A importância da fileira florestal na economia

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Exportar 1 euro de produtos de cortiça, de papel ou de pasta para papel acrescenta muito mais do que exportar 1 euro de derivados de petróleo (para dar apenas um exemplo, e sem sombra de demérito para quem se dedica à exportação deste tipo de produtos).

Por Daniel Bessa *

A importância de um qualquer setor de atividade, no caso a fileira florestal, para a economia nacional tem formas consagradas de aferição: contributo para o PIB, contributo para PIBs mais delimitados como poderão ser o agrícola, o industrial ou o dos serviços, emprego criado, tanto direta como indiretamente (incluindo fornecedores), massa salarial correspondente a esse ou a esses volumes de emprego, salário médio, valores em matéria de exportação e correspondentes percentagens em totais determinados, EBITDA e lucros líquidos libertados nas empresas do setor, montantes de investimento, impostos pagos, etc.

A determinação destes valores, e a formulação de um juízo sobre todos e cada um deles, constituiria, só por si, trabalho de grande envergadura, fora do alcance de um investigador isolado, para ser retido num número muito limitado de caracteres.

Há sempre, é claro, a possibilidade de nos socorrermos de trabalho já realizado por outros, cujos resultados nos limitaríamos a reproduzir, com a devida vénia, e a comentar. Não faltam, na fileira florestal, trabalhos desta natureza, em que me permitira destacar, pela sua abrangência, o “Relatório de Caracterização da Fileira Florestal”, publicado pela AIFF, cuja última edição data de 2014, com informação relativa a 2013. Nele encontrará, o leitor interessado, informação muito para além da que aqui poderia proporcionar-lhe – acrescendo que, para os mais familiarizados com o sector, muitos destes números, pelo menos os de maior relevância, são do conhecimento comum.

Permitir-me-ei, por isso, referir e comentar um único desses números: os 9,1% de peso atribuído ao setor no total das exportações de bens, em Portugal, em 2013 – valor de ordem estrutural, pouco suscetível de variações de curto prazo e que, por isso, deverá permanecer sensivelmente idêntico.

As exportações são um desígnio maior da economia e da sociedade portuguesa, que não dispõe de outro meio de crescer de forma saudável, ou sustentável, como hoje se diz – muito dependente de importações, qualquer crescimento da economia portuguesa impulsionado pelo consumo ou pelo investimento internos, tanto privados como públicos, acabará, mais cedo do que tarde, bloqueado pelo aumento do défice das contas externas, com consequente endividamento (da Nação, mais do que do Estado).

O valor acrescentado nacional incorporado na exportação de 1 euro de produtos florestais é muito superior ao incorporado em 1 euro de exportação da generalidade dos produtos industriais.

Exportar é, pois, decisivo. E 9,1% das exportações nacionais de bens constitui um contributo importante – bem mais importante do que parece se atentarmos em que o valor acrescentado nacional incorporado na exportação de 1 euro de produtos florestais é muito superior ao incorporado em 1 euro de exportação da generalidade dos produtos industriais.

Exportar 1 euro de produtos de cortiça, de papel ou de pasta para papel acrescenta muito mais do que exportar 1 euro de derivados de petróleo (para dar apenas um exemplo, e sem sombra de demérito para quem se dedica à exportação deste tipo de produtos).

Nunca vi esta diferença suficientemente valorizada na comunicação da fileira florestal, se possível de forma quantificada, tão rigorosamente quanto possível, e gostaria de ver.

Daniel Bessa.

* Ex-ministro da Economia, Docente universitário e atual presidente do júri do Prémio Floresta e Sustentabilidade. Artigo publicado originalmente no site produtoresflorestais.pt.

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