Vai ser uma década de grandes desafios e oportunidades para a Engenharia nacional, em praticamente todas as áreas de atuação, com fortes investimentos em infraestruturas, nomeadamente ferroviárias, na reindustrialização, no ensino e na investigação, na agricultura, e na modernização e adequação da Administração Pública.
Por Carlos Mineiro Aires *
O tema de capa desta edição da INGENIUM, “2020-2030 | Uma Década de Investimento”, para além de oportuno, procura transmitir a atenção da Ordem dos Engenheiros para o que consideramos ser a última oportunidade para o nosso País.
Uma década que vai ser marcada pelos últimos grandes quadros de apoio comunitário que, até 2030, vão fazer afluir perto de 58 mil milhões de euros, o que equivale a um valor médio de 6,4 mil milhões de euros por ano.
Os financiamentos advêm, basicamente, do PT 2020, que ainda se estende até 2023, do Plano de Recuperação Europeu, do Quadro Financeiro Plurianual, de empréstimos, que terão impacto na dívida pública, e de fundos nacionais.
Como também é público, o Governo socorreu-se de um Engenheiro para elaborar o que é a sua visão estratégica para a nossa recuperação económica, o que os engenheiros têm de saudar independentemente de outros pontos de vista que legitimamente possam ter.
O Plano de Recuperação e Resiliência que daí decorreu, da exclusiva responsabilidade do Governo, e que ainda terá de ser aprovado por Bruxelas, assenta em três grandes blocos: resiliência, transição climática e transição digital.
Vai ser uma década de grandes desafios e oportunidades para a Engenharia nacional, em praticamente todas as áreas de atuação, com fortes investimentos em infraestruturas, nomeadamente ferroviárias, na reindustrialização, no ensino e na investigação, na agricultura, e na modernização e adequação da Administração Pública, que hoje não tem capacidade para dar resposta aos desafios que se colocam, uma vez que o Estado permitiu a sua desarticulação e estagnação.
Neste contexto, também assumirão relevância o combate às chocantes vulnerabilidades sociais que persistem e outros aspetos cruciais como o potencial produtivo, a coesão territorial e o aumento da competitividade da nossa economia, sobretudo na sua transformação e aposta em modelos de cresci-mento baseados na produção de bens transacionáveis, com valor acrescentado, e na concentração em nichos de mercado seletos e exclusivos.
Os resultados recentes das colocações das candidaturas ao ensino superior permitem afirmar que a Engenharia continua a ser uma atividade altamente cativante para os jovens imaginativos e com ambição.
Não perdemos a esperança de que estes venham a ter salários e condições que façam crescer, ainda mais, a atratividade para a profissão.
A par, vivemos momentos de incerteza, pois a crise e a situação sanitária originadas pela pandemia não permitem que possamos perspetivar o seu fim, sendo certo que os impactos sociais e económicos são deveras preocupantes.
É, assim, neste misto de oportunidades e fraquezas que o País vai ter de encontrar o caminho para otimizar o aproveitamento dos financiamentos, numa base de total transparência e de acesso à informação que permita o escrutínio público e reduza a suspeição, para que não seja perdida esta última oportunidade e para que possamos legar um País melhor às gerações que nos sucederão.
* Bastonário da Ordem dos Engenheiros. Editorial da edição de Outubro, Novembro e Dezembro da INGENIUM, revista da Ordem dos Engenheiros.