Das cinco equipas que compõem o projeto LoCALL (Aveiro, Barcelona, Hamburgo, Groningen e Estrasburgo), três situam-se em zonas marcadamente bilingues, em que a presença e distribuição das línguas nos espaços públicos não serve apenas para ilustrar o bilinguismo da região, mas revela as políticas linguísticas governamentais e a forma como são interpretadas pelos cidadãos.
Por Mónica Lourenço e Sílvia Melo-Pfeifer *
Nas últimas décadas, a aula de línguas tem deixado de ser um espaço dedicado, exclusivamente, ao ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira. Abriu-se a outras línguas e a outras culturas, tornando-se um espaço de educação para a cidadania, para o diálogo intercultural e para o pluralismo. O plural é aqui justificado porque sabemos que as línguas estabelecem relações umas com as outras, mas também porque co-habitam nas nossas cidades, nas nossas turmas, enriquecendo os repertórios linguístico-comunicativos dos nossos alunos.
O projeto europeu Erasmus+ LoCALL (LoCALL: LOcal Linguistic Landscapes for global language education in the school context) foi concebido para cruzar as línguas dos alunos com as línguas que habitam os espaços da vida quotidiana. Ou dito de outra forma, para estabelecer relações entre o que se aprende dentro e fora da escola, de modo a tornar os alunos mais conscientes daquilo que já sabem ou, então, focar a sua atenção no que de tão visível não se interroga: Por que é que aquelas línguas (e não outras) estão presentes naqueles sinais ou placas? Quem os criou? Para quem? Com que intenção?
Das cinco equipas que compõem o projeto LoCALL (Aveiro, Barcelona, Hamburgo, Groningen e Estrasburgo), três situam-se em zonas marcadamente bilingues, em que a presença e distribuição das línguas nos espaços públicos não serve apenas para ilustrar o bilinguismo da região, mas revela as políticas linguísticas governamentais e a forma como são interpretadas pelos cidadãos. Também em outras cidades aparentemente monolingues, como é o caso de Aveiro, a diversidade linguística no espaço urbano se revela, por exemplo, nos menus de restaurantes, nos nomes das lojas, ou nos painéis informativos turísticos. Podemos também perguntar-nos: será que as línguas faladas pelos habitantes de Aveiro (incluindo as comunidades migrantes) estão presentes na paisagem da cidade? Em que locais? Como?
Um trabalho pedagógico com as paisagens linguísticas em sala de aula permite refletir sobre a (in)visibilidade das línguas nos espaços públicos, sobre a sua relação com a diversidade linguística e cultural na sociedade e sobre a forma como os espaços públicos são potenciais espaços de aprendizagem de línguas e de linguagem.
Na escola, espaço que atribui “pedigree” às línguas e à sua aprendizagem, é sempre com alguma surpresa que os alunos respondem à questão: “O que é que vocês aprendem sobre as línguas na rua?”. A surpresa parece advir da expetativa de que só se aprende na escola e é com espanto que alunos (e também professores) veem a paisagem linguística como lugar de aprendizagens e de reflexões sobre as línguas e as nossas interações quotidianas com elas. A rua é um local de aprendizagem linguística não só porque as línguas aí aparecem de forma visível, mas também porque se podem ouvir e tocar. “Tocar numa língua?” Sim, se nos lembrarmos que o Braille também é uma língua… tal como a Língua Gestual Portuguesa.
E se pudéssemos aprender tudo isto utilizando uma aplicação móvel? Este é um dos recursos que o projeto LoCALL está a desenvolver, sob a coordenação da Universidade de Aveiro. A LoCALL App permite aos utilizadores criar um jogo que se concentra em pontos de interesse específicos reveladores da paisagem linguística e que permite a alunos, professores e turistas aprender com as línguas através da realização de percursos criados em vários pontos do mundo. Outros recursos para a escola incluem Podcasts e Tutoriais sobre o uso da Paisagem Linguística em sala de aula e guiões para a sua implementação educativa.
Convidamos, pois, o/a leitor/a, a explorar o website do projeto (https://locallproject.eu/) e a (re)descobrir as línguas (impressas, sonoras, tácteis) nos seus percursos quotidianos.
* Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site UA.pt