Todos já fomos crianças e recordamos com ternura muitos dos momentos vividos nesta fase das nossas vidas. Precisávamos de lápis de cor, folhas, brinquedos e da nossa imaginação para construirmos um mundo onde a brincadeira era a maior das responsabilidades. Os medos assumiam a cor do escuro e a forma de monstros que poderiam viver debaixo das nossas camas ou, quem sabe, nos armários.
Por Marta Fortunato e António Moreira *
Mas os tempos e as vontades vão mudando e com eles as brincadeiras e o modo como as crianças de agora se divertem. A rua foi trocada pelo interior das casas e aos bonecos e à bola juntou-se todo um mundo digital. Agora, joga-se “em rede”, enquanto se comunica e aprende com amigos de todas as partes do mundo, sem que a língua constitua obstáculo. Neste ato “inocente” que o brincar cerca (dentro ou fora de portas), são muitas as aprendizagens que se desenvolvem e delas novos conhecimentos emergem. Aprende-se a ganhar e a perder, a colaborar (como, também, a competir), a negociar e a tomar decisões, à medida que são trabalhadas questões relacionadas com a cidadania, a justiça social, a solidariedade e o respeito pelo próximo.
Todavia, a Escola parece não estar a conseguir acompanhar todas estas mudanças. Apesar da existência de alguns projetos que procuram alternativas para contornar esta tendência, o ensino vai-se mantendo muito centrado nos conteúdos, no manual e no professor. A forma como parece que ensinamos e aprendemos teima em permanecer semelhante à de outros tempos, sendo as práticas e estratégias transversais aos diferentes ciclos de ensino, sem parecer existir preocupação em adequá-los a cada faixa etária. Com a pandemia, o mundo digital tornou-se obrigação de mudança, tendo conduzido ao recurso a ações de formação rápida dos docentes, requerendo adaptações e condições de contacto entre todos, alunos e professores. No entanto, o regresso ao presencial fez cair por terra muitos dos esforços até então desenvolvidos, levando a que as estratégias voltem a tender para a dependência do ensino mais centrado no professor e no manual.
Para não se perder o que se ganhou durante a pandemia, deveríamos manter a flexibilidade que nos foi exigida nas práticas educativas, nomeadamente com as dinâmicas, mecânicas e componentes dos jogos, em contexto de aprendizagem, aliando-as ao lúdico, procurando envolver quem aprende, por outras palavras, a gamificação. Paralelo ao recurso do manual escolar, ensinar os conteúdos camuflando-os através de narrativa contextualizada, associada a desafios, que fomentam a colaboração e competição, com vista ao envolvimento dos alunos na sua resolução, permite-se que os elementos do jogo fomentem aprendizagens e o gosto por aprender brincando, mantendo a essência do que é ser criança, tornando as atividades gamificadas essenciais às estratégias postas em prática na sala de aula.
* Membros do Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente em UA.pt.
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