A descarbonização tem vindo a afirmar-se, cada vez mais, como um desígnio à escala global, para garantir a sustentabilidade do nosso planeta, a sobrevivência e o bem-estar das gerações futuras. Não causa, assim, espanto que gradualmente se tenham vindo a afirmar diferentes estratégias para reduzir o consumo de recursos naturais e as agressões ao meio ambiente geradas pela atividade humana.
Por Luís Antunes Barroso *
Há vários anos que Portugal tem procurado estar na linha da frente deste processo, pelo que termos sido o primeiro país a comprometer-se com as metas de neutralidade carbónica de Paris foi o corolário natural do trabalho que vinha sendo desenvolvido sobretudo no período pré-Troika.
Assim, na sequência do compromisso assumido em Paris surgem dois documentos de particular relevância, promovidos pelo Ministério do Ambiente: o Roteiro para a Neutralidade Carbónica, que define a neutralidade em termos de emissões de gases em 2050 e o Plano Nacional de Energia e Clima 2030, aprovado pelo Governo, em maio de 2020. Recentemente, a Comissão Europeia decidiu rever em alta o objetivo de redução dos gases de efeito de estufa de 40% para 55% até 2030, em relação a 1990.
De acordo com a ONU (“Mobilizing Sustainable Transport for Development” de 2016), o setor dos transportes é o principal responsável pela emissão de gases com efeito de estufa, representando cerca de 25% do total das emissões, pelo que alcançar as metas traçadas para descarbonização, passa obrigatoriamente por transformar a forma como nos deslocamos, mudando o paradigma da mobilidade.
O reforço de políticas que privilegiem o transporte público, a mobilidade suave, a mobilidade partilhada, ou mesmo, a mobilidade ativa, têm vindo a ser promovidas em Portugal, quer pelo Governo Central, quer pelos Municípios que na busca de alcançar uma mobilidade mais sustentável, seguiram a tendência generalizada de dinamizar e incentivar a mobilidade elétrica.
E neste âmbito, Portugal também foi pioneiro, ao ter sido o primeiro país, em 2010, a dar um enquadramento legal à mobilidade elétrica, pelo Decreto-Lei nº 39/2010, de 26 de abril. Portugal é, provavelmente, o único país que dispõe de um modelo pensado exclusivamente para o desenvolvimento da mobilidade elétrica na sua plenitude, o modelo Mobi.E. Este é um modelo idealizado para facilitar a utilização do consumidor final, que se distingue pelo facto de estar totalmente integrado no setor energético, pela universalidade e pela interoperabilidade dos diferentes postos que constituem a infraestrutura de carregamento.
A integração no setor energético é essencial para permitir que o utilizador de veículo elétrico possa efetuar o carregamento sempre da mesma forma, isto é, quer seja em casa, na empresa ou na rua. Por sua vez, a universalidade torna obrigatório que todos os postos de acesso público possam ser utilizados por qualquer utilizador, independentemente, com quem contratualiza o serviço e a interoperabilidade exige que todos os pontos de carregamento de acesso público possam funcionar em rede, permitindo, ao mesmo tempo, que quem deseje, possa ligar os pontos de acesso privado, como os da sua casa/condomínio, negócio ou empresa à rede Mobi.E.
Em Portugal para atravessar todo o território continental, incluindo as Regiões Autónomas, é necessário apenas um único suporte, cartão ou app. Por sua vez, no país vizinho para realizar a viagem de Badajoz até Madrid, necessitamos de contratar cinco operadores diferentes.
Quando se diz que a Europa começa a despertar para a necessidade de criar a interoperabilidade das diferentes redes, Portugal já dispõe de um sistema de roaming que é aplicado em todo o país, que permite pagamentos de carregamentos adhoc e que permite a integração da rede de acesso público com os postos de carregamento de acesso privado. Ora, esta interoperabilidade nacional dá uma grande liberdade, flexibilidade e despreocupação ao utilizador, ao contrário do que acontece na generalidade dos outros países.
Mas também ao nível da dimensão da infraestrutura de carregamento, Portugal está bem posicionado. Atualmente a rede Mobi.E cobre mais de 95% do território nacional, com cerca de 2.050 postos de carregamento, dos quais quase 25% são rápidos ou ultrarrápidos. Ainda recentemente, um estudo da Associação Europeia de Construtores de Automóveis coloca o nosso País em 4º lugar na Europa, em termos de nº de postos de carregamento por 100 km.
Em termos de melhorias que têm vindo a ser realizadas, e como resposta às exigências regulatórias impostas pela União Europeia, no que diz respeito às emissões de gases de efeito de estufa, temos assistido à intensificação da oferta das construtoras automóveis com soluções mais evoluídas tecnologicamente, quer em autonomia, quer em capacidade de carregamento. O impacto da mobilidade elétrica na sociedade ganha uma maior consciencialização com desafios e escolhas, no que diz respeito à adoção de comportamentos sustentáveis que garantam um equilíbrio entre o bem-estar social, o meio ambiente e o crescimento económico.
A transição elétrica é um contributo importante para a massificação da utilização de veículos elétricos que permite dar resposta às metas traçadas para atingir as ambições climáticas definidas. A disponibilidade de infraestruturas e condições para a mobilidade não só é uma alternativa sustentável, mas é também um veículo para atrair um maior número de pessoas para um estilo de vida mais sustentável, mais confortável e economicamente mais dinâmico e empreendedor. Acredito que a massificação é inevitável à medida que o mercado da mobilidade elétrica ganhe maturidade e maior autonomia numa plataforma única, aberta e universal que permite ligar todo o país e no futuro toda a Europa com uma rede de postos de carregamento de veículos elétricos de acesso universal, interoperável e centrada no utilizador.
Importa também referir que desde abril deste ano, as utilizações e consumos na rede Mobi.E têm vindo sucessivamente a bater recordes todos os meses, o que me permite afirmar que o futuro da mobilidade elétrica se torna cada vez mais próximo e real, que é já hoje! No passado dia 5 de outubro, a rede Mobi.E ultrapassou um milhão de carregamentos em 2021, quando no ano de 2020, o número total de carregamentos foi de cerca de 935.000.
Estamos, pois, no bom caminho, mas é importante continuar a evoluir no que à mobilidade elétrica diz respeito e continuar a inovar, desenvolvendo novas soluções que permitam o seu progresso e integração nos diferentes sistemas de mobilidade – transporte público, mobilidade suave, mobilidade partilhada, etc., onde o denominador comum, em nome de uma cada vez maior sustentabilidade, é a mobilidade elétrica.
* Presidente do Conselho de Administração da MOBI.E, S.A. Artigo publicado originalmente no site da ADFERSIT – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento dos Sistemas Integrados de Transportes
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