A importância da criação de ofertas formativas na área das smart cities em Portugal

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Imagem Revista Smart Cities.
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O interesse na temática das cidades tem vindo a alastrar à medida que aumenta a consciência de que estas são um elemento incontornável nas dinâmicas de desenvolvimento das sociedades e da espécie humana – a população urbana já representa mais de 55% da população mundial, totalizando 4,2 milhões de pessoas (número que deverá duplicar até 2050), sendo as cidades responsáveis pela criação de 80% da riqueza mundial.

Por Eduardo Natividade *

Mas esta visão da cidade como “miragem para onde conflui a imaginação e os corpos” tem sido acompanhada da tomada de consciência de que a concentração de pessoas e atividades coloca um vasto conjunto de desafios sociais, ambientais, económicos, culturais, ou de governança, que urge ultrapassar, a bem da qualidade de vida e bem-estar dos cidadãos. O foco nas cidades inteligentes como via para um desenvolvimento que seja verdadeiramente sustentável tem, assim, ganho notoriedade.

De facto, tem aumentado a perceção de que o papel das cidades como motor de progresso tem de ser desempenhado com base em lógicas que articulem o desenvolvimento económico e a criação de riqueza e bem-estar com o respeito pelos recursos que o planeta oferece, mantendo uma centralidade nas pessoas e nos grupos sociais em que se organizam. Tal exige uma compreensão abrangente dos ambientes e sistemas urbanos e uma capacidade de explorar soluções baseadas em tecnologia para otimizar o funcionamento e os recursos utilizados na construção e gestão das cidades.

É cada vez mais comum falar-se em TIC, conectividade ubíqua, IoT, biga data e dados abertos, capital social, negócios e empreendedorismo, sustentabilidade ecológica, para caracterizar o discurso da cidade inteligente. E é principalmente em redor destes conceitos e com um foco quase exclusivo na tecnologia que tem crescido a oferta formativa na área das smart cities. No entanto, existe uma outra perspetiva – mais atual e mais sustentável – das cidades inteligentes, centrada na dimensão humana, que incluiu inovação social, cidadania inteligente, capital de aprendizagem e conhecimento e colaboração interorganizacional. É, por isso, de extrema importância, a criação de oferta formativa graduada e pós-graduada que procure incluir estas duas perspetivas e seja capaz de formar profissionais com uma visão mais holística e humana, e mais abrangente e transversal relativamente à sustentabilidade e inteligência das cidades.

Foi procurando responder a esta lacuna que, em 2018, o Instituto Superior de Engenharia de Coimbra – Instituto Politécnico de Coimbra (ISEC/IPC) lançou a licenciatura em Gestão Sustentável das Cidades – a primeira em Portugal e que, por estes dias, coloca o primeiro grupo de licenciados no mercado –, com a qual pretendeu capacitar profissionais para responder aos crescentes desafios da urbanização, tendo como objeto da sua intervenção profissional o ambiente construído proporcionado pelas zonas urbanas, nas suas diversas componentes, com especial enfoque nos aspetos de exploração, manutenção, gestão e otimização, numa ótica de sustentabilidade.

O Mestrado em Cidades Sustentáveis e Inteligentes surge agora como mais um passo que o ISEC/IPC dá na resposta aos desafios postos pelas cidades enquanto complexos sistemas de suporte à vida humana, onde a inteligência urbana é vista como uma inteligência coletiva, que sabe tirar partido de uma ferramenta importante como são as TI, mas – e muito importante – não se esgota nelas. Estas missão e visão estão suportadas num corpo docente alargado, que permite precisamente a abordagem referida, já que, na sua composição, está reunida não apenas capacidade científica, mas também competência pedagógica, conhecimento técnico-profissional, e, não menos importante, a experiência resultante de uma ativa e consistente ação cívica.

A concretização da ideia da cidade inteligente em Portugal passa por tornar muito mais acessível e generalizado o conhecimento sobre o conceito, fazendo perceber que o aumento da inteligência urbana é atingido por ações concretas inseridas numa visão holística e transversal. Quanto mais pessoas estiverem por dentro do conceito e forem capazes de articular soluções concretas para os problemas que já temos, mais facilmente se conseguirá atingir a eficiência no funcionamento das cidades e o seu desenvolvimento de forma sustentável. Isso torna igualmente importante tanto a formação de novos graduados como a qualificação de pessoas já inseridas no mercado de trabalho (numa perspetiva de lifelong learning). É importante alargar a oferta de formação em Cidades Sustentáveis e Inteligentes em Portugal, porque, citando Ogwo David Emenike, “inteligência não é apenas uma palavra é uma atitude”.

* Presidente do Departamento de Engenharia Civil do ISEC/IPC e membro da Comissão Coordenadora do mestrado em Cidades Sustentáveis e Inteligentes; João Gonçalves, diretor da licenciatura em Gestão. Artigo publicado originalmente em https://smart-cities.pt.

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