Em Portugal, ainda existe um fosso entre as novas e as velhas gerações. A geração mais preparada de sempre está pouco presente quer nos centros de decisão política, quer nos centros de decisão económica.
Por Alexandre Meireles *
Dos órgãos de soberania aos conselhos de administração das empresas, verifica-se uma escassa representação dos jovens e, em consequência, estes têm menores oportunidades de liderança, menor intervenção nos destinos do país e menor capacidade de defender os seus interesses.
Conviria, por isso, acelerar a transição geracional na sociedade portuguesa para, por um lado, rentabilizar melhor as competências especializadas dos jovens e a sua maior disponibilidade para o risco, a inovação e a criatividade e, por outro, para que os anseios e expetativas das novas gerações sejam devidamente acautelados. Não se trata, bem entendido, de promover uma rutura entre gerações, mas sim de dar maior diversidade geracional aos centros de decisão.
No caso das empresas, há todo o interesse em integrar profissionais de diferentes faixas etárias, de modo a tirar partido da pluralidade de perfis sociais, comportamentais e culturais que cada geração representa. Esta diversidade geracional favorece a produtividade, a transmissão de conhecimentos e competências, a boa tomada de decisões, a motivação profissional e o compromisso com a empresa, a tolerância e abertura a novas ideias, a qualidade da organização interna e a cultura laboral.
Acresce que, com a crescente incorporação das tecnologias digitais na atividade empresarial, o papel dos jovens nas empresas ganhou uma redobrada importância. Ter nativos digitais na estrutura das empresas garante, à partida, maior apetência e conhecimento no uso de tecnologias disruptivas, como as TIC, o big data, a inteligência artificial, a robótica ou internet das coisas, por exemplo. Com a transição digital, torna-se ainda mais conveniente a presença de jovens nos centros de decisão empresarial.
Uma outra transição, a climática, também tem muito a ganhar com uma presença mais ativa e constante dos jovens nos processos decisórios das empresas. Sabemos que as novas gerações revelam maior sensibilidade para as questões ambientais e maior conhecimento para promover a descarbonização da economia, designadamente implementando estratégias de economia circular dentro das empresas. Enquanto fator crítico de competitividade e princípio de responsabilidade social, a sustentabilidade ambiental depende, em boa medida, da crescente intervenção de talento jovem nos processos produtivos e modelos de negócio das empresas.
Mas, para que a aceleração da transição geracional seja possível, importa que, a montante, a economia portuguesa revele capacidade para reter e valorizar o talento que é formado nas suas instituições de ensino superior. Só vamos ter mais jovens nos centros de decisão se, de facto, Portugal conseguir fixar talento, dando-lhe melhores condições profissionais, académicas e de vida. Logo, é indispensável combater a “fuga de cérebros” para países mais atrativos, designadamente ao nível dos salários.
Por último, a passagem de testemunho entre gerações implica, necessariamente, que os jovens estejam dispostos a assumir um maior protagonismo na vida pública. Ora, os jovens portugueses estão ainda longe dos níveis de participação cívica e política que seriam desejáveis. Convém, pois, criar incentivos a uma cidadania mais ativa dos jovens, bem como mecanismos mais adequados à intervenção das novas gerações nos destinos do país.
* Presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários. Artigo publicado originalmente no site Linktoleaders.com.
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