A globalização da economia em conjunto com o aumento dos níveis de competição entre países e empresas vêm dar maior importância à necessidade de Portugal desenvolver o funcionamento eficiente e integrado da sua cadeia logística.
Por Nuno Soares e Marco Dinis *
A eficiência logística e a intermodalidade dos diferentes modos de transportes são fatores imprescindíveis à competitividade de um país.
Para além do conhecido constrangimento pela diferente bitola entre os caminhos ferroviários Ibéricos e os restantes países europeus, privilegiando a localização atlântica de Portugal e as eficiências operacionais, os fluxos logísticos em Portugal incidem, essencialmente, no setor marítimo e no rodoviário. Por esta razão, temos um nível baixo de trocas comerciais pela ferrovia entre Portugal e a Europa além dos Pirenéus.
Nos últimos anos, apesar de manutenção dos baixos índices de eficiência e competitividade, os carregadores portugueses têm a consciência quanto à importância de serem endereçados esforços para manter a intermodalidade e, consequentemente, a dinâmica do setor ferroviário, procurando contrariar o forte desinvestimento que se verificou no setor ferroviário.
Não obstante das diferentes eficiências operacionais e económicas das cadeias logísticas, os produtos para serem competitivos, para além dos custos de produção, terão de ter em consideração a sua pegada ecológica, a qual será um fator diferenciador dos produtos num mercado global. No apuramento de pegada ecológica, serão tidas em conta as emissões de CO2 da logística no inbound e outbound. A União Europeia acordou em 2021 um pacote de medidas, conhecido como FIT55, o qual ambiciona uma redução para 55% de emissões em 2030, comparativamente com 1990.
É neste enquadramento que o setor ferroviário português terá obrigatoriamente de ter cada vez maior relevância para os exportadores nacionais.
Tendo em conta este contexto, foi com grande satisfação que vimos diversas ações e medidas que procuram inverter as políticas de desinvestimento no setor ferroviário, das quais destacamos, obviamente, o Plano Estratégico Ferrovia 2020, que visa criar melhores condições de interoperabilidade ferroviária, eletrificação e sinalização de linhas e aumento do comprimento dos comboios de mercadorias para 750 m. Este plano prevê melhorias nas ligações internacionais: corredor Internacional Norte (Leixões/Aveiro – Vilar Formoso) e Corredor Internacional Sul (Sines-Elvas/Caia).
A melhoria das acessibilidades ferroviárias aos terminais portuários, dinamizarão a referida intermodalidade, como é o caso da empreitada de Modernização do troço da Linha do Sul entre o Porto de Setúbal e Praias do Sado.
Aqui, não podemos de deixar de manifestar a nossa preocupação quanto aos atrasos existentes na realização de alguns destes projetos, apesar das notícias recentes apontarem 12 de Novembro como data prevista de reabertura da Linha da Beira Alta (corredor Internacional Norte)
Assim, para que o setor ferroviário seja uma solução concreta terão de ser efetivados, com a maior celeridade possível, os investimentos estruturais já apresentados no plano Ferrovia 2020 e PNI 2030 e, em simultâneo, ser adotadas as medidas para que no setor ferroviário exista um maior número de operadores com disponibilidade de meios (locomotivas e outros) para o transporte das diferentes tipologias de carga, prestando um serviço de qualidade a um preço competitivo.
Para a atratividade desta capacidade e a desejada intermodalidade, assume especial relevância o projeto de implementação do Sistema de Sinalização Europeu (ERTMS) nos principais Eixos da Rede Ferroviária Nacional e que permitirá à frota de operadores (equipados com o sistema nacional CONVEL) comunicar com o sistema ERTMS.
O setor ferroviário deverá demonstrar a capacidade para oferecer serviços regulares, que permitam aos carregadores a realização de transportes que não sejam apenas a realização das cargas “garantidas” através de contratos de longa duração; só desta forma é que poderá ser uma alternativa ao setor rodoviário.
Neste capítulo não podemos deixar de dar nota, para a aplicação desde o último trimestre de 2021, da sobretaxa energética no transporte ferroviário, a qual é uma medida contrária à desejada utilização da ferrovia em alternativa ao transporte rodoviário.
Os carregadores portugueses consideram que o setor ferroviário será a solução eficiente em termos ambientais e económicos, sempre que ofereça mais eficiência, flexibilidade e competitividade, com o objetivo de prestar um serviço de qualidade para todas as tipologias de cargas, quer sejam transportes pontuais ou transportes de cargas ao abrigo de contratos de longa duração.
* Membros Conselho Português de Carregadores. Artigo publicado originalmente no site Transportes & Negócios.
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