Aprender com a floresta para melhorar a floresta

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Foto partilhada pelo Facebook da Associação Cabeço Santo.

A Floresta é um recurso vital para o desenvolvimento sustentável do nosso planeta, mas para gerir e melhorar a floresta é preciso aprender com a floresta, respeitar a sua realidade específica e o seu tempo, trabalhando em conjunto com quem a conhece.

Por Sofia Corticeiro *

A floresta é um recurso vital para o desenvolvimento sustentável do nosso planeta. De modo mais particular, a floresta portuguesa, nas suas múltiplas vertentes e tipologias, é um dos recursos com maior relevância ambiental, social, económica, política e cultural para o país. Sendo um sistema dinâmico, enfrenta numerosos desafios e constrangimentos que, num país como Portugal, têm um impacte direto e muitas vezes imediato na paisagem, nas populações locais e na disponibilidade e qualidade dos serviços que lhe estão associados. A resiliência da floresta para enfrentar desafios, como a recorrência e severidade dos incêndios ou as alterações climáticas, depende de vários fatores a diferentes escalas, desde a seleção e adaptabilidade das espécies florestais, à gestão florestal e até ao ordenamento do território.

A ciência tem desempenhado e deverá continuar a ter um papel fundamental na adaptação e resposta da floresta a todos os desafios a que está exposta, passados, presentes e futuros. Os desafios são complexos e multidisciplinares, e exigem soluções inovadoras para garantir a sustentabilidade e o crescimento do sector. O trabalho de um investigador na área florestal é assim bastante desafiante, mas simultaneamente entusiasmante e gratificante.

Um dos grandes desafios de um investigador na área florestal passa por estudar os efeitos das alterações climáticas nos ecossistemas florestais e por ajudar a definir estratégias ambientais e políticas capazes de tornar a floresta mais resiliente e, ao mesmo tempo, potencialmente mitigadora das alterações climáticas. Outro grande desafio é o equilíbrio entre a sustentabilidade da floresta e dos serviços de ecossistema que lhe estão associados, e o desenvolvimento económico. Potenciar a produtividade dos produtos lenhosos e não-lenhosos através de uma gestão florestal sustentável, minimizando o impacte das operações no meio ambiente, é difícil e exige a exploração de novas tecnologias e metodologias que permitam reduzir a pegada de carbono das práticas silvícolas e promover a biodiversidade.

A pressão da sociedade para a obtenção de respostas a estas questões é elevada, mas a obtenção de resultados na investigação florestal não é imediata, demora tempo – o tempo que a floresta precisa para crescer, para se desenvolver. Em particular no nosso caso, dada a heterogeneidade da floresta em Portugal, os resultados não demoram apenas tempo, carecem muitas vezes de representatividade. Por norma, não pode haver generalização dos resultados obtidos, as soluções encontradas são-no muitas vezes apenas para problemas em condições específicas e o trabalho tem de ser replicado e validado em diferentes cenários, uma situação que é muitas vezes condicionada pela regulamentação dos serviços florestais e pela disponibilidade de financiamento.

A investigação necessita de fundos e de garantir financiamento de forma relativamente constante ao longo do tempo, uma vez que toda a investigação focada na floresta necessita de um horizonte temporal superior ao da maioria dos projetos de investigação, o que, além de demorado e altamente competitivo, pode ser bastante complexo. O laboratório é a própria floresta em toda a sua magnitude e os resultados têm muitas vezes potencial de aplicabilidade imediata na resolução de problemas concretos tanto ambientais, como económicos e/ou sociais.

O trabalho de um investigador dedicado à resolução das problemáticas associadas à floresta tem potencial para ir mais além das componentes académica e científica: tem potencial para preservar os recursos florestais e melhorar a qualidade de vida de quem vive junto da floresta. A multiplicidade das questões relacionadas com a floresta obrigada à convergência e interação de várias disciplinas. O investigador não tem de necessariamente de ser um engenheiro florestal ou um biólogo, pode ter formação em economia ou em ciências sociais. Todas essas e muitas outras áreas de formação podem ser cruciais na resolução de cada um dos desafios do sector florestal.

Uma das oportunidades mais entusiasmantes é o potencial de desenvolvimento e utilização de novas tecnologias ajustadas à realidade florestal. Os mais recentes avanços em deteção remota, sistemas de informação geográfica e Big Data têm possibilitado cada vez mais a recolha e análise de grandes quantidades de dados e a sua integração na compreensão e modelação dos processos inerentes à complexidade dos ecossistemas florestais. Um investigador que trabalha continuamente para contribuir para o avanço do conhecimento e para ajudar a encontrar soluções para problemas complexos – e a floresta é um dos ecossistemas mais complexos – tem de trabalhar em equipa, com especialistas multidisciplinares. Adicionalmente, não pode trabalhar alheado da realidade em que a floresta se insere. Tem de aprender com a floresta e com os principais agentes que atuam no sector.

Os agentes conhecedores da realidade florestal e que trabalham diariamente na floresta, tais como as associações florestais, as empresas do sector, os produtores privados, entre muitos outros, podem ser um grande auxiliar da ciência na adequação das experiências científicas às condições locais, na condução dos ensaios e testes experimentais, na operacionalização e até na divulgação dos resultados. Para um investigador florestal, a aprendizagem é contínua, dinâmica e bidirecional e essa escola de conhecimento, essa interação e apoio entre a sociedade e a academia torna ainda mais gratificante e motivador todo o trabalho desenvolvido e as dificuldades enfrentadas no dia a dia.

* Doutorada em Biologia (2012), Investigadora na UA – Universidade de Aveiro e tem mais de 10 anos de experiência em Investigação Florestal, tanto ao nível académico como empresarial. Artigo publicado originalmente em Florestas.pt.

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