Para que no futuro as gerações possam continuar a ter acesso e usufruto dos serviços dos ecossistemas, devemos tomar essas medidas já.
Por André Oliveira *
A sobrevivência humana nunca esteve tanto na ordem do dia como acontece atualmente. Com a chegada de uma pandemia que tem afetado todas as nossas vidas, quer pelo impacto na nossa saúde quer pela forma como olhamos as sociedades, têm sido tempos de grande isolamento. Porém, se por um lado estes trazem momentos mais depressivos e de grande infelicidade, por outro permitem que reflitamos sobre os nossos comportamentos enquanto indivíduos e enquanto comunidade no sistema dinâmico que é o planeta Terra.
A Terra é definida como um sistema fechado que recebe energia vinda do Sol e emana energia para o espaço, mas não permite trocas de matéria com o exterior. Assim sendo, tudo aquilo que é criado e destruído no planeta fica cá. Porém, como dizia Antoine Laurent de Lavoisier, “na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. São estas transformações que se têm verificado desde a formação do planeta que alteram todas as funcionalidades na Natureza, levando ao aparecimento e extinção de espécies.
Desde há muitos séculos, o ser humano tem alterado de forma significativa todo o planeta através das suas ações, com consequências negativas para a biodiversidade, como a destruição da camada do ozono, a destruição das florestas húmidas, a sobreexploração dos bancos de pesca, entre outras. Todas estas alterações têm levado à extinção de milhares de espécies, algumas delas ainda nem sequer foram descritas pela ciência, correndo a passos largos para uma possível extinção em massa provocada pelo Homem.
Contudo, o ser humano faz parte do planeta Terra e estas alterações vão ter consequências diretas e indiretas para si. As espécies que existem atualmente no planeta são bastante importantes para a manutenção das populações humanas, prestando serviços que são indispensáveis à sua sobrevivência e estando associados à qualidade de vida e bem-estar das sociedades. Os serviços dos ecossistemas (assim denominados) podem ser exemplificados quer através da polinização, decomposição da matéria orgânica, acesso a água potável, disposição de recursos genéticos, até ao património cultural, ecoturismo, educação, formação de solo, ciclo de nutrientes, produção primária, sendo centenas os valores da biodiversidade. Embora até há poucos anos ninguém se interessar por estas vantagens para o Homem, atualmente já estamos a caminhar para a quantificação económica destes serviços e já poderemos num futuro próximo ser beneficiados monetariamente apenas por estarmos a tomar medidas “amigas do ambiente”.
Para que no futuro as gerações possam continuar a ter acesso e usufruto dos serviços dos ecossistemas, devemos tomar essas medidas já. A exploração sustentável da agricultura e pecuária, a utilização de energias renováveis, o uso inteligente da água disponível, a alteração de hábitos de consumo e a redução e reutilização de resíduos são práticas que estão ao alcance de qualquer um e cada pessoa tem o poder de fazer a diferença no futuro. Mais do que os aspetos económicos, lembremo-nos que tudo aquilo que fazemos hoje vai ter resultados ainda maiores no amanhã e se beneficiarmos a natureza vamos nos beneficiar enquanto espécie deste planeta azul.
* Biólogo e Técnico Superior no projeto LIFE LINES
Artigo publicado originalmente no site Essência do Ambiente.