Ainda o idadismo!

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Idosos (Foto genérica).

Na bomba de gasolina, ao receber a factura correspondente ao combustível com que havia atestado o depósito, o jovem que me estava a atender despediu-se com um “bom dia, menina”! Num espaço onde se encontravam outros clientes, tive que dizer que não voltasse a usar esse tratamento para pessoas mais velhas que não o autorizaram a ser infantilizadas dessa maneira. Fez-se silêncio, espero que, pelo menos nesse espaço, o mesmo jovem não volte a utilizar esse tipo de cumprimento.

Por Maria do Rosário Fadista Monteiro Gama *

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Há quem ache que é um tratamento carinhoso, eu não penso assim e defendo que ninguém deve aceitar ser tratado de um modo que não corresponda à sua idade. Dei comigo a pensar que nunca ouvi dizer “bom dia menino”, ou seja, esse tratamento é essencialmente dirigido às mulheres mais velhas. Já tive que devolver ao meu médico oftalmologista o “bom dia menino” em réplica ao “bom dia menina”, com que me recebeu. Percebeu e substituiu por “bom dia, como está?”.

Este é um combate antigo da APRe!, já referido várias vezes a propósito do tratamento ”por tu” em muitos lares, feito pelas/os auxiliares no contacto com os utentes e que se insere no combate mais amplo ao idadismo, ou seja, contra o preconceito que se manifesta através de atitudes discriminatórias em relação às pessoas com base na sua idade. Essa forma de discriminação, que também pode ser dirigida aos mais jovens, destaca-se predominantemente no tratamento das pessoas mais velhas, que muitas vezes enfrentam estereótipos negativos, marginalização e exclusão social.

Vejamos outro exemplo: a Caixa Geral de Depósitos (CGD) disponibiliza um serviço chamado “Caixa Azul”, serviço esse exclusivo, com um Gestor Dedicado, que o cliente acompanha mesmo à distância e que lhe oferece soluções financeiras à medida. Para usufruir desse serviço é preciso obedecer a certas condições e é na tabela disponibilizada sobre as condições de acesso que encontramos a discriminação em função da idade. Para obter condições idênticas às de um cliente com 32 a 50 anos que receba um salário líquido de 2500€/mês, um reformado com idade entre 71 e 80 anos tem de receber uma reforma líquida superior a 3500€/mês ou seja, uma reforma bruta da ordem dos 6000€/mês. “Acima dos 80, ou as limitações deixam deexistir, ou os “decisores” da CGD postularam que essa gente já devia estar morta.

A “banca pública” não é para velhos!” (António Dias Figueiredo, in Facebook). A discriminação na banca e também nos seguros é generalizada, tal como em diversos sectores da sociedade, incluindo a saúde e as representações na comunicação social. Nos cuidados de saúde, é possível os profissionais subestimarem as queixas de pacientes mais velhos, atribuindo as suas condições a factores relacionados com a idade, em vez de investigarem causas subjacentes. Na comunicação social, os idosos frequentemente são retratados de maneira estereotipada, reforçando a ideia de que são menos activos ou relevantes.

O idadismo alimenta a crença de que a idade é sinónimo de incapacidade, ineficiência ou falta de relevância, desconsiderando as contribuições e as experiências valiosas que indivíduos mais velhos podem oferecer.

O combate ao idadismo é uma responsabilidade colectiva que envolve a vontade de construir uma sociedade mais justa e inclusiva. Valorizar a riqueza de experiências de todas as idades não apenas enriquece a nossa convivência, mas também cria um ambiente onde todos podem prosperar, independentemente de sua idade.

* Presidente da APRe ! – Associação dos Aposentados, Pensionistas e Reformados. Artigo publicado no Boletim de Notícias APRe !.

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