Olhares atentos e preocupados que desvendam, entre o sério e o motejo, aquilo em que nem todos reparam.
Por António Souto *
Primeiro foram os versos, soltos, em pequenas publicações, por fim em livros.
Depois, quando em Estrasburgo, juntaram-se aos poemas as crónicas inaugurais, todas para periódicos que me eram familiares: de Aveiro, de Albergaria, de Angeja. Pequenos textos em torno da descoberta da cidade ‘capital da Europa’ e da região alsaciana, i.e, de quanto nelas há de histórico, cultural, diverso e deslumbrante. Oito anos de parceria, graciosa e nem sempre constante, mas de prática narrativa, escrita contida e analítica, onde, com as devidas ressalvas, cabe boa parte dos ingredientes da poesia.
Regressado a Lisboa, é interrompida, por vontade própria, a colaboração nos jornais. A produção lírica vai persistindo ao ritmo da disponibilidade, sem pressas e sem quaisquer objetivos que não o prazer da lavra poética.
Entretanto, e publicando novas crónicas num blogue (Floresta do Sul), surgirá, em 2013, um convite para voltar ao registo cronístico, mas agora em página de revista mensal, de recursos humanos («human»). Um desafio simpático e sem restrições, aceite sem reservas, e que se mantém ainda.
Este percurso, de muitos anos, deu lugar, neste género, a uma antologia seletiva (Hoje É Tudo Falso, On y va, 2019), que reúne textos de dois livros (Ex Abrupto, debatEvolution, 2011, e Dupla Expressão, debatEvolution, 2016) e a este Não Há Volta a Dar (debatEvolution, 2021), recentemente apresentado – em novembro, em Lisboa, dia 23, e em Angeja, terra natal do Autor, dia 27.
Sobre este último, que recupera algumas das linhas de força dos livros anteriores, repesca-se a nota registada na contracapa:
Coisas miúdas de um quotidiano fértil de casos e descasos, algumas reflexões em torno da escola e de quem nela anda – à mistura com recordações de uma infância talhada de muitos apertos e de muitos sonhos –, alguns soluços abatidos neste nosso tempo confinado de pandemia.
De tudo isto se compõem as crónicas que dão forma a este florilégio laçado de verdades e devaneios, de palavras cheias e de silêncios, porque assim é a Vida. Não há volta a dar.
Em síntese, maneiras de ler, pessoais, como todas. Ou, por outras palavras, olhares atentos e preocupados que desvendam, entre o sério e o motejo, aquilo em que nem todos reparam (para alinhar com a epígrafe saramaguiana ao Ensaio Sobre a Cegueira).
* Escritor e professor. Artigo a propósito do lançamento do livro “Não há volta a dar” editado pela Debatevolution”, integrando a coleção crónicas 30 textos. Natural de Angeja, Albergaria-a-Velha, onde nasceu em 1961, António Souto é licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Lisboa e pós-graduado em Teoria e Criação Literária pela Universidade Autónoma de Lisboa. Tem uma carreira como professor, em Portugal e em França. A capa do livro reproduz uma fotografia de Mariana Souto, sua filha.
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