Agricultura: Trilhos do futuro

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O futuro passa pelo equilíbrio à escala mundial sobre os recursos naturais, e os políticos nomeadamente os governantes têm grandes responsabilidades no compromisso que devem estabelecer entre todos, no timing, nas metas e objetivos concretos a atingir, nesta luta em prol da defesa do planeta.

Por Firmino Cordeiro *

O planeta Terra tem de ser preservado, e todos devemos adotar práticas com vista à sua “melhoria” e “restauro”, atendendo ao somatório dos danos que nas últimas décadas as diferentes civilizações humanas foram causando, alguns mesmo de difícil ou impossível recuperação, veja-se o exemplo da extinção de inúmeras espécies animais, vegetais e microrganismos.

O desleixo da espécie humana em relação ao planeta tem sido de tal ordem, que o aviso permanente e constante de inúmeras organizações internacionais, nomeadamente das Nações Unidas, não consegue mobilizar as grandes potências mundiais a falarem a uma só voz em relação a todas estas temáticas. A consequência que agora virou rotina nas diferentes geografias do globo são alterações climáticas, assistimos nos nossos dias a fenómenos de secas extremas, inundações, tempestades, tufões e outras, devastadoras, como nunca tínhamos presenciado.

Estes fenómenos estão a condicionar a vida em muitas regiões do globo, com consequências terríveis inclusive para a espécie humana.
Atendendo ao facto estimado do crescimento da população a nível mundial ser muito expressiva nas próximas décadas, o que implica quase duplicar a produção de alimentos, vai seguramente colocar ainda mais pressão sobre os recursos terra arável, água, e recursos minerais à escala do nosso planeta e suas civilizações.

A agricultura foi, está a ser e vai continuar a ser uma atividade preponderante e crucial no futuro, mas vai ter de reciclar mais, evitar ao máximo o desperdício, ser o mais eficiente possível, menos poluidora e sustentável, isto é, produzir com poucos danos no solo, nos recursos naturais, nas reservas de água, no clima e no ar.

Sempre reclamamos para os agricultores uma segunda função, guardiões da natureza e promotores de sustentabilidade, é chegada a hora de uma vez por todas e à escala mundial, remarmos no mesmo sentido, e juntarmos nesta segunda função que já vem sendo nossa, a sociedade civil como parceira e reconhecedora desta nobre função que os agricultores vêm fazendo, mas que o devem fazer de forma afincada com objetivos e metas bem definidas em prol da defesa do planeta.

A agricultura de precisão tem de se generalizar cada vez mais a um maior número de agricultores e agriculturas (mesmo na agricultura de índole familiar), em que o aumento das produções e da sua qualidade, assenta na base de conhecimentos minuciosos das plantas, dos animais, dos ciclos dos agentes causadores de pragas e doenças, dos organismos auxiliares, na utilização de produtos cada vez mais naturais no seu combate, bem como na eficiente utilização da água para rega, na utilização racional dos fertilizantes de síntese, e na descarbonização do Globo.

A tecnologia tem de ser de ponta, porque as exigências são enormes e os recursos naturais são extremamente limitados, esta revolução já está a ser feita e tem de continuar ainda com mais afinco a ser feita com Jovens Agricultores e com Jovens Empresários Rurais.

Jovens: agentes de um “Êxodo Urbano”

Estes são os grandes benefícios para o futuro do Planeta e obviamente para Portugal, se efetivamente se apostar em políticas de incentivo para que os Jovens sejam agentes de um “Êxodo Urbano”, e possam rumar aos territórios rurais, carregados de ideias inovadoras e de negócio, capazes de inverter o ciclo de abandono e tornar estas regiões tão atrativas quanto possível, revitalizando-as.

A capacidade dos agricultores portugueses em incorporar inovação ainda é baixa, dada a reduzida escala da atividade. Há um longo caminho a percorrer neste setor, incluindo ao nível das organizações de produtores, associações e cooperativas. A maioria das organizações de produtores mantém-se focada na guerra de preços com os canais de distribuição e na recolha de candidaturas anuais dos agricultores, quando seria necessário reinventar a cadeia de valor, apostar em inovação, tecnologia e ferramentas digitais.

O País, embora pequeno, é muito desigual, das desigualdades investindo mais e melhor devemos criar oportunidades, mas não devemos acentuar desigualdades como infelizmente se tem verificado.

Na definição de políticas e na divisão dos montantes de apoio pelas diferentes regiões e beneficiários, recaem quase sempre interesses organizados, lóbis e tendências que têm privilegiado claramente algumas regiões em detrimentos de outras e grupos de beneficiários em detrimento de massas bem maiores de possíveis beneficiários.

Relativamente ao apoio destinado aos jovens agricultores subsistem diferenças que devem ser acauteladas nas medidas e regulamentação ao seu incentivo; investir em regiões estruturadas (eletrificação, regadio, estruturas consolidadas de comercialização e exportação, com mais apoios sociais, educação e outros), é bem diferente do que se um jovem investir em zonas onde ainda faltam muitas infraestruturas. Pelo que é necessário que os grandes investimentos nacionais (barragem, regadios, emparcelamento, eletrificação rural, serviços, etc.), também devam surgir nestas regiões. Os apoios aos jovens agricultores devem ser diferenciados, tem de existir uma verdadeira diferenciação no prémio de instalação, mas também na percentagem de apoio ao investimento, em função das caraterísticas das regiões onde se instalam.

A versão final do PEPAC, em construção, tem de assentar nestes pressupostos base e ser clara, não deve ser confusa, obscura e de difícil acesso para os beneficiários mais débeis, acabando sempre, como sempre tem acontecido, por privilegiar os mais organizados, mais conhecedores e mais influentes.

A União Europeia foca as suas prioridades na digitalização, no desenvolvimento das regiões mais desfavorecidas, nos jovens e na máxima de que não podemos deixar ninguém para trás. Equilibrar mais o investimento e o desenvolvimento das diferentes regiões, é estimular mais as regiões mais débeis, fornecer-lhe mais ferramentas, mais acompanhamento e formação técnica, digital e empresarial.

Como alguém recentemente disse acerca destas discussões mais acesas, não podemos mudar o mundo, mas se ninguém fizer nada e enfiarmos a cabeça na areia, quando temos algumas responsabilidades a nossa passagem passa mesmo despercebida.

* Diretor-geral da Associação Jovens Agricultores de Portugal (AJAP). Artigo originalmente publicado em https://www.agriterra.pt.

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