A violência e a submissão ao medo

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Foto de Rosa Venâncio.
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A violência doméstica é um crime continuado e que parece agudizar-se no tempo, daí a importância de todas as campanhas de sensibilização, de todas as medidas governamentais, de vigílias e manifestações.

Por Sara Tavares *

25 de novembro,18h30, Praça Dr. Joaquim Melo de Freitas, Aveiro.

Assinalou-se o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres. No chão o nome das trinta e duas vítimas contabilizadas este ano: vinte e três mulheres, oito homens e uma criança: baleadas, espancadas, esfaqueadas, estranguladas, asfixiadas.

Quantos estávamos? Cerca de trinta, ironicamente quase o mesmo número das vitimas deste ano. Custou-me muito por todas as vítimas sentir a falta de interesse pelo problema e a curta mobilização dos meus concidadãos.

Dir-me-ão que estas vigílias e manifestações não terão efeito prático a curto prazo, não obstante, na minha opinião, orientam o nosso olhar para este flagelo, trazem o assunto a lume, consciencializam a nossa responsabilidade cívica enquanto cidadãos e educadores.

É um dia de luto, que simboliza todos os outros dias, nos quais nos noticiam mais uma morte às mãos da violência doméstica.

O número de mulheres prevalece, a fragilidade física e psicológica de algumas hipoteca-lhes a vida, subtrai-lhes a coragem. Que triste destino o tal Amor lhes guardou.

A violência doméstica é um crime continuado e que parece agudizar-se no tempo, daí a importância de todas as campanhas de sensibilização, de todas as medidas governamentais, de vigílias e manifestações. Estas últimas estão à mão de todos, mostram também a nossa solidariedade e respeito para com as vítimas e os seus familiares.

Há uma sociedade da comunicação que tem muita pena deste flagelo que lembra que a vida, às vezes, é feia, de um ódio capaz de matar. Estranhei não ver naquela vigília algumas feministas acérrimas que fazem umas partilhas no Facebook sobre o tema, no conforto do seu lar.

Lembrei-me, igualmente, de relatos sobre vizinhas e olhares de soslaio e dó, daquela que sobrevive amargurada sem saber muito bem como sair do pesadelo em que vive entre gritos e empurrões.

Bem sei que se reflete, na dúvida, entre saber o limite de respeitar a privacidade do outro e a responsabilidade cívica de denunciar a violência. Adia-se a decisão de intervir, por vezes, até ao dia, em que é tarde demais.

É fulcral que se sensibilize a sociedade para este crime, que tem crescido no tempo.

Têm vindo a ser tomadas medidas no sentido de proteger as vítimas cada vez mais, mas não têm sido suficientes para travar o número de mortes. Que se tomem mais decisões, que se criem medidas eficazes, que minimizem os casos de violência e sobretudo permitam que essas vítimas possam quebrar esse elo com o agressor e viver em liberdade, sem medo.

Precisamos de agir! Precisamos de denunciar ! Fingir não é solução.

Sara Tavares.

* Professora, vogal do PS na Assembleia Municipal de Aveiro ([email protected]).