A importância da licenciatura em Educação Básica

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Sala de aula.
Natalim3

A licenciatura em Educação Básica não é, simplesmente, um começo, mas sim “o” começo, o princípio de muitas vidas, o futuro do país, do nosso país.

Por Madalena Teixeira *

É com pesar que percebo que a maior parte da população portuguesa desconhece a importância da licenciatura em Educação Básica! Uns consideram que é um curso tão básico, que nem vale a pena fazer uma candidatura. Gastar dinheiro em propinas para ter uma licenciatura básica? Nem pensar! Já que vou pagar, ao menos que seja por alguma coisa que valha a pena, não é verdade?! Bem… é um cursinho, já que não tenho nota para entrar noutro curso, tento este. Há de dar para fazer alguma coisa, nem que seja dar aulas. Outros não consideram nada, porque nunca ouviram falar. Mas há uma coisa que tanto “uns” como “outros” sabem dizer – a educação vai mal neste país; a qualidade da educação neste país é muito discutível –, ou seja, sabem dizer mal.

Questiono-me se a razão de tamanhos disparates decorre simplesmente da falta de conhecimento, ou de um conhecimento enviesado, que é fortemente condicionado pela opinião pública e por alguns meios de comunicação. Efetivamente, costumava ouvir-se nos telejornais e ler-se na imprensa, que todos os anos ficavam “não sei quantos mil” professores por colocar, que eram cursos cujas saídas profissionais eram diminutas, que muitas pessoas procuravam outras saídas profissionais porque não conseguiam arranjar trabalho. Enfim, um “sem número” de afirmações que foram e continuam a ser desmotivadoras e perturbadoras para os nossos jovens. E o curioso é que, de um passado recentíssimo a esta parte, essa mesma comunicação social vem divulgar a falta de professores, a necessidade de professores nas escolas, parecendo, agora, haver (alguma) preocupação com tal facto.

Só tenho uma palavra a dizer: – Acordem!

O curso de licenciatura em Educação Básica tem esta designação, não porque se trata de um curso básico, mas por ser um curso que tem as bases, que tem os alicerces, os pilares, que vão suportar o futuro de gerações. Sim, gerações! Bem, mas se assim é, então vale a pena?! Sim, vale a pena! Mas só para jovens que pensam em (co)construir e (co)contribuir para um futuro com sustentabilidade, assente numa educação de qualidade e para a qualidade. Jovens que pensem, e que tenham consciência, de que o curso, este curso, o curso de Educação Básica não é para fracos. É só para os fortes, para aqueles que têm espírito de missão, que se entregam a uma profissão que se consubstancia numa forma de estar na vida, que são altruístas, que têm respeito pelo Outro, que sabem que a sua prática de ensino tem uma componente que assenta em relações humanas, logo em emoções, logo em perceções, e por sua vez em sonhos; para aqueles que conseguem ir além do saber disciplinar, que sabem fazer conexões entre fronteiras e culturas.

É importante sermos todos cidadãos ativos e participativos numa sociedade que se rege por valores democráticos e de inclusão. Pois é! Então, jovens do nosso país, futuros professores, caros colegas, tenham consciência de que são os únicos com ferramentas necessárias para tornar esse desejo numa realidade indiscutível e verdadeira. Onde é que encontram essas ferramentas? Na licenciatura em Educação Básica, pois é onde está o começo! É neste curso que se começam a formar os professores de amanhã, que se conhecem e aprendem pilares da educação – da educação artística e educação física, da matemática, do português, do estudo do meio -, para que mais tarde, num mestrado que habilita para a docência, se possa fazer uma escolha consciente, seja do nível de ensino, seja da área científica na qual se pretende trabalhar. Sim, trabalhar. Não “arranjar um emprego”.

A engenheira, antes de ser engenheira, precisa de aprender a ler e a escrever; o advogado, antes de ser advogado, precisa de aprender a ler e a escrever; a eletricista, antes de ser eletricista, também precisa de aprender a ler e a escrever; o enfermeiro, antes de ser enfermeiro, de aprender a ler e a escrever precisa.

Afinal de contas a licenciatura em Educação Básica não é, simplesmente, um começo, mas sim “o” começo, o princípio de muitas vidas, o futuro do país, do nosso país. Um país que não pode nem deve continuar na sombra do estigma “cauda da Europa”; um país que deve acabar com o declínio do reconhecimento dos profissionais de educação. Caso contrário, quem serão os profissionais que irão educar as gerações futuras, que irão educar os nossos filhos? Alguém que exerce a profissão docente porque não tem mais nada para fazer? Alguém que se levanta todos os dias, para ir para o seu emprego, mas que não tem brio no que faz?

Jovens portugueses, acordem! Mostrem como a Educação Básica é importante para a construção da nossa sociedade! Façam-no por todos nós, pelo nosso país!

* Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site UA.pt.

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