A política social do empresário

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Economia (imagem genérica).

A política social é muito provavelmente a mais virtuosa atividade pública dos governos – com ela se reconhece o evidente: como não existe distribuição equitativa de inteligência ou de posição social à nascença, é inteiramente justo que o Estado arrecade parte da riqueza e a redistribua para suavizar essas diferenças.

Por Martim Avillez Figueiredo *

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Esta verdade não impede, em Portugal, que se continue a usar a política social como uma fronteira que divide esquerda e direita, deixando-se a estes apenas a ideia peregrina de que é da ausência de políticas sociais que se cria riqueza.

Nessa divisão arrumam-se os empresários, com frequência acusados de pertencer a essa direita que prefere viver num ambiente onde a proteção social é inexistente, sendo sindicatos e leis laborais apenas entraves aos lucros magníficos que obstinadamente procuram. É uma classificação errada.

Os empresários nacionais, felizmente numa grande maioria (os outros, que atrasam salários e que deixam falir empresas enquanto trocam de Ferrari, são bandidos comuns), sabem que as políticas que protegem os trabalhadores são uma das chaves do sucesso do seu negócio: não, não se fala aqui de políticas para acudir os trabalhadores quando os empresários os abandonam. Fala-se dessa maioria de empresários que têm os trabalhadores no centro das suas estratégias empresariais porque sabem que, só assim, criam valor nas suas empresas.

Esses empresários sabem mais: sabem que alguns desses trabalhadores são mais produtivos do que outros, percebendo (naturalmente) que um trabalhador que produz mais a partir da mesma matéria-prima, e em menor tempo, cria valor adicional. Mas também sabem isto: nem todos os trabalhadores são capazes de igual produtividade e, ao contrário do que pensa a esquerda mais empedernida, não acham que isso se deva a maior ou menor propensão para a mandriice. O bom gestor reconhece o evidente: não existindo à nascença distribuição equitativa de inteligência, força ou posição social, o que por sua vez limita o acesso a iguais doses de capacidades, uma política de produtividade não se afere apenas pela bitola darwinista da métrica de produção dos mais fortes.

Nas empresas participadas pelos fundos geridos pela Core Capital, sociedade gestora de fundos de capital de risco que criei com os meus sócios Nuno Fernandes Thomaz e Pedro Araújo e Sá, que investe sobretudo em empresas de base industrial, a importância da mão de obra é uma evidência para a gestão profissional que contratamos em cada empresa.

Eles sabem distinguir o que cada um consegue e pretende fazer com a oportunidade que lhe é dada pelo trabalho. Nem todos estão destinados a ser os mais produtivos, mas todos estão destinados a criar valor, cada um onde melhor sabe e deseja fazê-lo. A política em vigor de contratação de mulheres em fábricas do Norte, e em particular os incentivos a que tenham filhos, por exemplo, não se afere pela produtividade que mostravam antes de engravidar – apura-se pelo excelente ambiente de trabalho gerado por homens e mulheres realizadas. É nesse ambiente que se gera a máxima produtividade possível. O que nos devolve ao início do texto.

Só políticos capazes, pouco importando se são de esquerda ou de direita, entendem que a riqueza do país resulta dessa combinação de esforços entre pessoas diferentes que, ao longo da vida, precisam de incentivos e apoios distintos – menos para uns, mais para outros, num equilíbrio que define a boa política social. Os bons empresários não são diferentes.

* Fundador e sócio senior da CoRe Capital. Artigo publicado originalmente no site Linktoleaders.pt.

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