitam desempenhar tais atividades.

Em algumas destas localidades, a única tecnologia de ligação à Internet fixa existente é a ADSL, que se tem mostrado muito ineficiente. A ligação 3G/4G, existente em alguns lugares, é muito deficiente e, em alguns destes, nem sequer existe. Podemos ir mais longe e referir que, em muitas zonas, não há sequer cobertura GSM e/ou TDT. As pessoas que ali habitam estão completamente isoladas de qualquer meio de comunicação digital.

É do conhecimento público e da autarquia que existem crianças que se têm de deslocar para escritórios de empresas para poderem ter aulas à distância.

Consegue-se imaginar a concentração de uma criança, num escritório de uma carpintaria, a ter aulas on-line com todo o ruído aí existente? Existem ainda aqueles que se têm que deslocar para casa de amigos ou familiares, para trabalharem ou terem aulas, mesmo em contexto de pandemia.

Ainda outros têm que usar o seu próprio carro como “escritório ambulante”. Param o carro em locais estratégicos para apanhar cobertura 4G, ou simplesmente têm que se encostar perto das instalações da Junta de Freguesia, para poderem aceder à Internet.

Existe, atualmente, uma campanha nacional de entrega de equipamentos informáticos e de pens de banda larga para acesso à Internet para alunos mais carenciados. É de louvar a campanha, mas mais uma vez, o problema é visto dos gabinetes dos ministérios e das cadeiras dos deputados. Se não há cobertura de rede ou, se em muitos locais, as infraestruturas de acesso à internet são deficientes, não se está a fazer um investimento de forma inversa, investindo em equipamentos, antes de providenciar os alicerces que permitem a sua utilização?

Embora conhecidas estas situações, tal como já foi referido, nada foi feito, até agora, nem por parte das operadoras, nem por parte da ANACOM. A Junta de Freguesia de Moldes e a Câmara Municipal de Arouca também têm ignorado este problema, contrariamente ao que tem acontecido com outros municípios, como o de Coimbra, o de Miranda do Corvo, o de Montemor-o-Velho, entre outros, em casos semelhantes.

Este assunto já levou à redação de um abaixo assinado que foi remetido à Câmara Municipal de Arouca, com conhecimento ao Presidente da República, ao Primeiro Ministro, ao Ministro da Educação, ao Ministro do Trabalho, ao Ministro das Infraestruturas e Habitação, ao Diretor da ANACOM e também ao Presidente da Junta de Freguesia de Moldes. Neste documento, mais de duas centenas de habitantes mostram-se indignados com as infraestruturas de comunicação existentes e exigem o alargamento da cobertura de fibra para as localidades referidas.

O assunto já foi levado à reunião de Assembleia Municipal, mas, quando confrontada novamente com o problema, a Presidente da Câmara Municipal de Arouca descredibilizou o mesmo, referindo apenas e simplesmente que as “operadoras estão a alargar a cobertura”, rejeitando responsabilidades e mostrando, à partida, que não tinha nenhuma vontade de tentar resolver um problema que se mostra urgente e que está a afetar, negativamente, centenas de pessoas.

As pessoas, principalmente os mais jovens, não veem outra opção a não ser o abandono, cada vez mais prematuro, destas localidades que os “afastam” do mundo globalizado.

Arouca, conhecida pelos famosos Passadiços do Paiva, pela maior Ponte Pedonal suspensa do mundo e pelo riquíssimo território Arouca Geopark integrante da Rede Europeia e Global de Geoparques, sob os auspícios da UNESCO, está a captar cada vez mais turistas, mas, em contrapartida, está a perder cada vez mais jovens, a cada ano que passa, sobretudo devido às políticas e estratégias pouco interessantes para a fixação destes no seu concelho.

* Bolseiro de Doutoramento da Fundação Para a Ciência e a Tecnologia,
investigador do Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território e colaborador no Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Promotor de abaixo assinado ‘Solicitação de infraestruturas de comunicação – internet fibra – em localidades do município de Arouca.

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