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Celebrou-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas. As zonas húmidas são ecossistemas fundamentais para a vida, prestando serviços essenciais à biodiversidade e à economia. No entanto, continuam a ser ameaçadas pela ação humana, pelo desordenamento do território e pelas alterações climáticas. Perante este cenário, a sua proteção e restauro não são apenas uma opção, mas uma necessidade urgente para garantir um futuro sustentável.
Por José Carlos Ferreira *
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As zonas húmidas são caracterizadas pela presença de água, podendo ser permanentes ou sazonais. Em Portugal, encontramos diversos exemplos, desde pauis, charcos, lagoas e estuários a sistemas lagunares e sapais. No continente, destacam-se o Estuário do Tejo, o Estuário do Sado, a Ria de Aveiro e a Ria Formosa. Nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, há ecossistemas húmidos de elevado valor, como as lagoas das Sete Cidades, do Fogo e das Furnas, as fajãs das Lagoas de Santo Cristo e dos Cubres, e as turfeiras no Pico e na Terceira. Além das zonas húmidas naturais, existem também formações artificiais criadas pelo ser humano, como os arrozais do Mondego e do Sado, as salinas de Aveiro e Castro Marim e os viveiros de peixe, que têm um impacto significativo na sustentabilidade ambiental e na economia local.
Os serviços prestados pelas zonas húmidas são vitais. Regulam os regimes hídricos, reduzindo o risco de inundações e contribuindo para a recarga dos lençóis freáticos. Funcionam como filtros naturais, removendo poluentes e melhorando a qualidade da água. Além disso, são sumidouros de carbono, ajudando a mitigar os impactos das alterações climáticas.
O seu contributo é igualmente decisivo na adaptação climática, ao protegerem as zonas costeiras da erosão e do impacto das tempestades, minimizando os efeitos do galgamento oceânico e das inundações. São também habitats essenciais para uma vasta diversidade de espécies, incluindo aves migratórias, peixes e anfíbios. No plano económico, sustentam atividades fundamentais como a pesca, a aquacultura, o turismo e a produção de sal e arroz. Além disso, possuem um valor cultural e científico significativo, sendo palco de investigação e atividades recreativas.
Apesar da sua importância, as zonas húmidas enfrentam ameaças graves. A falta de um ordenamento do território de base ecológica, a urbanização e a expansão agrícola têm levado à sua drenagem e destruição. A poluição proveniente de indústrias, esgotos e produtos agrícolas compromete a sua qualidade ecológica. A sobre-exploração dos recursos hídricos tem secado muitos destes ecossistemas, comprometendo a vida que deles depende.
As alterações climáticas vieram agravar a situação, intensificando as secas, aumentando o nível médio do mar e tornando as tempestades mais frequentes e severas. A fragmentação dos habitats por infraestruturas, bem como a introdução de espécies invasoras, têm vindo a comprometer ainda mais a sobrevivência destas áreas.
O que podemos fazer? A proteção e o restauro das zonas húmidas devem ser uma prioridade nas políticas ambientais. Apesar de ainda faltar fazer muito, Portugal tem tido um papel ativo na proteção das zonas húmidas. Retificou a Convenção de Ramsar em 1980, tendo desde então designado várias zonas húmidas como Sítios Ramsar, reconhecendo a sua importância para a biodiversidade e os recursos hídricos. Além dos sítios Ramsar, muitas áreas protegidas em Portugal incluem zonas húmidas de grande valor ecológico.
No entanto, é necessário reforçar medidas concretas não só para aumentar o numero de áreas húmidas protegidas, como para garantir uma preservação eficaz das que já estão classificadas.
Uma resposta eficaz passará por: implementar programas de restauro ecológico que permitam recuperar ecossistemas degradados; reforçar a fiscalização ambiental para impedir a destruição e poluição das zonas húmidas; promover a utilização sustentável dos recursos, assegurando que as atividades económicas não comprometam o equilíbrio destes habitats e, por último e talvez a mais importante, aumentar a literacia ambiental e desenvolver processos de envolvimento ativo das comunidades com vista ao aumento do conhecimento e consequentemente da proteção ativa das zonas húmidas.
Proteger as zonas húmidas é proteger o nosso futuro. Afinal, só conhecendo podemos valorizar, e só valorizando podemos realmente proteger.
* Investigador do MARE, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa. Artigo publicado originalmente em Ambientemagazine.com.
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