Confesso que os meus olhos ficaram esbugalhados. O que terá levado o candidato europeu a tomar semelhante decisão? Terá sido o facto de o nosso edil ter destruído o único jardim urbano no centro da cidade com as suas palmeiras e plátanos centenários incluídos?
Por David Iguaz *
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Assim como alhos nada têm a ver com bugalhos, Ribau Esteves nada tem a ver com o ambiente, ou melhor dizendo, com a sua preservação. A história recente da evolução da cidade durante o seu mandato assim o confirma.
No entanto, esta semana, o Sebastião Bugalho, o cabeça de lista da AD às eleições europeias, tentou contrariar o popular proverbio ao convidar o presidente da Câmara de Aveiro para ser mandatário honorário para assuntos ambientais.
Confesso que os meus olhos ficaram esbugalhados. O que terá levado o candidato europeu a tomar semelhante decisão? Terá sido o facto de o nosso edil ter destruído o único jardim urbano no centro da cidade com as suas palmeiras e plátanos centenários incluídos?
Terá sido a decisão de construir um parque subterrâneo no seu lugar atraindo ainda mais carros para o centro da cidade? Terá sido a perseguição da qual certos docentes foram alvo quando tentaram sensibilizar os alunos da escola EB 2,3 de São Bernardo (curiosamente parte da rede eco-escolas) contra o abate desnecessário de árvores à volta do perímetro das suas instalações? Ou terá sido o abate de centenas de árvores ao longo do seu mandato na Rua da Pega, Avda 25 de Abril, Largo das 5 bicas, Cemitério da cidade, Avda Dr. Lourenço Peixinho, Avenida Mário Sacramento, e mesmo no próprio parque da cidade?
Cá para mim deve ter sido quando ele descobriu que o actual Presidente da Câmara, em declarações públicas declarou que em Aveiro gostava-se de carros e que as raízes das árvores eram um empecilho pois levantam os passeios e calçadas. Ou talvez quando descobriu que o dendroclasta se gabou, perante uma plateia de cidadãos, de ter abatido 2.000 plátanos enquanto presidente da Câmara de Ílhavo. Deve ter sido isso de certeza. Claro que existe sempre a remota possibilidade que seja por causa do novo projeto da lota assim como o projeto do parque do Rossio terem sido projetados em zonas inundáveis e portanto passíveis de boiar num futuro próximo conforme já foi admitido, no caso do Rossio, pelo estadista Ribau Esteves.
Mas está tudo bem porque ontem, durante o dia mundial do ambiente, o Sr Presidente da Câmara libertou uma ave de rapina, milhafre-preto macho, nos terrenos da antiga lota. Não há dúvida que o nosso edil sabe sempre escolher uma boa metáfora para o momento certo.
Porquê será que palavras e actos são atirados para o ar de forma virulenta e indiscriminada nas campanhas eleitorais? Bem sei que faz parte de uma campanha o anunciar, declamar, inaugurar, apontar e mostrar que um partido é melhor que o outro, mas será que o limite da vergonha não tem limites? Será que o Sebastião Bugalho não poderia ter escolhido outro epíteto que não o de ambientalista?
Havia inúmeras alternativas, quase todas a passar pelo betão, mas decidiu-se por aquele que mais afastado tem estado, e sempre estará, da figura do nosso autarca. É o nosso dever como cidadãos rebelar-nos diariamente contra as burdas tentativas da reescrita da história especialmente quando ela é tão recente que ainda ecoa na nossa cabeça.
O ambiente deveria ser imune a ideologias assim como o nosso planeta A. Os dois sofrem com elas e algum dia nós também. Já estivemos bem mais longe.
* Gestor, movimento Juntos pelo Rossio.
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