Alertas e incertezas em torno da questão: como são usadas as TIC pelas crianças e jovens?

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Imagem de um desenho original por: "La niña" by Maria Mantas.
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As crianças e os jovens usam as TIC sem controlo podem vir a ser adultos desadaptados e isolados? Crianças que crescem afastadas das tecnologias serão adultos impreparados para o mercado de trabalho?

Por Maria João Loureiro *

Foi publicado recentemente, na página da IDEAS.TED.COM, um artigo com uma contraproposta ao conceito de “digital natives” (termo cunhado por Mark Prensky) que requer a meu ver reflexão.

Muito sucintamente, para o autor, existem três perfis de utilização das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC). No primeiro as crianças e os jovens usam as TIC sem controlo, podendo vir a ser adultos desadaptados e isolados, por falta de reflexão sobre as consequências e perigos do uso das TIC.

O segundo é das crianças que crescem afastadas das tecnologias, o que pode ter como resultado serem adultos impreparados para o mercado de trabalho dado, entre outros, as entidades patronais poderem não oferecer opções de serviço presenciais.

Estas crianças podem, na sua juventude, iniciar as suas vidas online e ter dificuldades para utilizar as TIC de forma equilibrada, tornando-se em utilizadores intensos de redes sociais e provavelmente defrontando-se com vários problemas (usar as redes de forma insegura, pouco sustentável e crítica, ser sujeitos a bullying).

O terceiro tipo de utilizadores são as crianças e jovens que usam as TIC de forma guiada e segura, dado os adultos (pais, professores) orientarem a sua educação tecnológica e discutirem com eles como as usar de forma responsável. De acordo com o autor, na vida adulta estes utilizadores “informados e formados” usam a tecnologia de forma criativa e terão sucesso no mundo do trabalho.

A leitura do artigo levantou-me diversas inquietações, mas assiná-lo aqui três:

1) da descrição dos perfis, pode inferir-se que o autor considera que a vida profissional, social, política, hoje e no futuro, envolve sempre o uso das TIC e que, portanto, estar sempre ligado é dado adquirido. Será?

2) a classificação está centrada nos jovens do “primeiro mundo” esquecendo que a maioria das crianças crescem em contextos onde não há luz, nem água, já para não aludir à falta de alimentação. Assim sendo, temos muitas crianças (a maioria) que serão excluídas desse mundo em que as TIC são ubíquas e terão muito pouca possibilidade de se integrar porque nesse mundo não há lugar para os infoexcluídos;

3) não considera as crianças que crescem rodeadas de tecnologia e as usam com parcimónia, espírito crítico, criatividade, segurança, porque sabem que são recursos que devem ser usados com objetivos claros, estão alertadas para os problemas de saúde que podem acarretar, bem como para o isolamento que podem gerar, entre outros, em suma têm competências digitais. Acrescente-se que essas crianças potencialmente serão jovens e adultos que sabem que há vida para além das tecnologias, que apreciam livros, o estar com os outros, em contextos de multiculturalidade, o contacto com a natureza, que fazem voluntarismo, que estão alertados para a sustentabilidade do planeta, tão ameaçada, e repensam, reduzem, recusam, reutilizam… e criam usando preferencialmente produtos reutilizáveis, recicláveis, etc.

Parece-me ser este o caminho que leva ao desenvolvimento de crianças e jovens preparadas para a cidadania plena e global. Se pretender aprofundar este tema (tendo acesso a vários recursos com diferentes perspetivas) pode consultar a página do seminário “Alunos, escola, família, sociedade e tecnologias: Ubiquidade? Dependência?

* Investigadora do Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo originalmente escrito para o site UA_online.

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