Turismo: Apostemos nos estímulos às empresas

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Restauração.
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Quem sobreviveu, respirou esta bolha de oxigénio no verão que, embora positivo, não foi suficiente. O outono já está aí e o inverno adivinha-se frio para os negócios HORECA.

Por Carlos Moura *

Em Portugal, registaram-se números recorde de hóspedes e dormidas em julho. Todas as estatísticas indicam que este período excedeu as expetativas criadas para 2022 e as receitas criadas pelo turismo vieram revelar que esta atividade, como a AHRESP sempre defendeu, é vital para a economia do país. Já na crise de há uma década o tinha provado e bisou. E porque é uma realidade, ouvimos o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, neste dia, a abrir a VI Cimeira do Turismo, em Lisboa, a destacar a atividade “como um dos motores da economia portuguesa: sem este setor, o país não teria tido a rapidez de recuperação económica que viveu nos últimos meses, pós-pandemia”.

Felizmente que assim é. Mas não nos deixemos enlevar por esta bolha de alta, porque voltamos a vivenciar um quadro de incerteza com o prolongar da guerra na Ucrânia, da crise energética e uma inflação elevada. Cenário que levou o Banco Central Europeu a endurecer a política monetária e a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico a rever em forte baixa as suas projeções para o crescimento europeu no próximo ano.

Também as perspetivas de um painel de especialistas da Organização Mundial do Turismo são cautelosas. O ambiente económico incerto contribuiu para a inversão de perspetivas de um regresso aos níveis pré-pandémicos a curto prazo. Cerca de 61% dos especialistas veem agora um potencial regresso das chegadas internacionais aos níveis de 2019 apenas em 2024 ou até mais tarde. E Portugal, pese embora os seus argumentos, como a reconhecida qualidade da gastronomia e vinhos, a arte de bem receber quem nos visita, o património histórico ou a segurança e localização geográfica na Europa, não tem uma vacina de imunidade económica.

O aumento da inflação e o aumento dos preços da energia (gás e eletricidade) resulta em custos de transporte e alojamento mais elevados, os bens alimentares – que são a nossa matéria-prima de eleição – ascendem a preços incomportáveis, enquanto coloca o poder de compra dos consumidores e a poupança sob pressão.

A AHRESP está a realizar novo inquérito às nossas atividades, mas os indicadores preliminares sugerem que as empresas não estão a impactar nos preços ao consumidor o aumento de todos os custos no seu negócio.

E todo este cenário, depois de dois anos e meio de fortes restrições à atividade das empresas da restauração, bebidas e do alojamento turístico. Quem sobreviveu, respirou esta bolha de oxigénio no verão que, embora positivo, não foi suficiente. O outono já está aí e o inverno adivinha-se frio para os negócios HORECA que ainda não sararam os seus problemas de tesouraria, contraíram empréstimos que têm de ser pagos, com faturas de energia, em muitos casos, a triplicar o valor a acrescer a todos os custos já mencionados.

Se o turismo já provou que é um dos principais motores da economia, se somos vitais na dinâmica do país, apostemos antes nos estímulos às empresas do turismo o melhor que formos capazes para que em todas as dimensões – financeira, social, fiscal, económica, ambiental, laboral – sejam efetivamente sustentáveis.

Não queremos ser arautos do pessimismo, mas somos realistas e conhecemos bem a realidade das nossas empresas e empresários que trabalharam arduamente nos últimos anos para se manterem à tona e estarem de portas abertas para receber quem nos visita.

A este cenário acresce a constrangedora escassez de trabalhadores para os negócios do canal HORECA, matéria em que há tanto para fazer na atração e retenção de talento e na dignificação destas profissões que são a alma do turismo nacional. E, fundamentalmente, a garantia de que os nossos turistas são recebidos com a qualidade e o calor de Portugal.

Com o Orçamento do Estado para 2023 à porta, é neste contexto, novamente de incerteza, que realizamos o nosso Congresso AHRESP, com o tema “Sustentabilidade: utopia ou sobrevivência?” Nos próximos dias 14 e 15 de outubro, em Coimbra.

* Presidente da AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal. Artigo publicado originalmente em Magazine AHRESP.

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