O “modelo de jogo” da forma que geralmente é visto, ou seja, sendo um conjunto de princípios de jogo definidos para a equipa mesmo antes de a conhecer e de a diagnosticar, é algo demasiado reduzido e estático, que não tem em conta diversos fatores que terão enorme influência na construção da forma de jogar da equipa.
Por David Vinagreiro *
Nos dias de hoje, quando um novo treinador é contratado para assumir o comando de uma equipa, é regular ouvir-se dizer que o clube ao escolher especificamente aquele treinador está a selecionar um modelo de jogo. Este modelo de jogo, será o conjunto de princípios orientadores que o treinador pretende que a sua equipa interprete em cada um dos momentos de jogo, ou seja, dito de uma forma bastante simplista, é a forma como o treinador pretende que a sua equipa jogue. Estará então esta afirmação correta? Será que ao contratar um treinador o clube estará mesmo a “encomendar” um modelo de jogo?
A verdade é que a forma de jogar de uma equipa, dependerá sempre da forma como os jogadores interpretarem as ideias que o treinador tentar transmitir, ideias estas que serão treinadas nos jogadores de modo a que os seus comportamentos e decisões táticas vão de encontro ao referencial coletivo de princípios definidos pelo treinador.
Mais importante do que isto, dependerá principalmente de fatores como as características específicas de cada jogador, e as suas potencialidades. É principalmente por isto, que acredito que um treinador não poderá possuir um modelo definido a priori, poderá sim, ter as suas ideias e o seu conhecimento relativamente ao jogo, ideias essas que serão adaptadas e ajustadas consoante a “matéria-prima” que detiver à sua disposição, bem como a outros fatores como a cultura do clube, os seus objetivos, as competições disputadas, etc.
Portanto, o treinador deverá ser realista, tendo a noção de que a equipa nunca jogará completamente de acordo com os seus ideais, mas sim de acordo com os princípios traçados após conhecer os jogadores, o clube e o contexto em que este se insere. Estes fatores relacionam-se e têm influência mútua, sendo que a relação existente entre eles será fundamental na definição dos princípios de jogo da equipa. O treinador deverá portanto, preocupar-se em coordenar os diferentes jogadores da forma que possa ser mais rentável face aos objetivos do jogo, da própria equipa, e do clube, tentando encontrar o melhor equilíbrio entre os jogadores que lhes permitam desempenhar as funções necessárias para resolver os problemas que serão colocados pelo adversário no decorrer do próprio jogo.
Posto isto, o “modelo de jogo” da forma que geralmente é visto, ou seja, sendo um conjunto de princípios de jogo definidos para a equipa mesmo antes de a conhecer e de a diagnosticar, é algo demasiado reduzido e estático, que não tem em conta diversos fatores que terão enorme influência na construção da forma de jogar da equipa. No entanto, isto será diferente se esse “modelo de jogo” for visto apenas como um ponto de partida, uma base que se ajustará após conhecer a realidade na qual se estará integrado.
O essencial será então que, o treinador somente defina o seu “modelo de jogo” após ter realizado um diagnóstico dos jogadores que tem à sua disposição e da realidade na qual se insere, pois estes jogadores unicamente poderão jogar de acordo com aquelas que são as suas capacidades específicas e de acordo com os seus potenciais de desenvolvimento.
Este diagnóstico deverá então ser a base do processo de construção de uma equipa, sendo importantíssimo conhecer todo o contexto, adaptando de seguida as ideias pessoais de modo a definir, aí sim, os princípios orientadores do jogo da sua equipa.
* Formado em Ciências do Desporto, treinador de futebol ([email protected]).