Nunca se falou tanto sobre os problemas do ambiente. Nunca a proteção do ambiente foi uma bandeira maior. Nunca houve tantos estudos ou projetos nesta área. Mas, no entanto, nunca houve tão poucos alunos a escolher cursos de ambiente. E estes números (ou estatística como preferirem chamar) não são só em Portugal.
Por Alexandra Monteiro *
Há um decréscimo geral no número de estudantes que procuram licenciaturas na área da engenharia e ciências do ambiente.
À primeira vista parece um contrassenso e a reação geral quando se ouve tal facto é de espanto e incompreensão. Atrevo-me a adivinhar que o leitor teve reação igual, não?
As causas e explicações andam a tentar ser encontradas, mas não estão ao virar da esquina, pelos menos nas ruas onde andamos.
Uma pesquisa feita revelou alguns estudos interessantes. Um, em particular, no Canadá, aponta algumas razões possíveis para esta menor atratividade dos cursos de ambiente na última década. As primeiras razões são relativamente fáceis de entender e perceber: esta atual e urgente preocupação ocupa os alunos desde que nascem, assoberbando-os com as questões ambientais de tal forma e durante todo o percurso escolar que pode levar à saturação. Ou ainda: as questões ambientais estão de tal forma incorporadas em todas as áreas de estudo – sejam elas artísticas, sociais, económicas ou tecnológicas – que todos acabam por parecer trabalhar em prol do ambiente em qualquer curso que escolherem.
Mas serão estas razões suficientes para a formação específica em ciências ou engenharia do ambiente ser preterida? Talvez não…
A última razão apontada neste estudo canadiano é demasiado preocupante e foi ela que me levou a escrever este artigo. Décadas de investigação na área da psicologia dizem-nos que o cérebro humano quando exposto a mensagens de sentenças inevitáveis reage fugindo delas. Isto é, a mensagem de rutura ambiental, de crise climática sem retorno, e consequências inevitáveis poderá estar na origem de reações de escape – voluntário ou involuntário – e no afastamento dos estudantes à área do ambiente.
Estas razões – o sobrecarregar e a fuga do nosso cérebro – dizem-nos que é urgente mudar as mensagens e a abordagem às questões ambientais. Ainda há demasiado a fazer, demasiado conhecimento a ser dado e obtido para melhorar a nossa forma de viver neste ambiente, e, acima de tudo, para resolvermos muitos dos problemas ambientais, sejam por mitigação e adaptação ou por palavras menos compostas.
Não há causas perdidas. Mas pode haver perda de qualificação e motivação se os cérebros ativos se puserem em fuga. Precisamos que a mensagem de alerta ambiental seja de construção e não destruição, para que o nosso cérebro em vez de fugir se sinta atraído pelo desafio e motivado pela sua solução.
* Investigadora da Universidade de Aveiro (CESAM-DAO). Artigo publicado originalmente no site UA.pt.
Uma mensagem de alerta-positivo e de feedback-construtivo, precisa-se!
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