Face aos impactos da pandemia nos transportes públicos, o Bloco voltou a confrontar o presidente sobre a situação que se vive na AveiroBus na Assembleia Municipal. Insistimos em saber se a CMA vai ou não ajustar os pagamentos ao concessionário privado face à brutal redução do serviço nos últimos meses.
João Moniz *
A crise pandémica veio colocar uma pressão enorme na capacidade de resposta de vários serviços públicos, incluindo os transportes coletivos. O investimento nos transportes públicos já era uma urgência nacional que a pandemia apenas veio catalisar.
Aveiro não é exceção, onde a mobilidade coletiva foi entregue pela maioria PSD/CDS a preço de saldo à Transdev, uma das maiores multinacionais do setor.
A concessão foi um dos maiores erros do município dos últimos anos. Perdemos o melhor instrumento de mobilidade do concelho, a grande custo trabalhadores dos transportes e das populações que viram o serviço ser significativamente reduzido enquanto os preços em muitas das linhas aumentaram.
Este erro pode muito bem ser retificado. Apenas falta vontade política para romper com os velhos dogmas anti propriedade e gestão pública.
Face aos impactos da pandemia nos transportes públicos, o Bloco voltou a confrontar o presidente sobre a situação que se vive na AveiroBus na Assembleia Municipal. Insistimos em saber se a CMA vai ou não ajustar os pagamentos ao concessionário privado face à brutal redução do serviço nos últimos meses.
Na sua costumeira evasão, Ribau Esteves deixou escapar, talvez por descuido, que a Transdev encontra-se numa situação dramática e que todas as opções estão em cima da mesa: “A hipótese de reversão da concessão é objetiva […] está em cima da mesa”.
À interpelação do Bloco, o presidente responde “tomara eu ter 1,200 milhões proporcionais ao tamanho da AveiroBus para resolver o problema gravíssimo”. Segundo o edil, “se a empresa sair ou falir, qualquer coisa, nós temos de pegar no assunto e vamos pegar”.
A Transdev tem recebido imenso capital público ao longo dos anos: pagamentos das autarquias, fundos europeus para financiar a frota, e com o lay-off dos motoristas, transferências da segurança social para pagar salários aos seus trabalhadores e trabalhadoras. É inaceitável que uma empresa com contrato público recorra ao lay-off, socializando assim ainda mais os seus custos.
O investimento nos transportes públicos é uma necessidade absoluta para o futuro do país. Se levamos a sério a ameaça imposta pela crise climática, a única alternativa viável é o investimento e requalificação nos nossos serviços públicos de mobilidade, geridos democraticamente, de forma a garantir a descarbonização e a justiça social.
Em Aveiro, os transportes nunca deviam ter saído da esfera pública. Queremos a reversão imediata da concessão, essa é a única alternativa que protege o serviço público e as populações.
Vamos continuar a despejar dinheiro público nos privados em vez de investir num serviço verdadeiramente público de transporte?
* Eleito do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal de Aveiro.