A sobrevivência do desporto dependente do vício

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Após o Conselho de Ministros e a União Europeia começarem a limitar o vício do tabaco para tentar acabar definitivamente com o mesmo impõe-se a ideia de seguir o que outros países estão a fazer e atacar também outros vícios da população.

Por Diogo Fernandes Sousa

Dentro desses vícios estão os jogos de sorte e azar, nomeadamente as apostas desportivas, que movimentam quantidades ridículas de dinheiro que depois vemos investido no próprio desporto enquanto publicidade dos clubes e das ligas.

Internacionalmente, observamos países como a Bélgica e constatamos medidas musculadas para combater este vício, tal como, por exemplo, a proibição do patrocínio das empresas detentoras de jogos de sorte e azar em toda as modalidades desportivas.
Medidas que parecem exageradas, contudo baseadas num estudo, prolongado temporalmente, que permitiu concluir que a remoção destes patrocínios permitiria reduzir significativamente o número de viciados no jogo e acabar com os custos sociais que lhe estão associados.

Naturalmente que há drásticas consequências uma vez que, na Bélgica, dezasseis equipas da primeira divisão de futebol, o naming de estádios e a quase totalidade das equipas de ciclismo dependem destes patrocínios, contudo importa perceber aquilo que confere maior valor social, ou seja, acabar com este vício ou manter apoios nos clubes que podem e devem arranjar patrocínios substitutos.

Outro exemplo internacional é a Premier League, principal campeonato inglês de futebol, onde as equipas vão poder continuar com os patrocínios destas casas de jogo, contudo apenas poderá estar presente no espaço reduzido das mangas da camisola para diminuir a sua visibilidade.

Agora vamos transpor para Portugal onde a própria liga é apoiada por estas casas de apostas, mas também onde bastantes clubes da primeira liga recebem estes apoios como os seus principais – 12 das 18 equipas da primeira liga.

Assim, o que sugeria para Portugal era uma transição progressiva, como está a realizar-se nestes exemplos internacionais. Ou seja, tal como na Bélgica, mas num período mais alargado, estabelecer primeiramente a proibição do patrocínio principal nas camisolas de jogo até 2026 e, posteriormente, a proibição total do patrocínio destas empresas em todas as modalidades desportivas a partir de 2030.

Naturalmente que já sabemos as consequências destas medidas e a possibilidade de alguns clubes reduzirem orçamentos, contudo, honestamente, se uma equipa não consegue arranjar um bom patrocínio substituto num espaço de seis/sete anos, algo se encontra errado nesse projeto desportivo.

Basta, também, olhar para a realidade nacional até há poucos anos atrás onde maior parte das equipas eram apoiadas por empresas de telecomunicação ao invés do cenário atual das empresas de jogos de sorte e azar.

Concluindo, está na ordem do dia o combate a vícios nocivos com a introdução de medidas contra o tabaco, contudo não podemos deixar no esquecimento o álcool e os jogos de sorte e azar. Acompanhando estudos e ações promovidas internacionalmente, percebemos que a proibição de patrocínios desportivos por parte de empresas dos jogos de sorte e azar conferem um impacto social positivo e diminuem a quantidade de viciados no jogo.
Sugerimos assim uma transposição, mais alargada temporalmente, para Portugal, permitindo combater o vício do jogo que afeta cada vez mais população, e inclusive jovens ainda menores de idade, mas também dar o tempo necessário aos projetos desportivos para que estes se reestruturem.

* Professor do Ensino Básico e Secundário.

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