Agricultura: Situação demográfica, falta de mão-de-obra e ensino

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Num mundo em constante mudança e cada vez mais competitivo, as empresas têm de se ajustar rapidamente às novas exigências e apresentar propostas de valor para prosperarem. A falta de mão-de-obra e o envelhecimento da população são os fatores que mais estão a impactar negativamente e a condicionar a atividade produtiva.

Por Marisa Costa *

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Em 2001, o número de pessoas com 65 ou mais anos ultrapassou o número de crianças e jovens com menos de 15 anos. Atualmente, há quase duas vezes mais séniores que crianças e jovens no nosso país. Por cada 100 residentes em Portugal, 13 são crianças, 64 estão em idade ativa e 24 têm 65 anos ou mais, o que evidencia que a população está a envelhecer.

Desde 2009, o número de imigrantes é três vezes maior do que o de emigrantes, contribuindo para os saldos migratórios positivos. Verifica-se um crescimento da população a partir de 2019 devido à entrada de imigrantes em Portugal.

Com uma população cada vez mais envelhecida e com um saldo demográfico negativo, a imigração assume particular relevância no contexto empresarial português e europeu. São cada vez mais as empresas que optam por integrar trabalhadores imigrantes.

Sabe-se que mais de 40 milhões dos trabalhadores migrantes estão na Europa.

Portugal está a perder talento, continuamos a perder entre 15 a 20 mil jovens qualificados por ano, ou seja, cerca de 40% do total de novos licenciados em cada ano. Portugal é o país da União Europeia com a maior proporção de emigrantes, tendo em conta a população residente (dados de 2020).

Não só perdemos profissionais qualificados para a emigração, como estamos a desperdiçar grande parte do investimento realizado em educação. Verificamos que quem vai não quer voltar, o que significa que também estamos a perder uma parte considerável dos futuros portugueses que assim nascem fora do país.

É urgente repensar todo o modelo e processo educativo em Portugal. O mundo mudou e o sistema de ensino está obsoleto, não respondendo às necessidades do mundo atual. Urge repensar a estratégia e renovar o sistema de ensino. É necessário apostar no cruzamento das várias áreas, promover a heterogeneidade, criar pontes e sinergias na cultura e no conhecimento.

A educação/formação deve ser o pilar de todo e qualquer país. Cada vez mais, os cursos técnico-profissionais ganham maior relevância. Estes cursos são uma mais-valia, porque têm como objetivo a aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento de competências, por parte do aluno, para que a sua integração no mercado de trabalho seja mais fácil.

Em Portugal, como gerimos o ensino profissional? Direcionamos os alunos com mais dificuldades, baixo aproveitamento escolar e menor motivação para estes cursos. Qual é o resultado? Hoje, precisamos de um eletricista, canalizador, mecânico e não existe mão-de-obra disponível.

Um bom exemplo

Situada em S. Pedro de Rates, na Póvoa de varzim, a CEACV atua em três áreas: agropecuária, mecatrônica automóvel e turismo ambiental e rural. A escola insere-se no meio rural, rodeada da natureza e funciona em regime de alternância.

Nos últimos anos, são várias as empresas que contactam a CEACV à procura de mão-de-obra, principalmente na área agrícola. Com um setor cada vez mais envelhecido (3% dos agricultores têm menos de 35 anos) são cada vez menos os interessados em fazer formação nesta área. A exigência da tarefa e o fraco rendimento à produção fez com que fossem os próprios agricultores a desincentivar os filhos desta atividade e isto reflete-se agora na disponibilidade de mão-de-obra.

Atenta às conjetura atual e numa atividade dinâmica e proativa, em 2023, a CEACV recebeu alunos de S. Tomé e Príncipe. Atualmente, a escola conta com 86 formandos, dos quais 39 são oriundos de S. Tomé e Príncipe.

Numa altura em que o país atravessa uma crise de mão-de-obra qualificada, a CEACV, consciente do seu papel na sociedade em que está inserida, procura dar resposta e contribuir para o crescimento e desenvolvimento económico.

A integração de alunos estrangeiros foi um desafio que a escola aceitou e o objetivo é proporcionar a estes alunos uma experiência de socialização e integração na nossa sociedade, permitindo também que possam adquirir novos conhecimentos e desenvolver novas competências.

No final da formação estes alunos poderão optar por permanecer em Portugal ou regressarem a S. Tomé.

Não se obtêm resultados sem pessoas e não há crescimento e desenvolvimento económico sem mão-de-obra qualificada. Precisamos de pessoas polivalentes, multifacetadas, capazes de enfrentar qualquer desafio.

As alterações demográficas, ambientais e tecnológicas estão a transformar a economia e a sociedade, impulsionando empresas e os próprios governos a desenvolver estratégias de adaptação e respostas rápidas e eficazes.

Todas as iniciativas, sejam elas públicas ou privadas são importantes porque direcionam a evolução dessas transformações através de inovações políticas e empresariais.

* Vice-presidente da Associação para Defesa dos Produtores e do Leite Português (APROLEP). Artigo publicado originalmente no Agroportal.

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