A comemoração do Dia Mundial de Luta contra o Cancro a 4 de fevereiro é uma iniciativa internacional, que pretende unir a população mundial em torno da luta contra o cancro, através da sensibilização e da educação. O cancro é um problema de saúde pública, esperando-se que o número de novos casos e mortes venha a duplicar nas próximas décadas.
Por Joana Paredes, presidente da Associação Portuguesa de Investigação em Cancro (ASPIC), Anabela Figueiredo, presidente da Associação Calioásis, Maria Rita Dionísio, diretora médica da Novartis Portugal, Ana Pinto e Ana Rita Ferreira, comissão organizadora do ciclo “Vamos Aprender sobre Cancro” *
Em Portugal, em 2020 contabilizaram-se mais de 60 mil novos casos e 30 mil mortes por cancro. É urgente compreender melhor o cancro, de forma a melhorar a prevenção, diagnóstico e tratamento, assim como contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
De onde nasce o Plano Nacional?
O Plano Nacional de combate ao Cancro para o decénio 2021-2030 é um documento que reflete a estratégia de Portugal para o cumprimento das metas previstas no Plano Europeu de Luta contra o Cancro publicado pela Comissão Europeia, em fevereiro de 2021, e com o qual o nosso país se comprometeu.
Como objetivos principais do Plano Nacional, pretende-se reduzir a incidência de cancros potencialmente evitáveis, através do combate dos fatores de risco conhecidos; melhorar a sobrevivência e qualidade de vida dos doentes, apostando no diagnóstico precoce e equidade no acesso aos cuidados de saúde; e melhorar o tratamento dos doentes com cancro, através da inovação e reforço da investigação em cancro.
Qual a importância das instituições de apoio aos doentes e cuidadores?
Estas instituições assumem um papel bastante significativo na estratégia nacional e europeia de combate ao cancro, disponibilizando respostas complementares aos serviços existentes, que contribuem para a melhoria do bem-estar e qualidade de vida dos doentes. Desde apoio financeiro, psicológico, escolar, habitacional, social, jurídico, passando também pela promoção de estudos científicos em diferentes áreas, da literacia em saúde, da sensibilização para as causas que defendem, apoio entre pares, entre outras.
A partilha da perspetiva, conhecimento e experiência do lado do doente é fundamental para um caminho participativo com maior sucesso. Em particular, a Associação Calioásis disponibiliza gratuitamente atividades lúdicas e físicas no domicílio de crianças e jovens em tratamento oncológico de toda a região centro, com apoio de equipa técnica sediada nas instalações do Hospital Pediátrico de Coimbra.
Como é a investigação em cancro realizada em Portugal?
A Associação Portuguesa de Investigação em Cancro (ASPIC) tem como desígnio promover a investigação em cancro em Portugal, nomeadamente através da recolha de indicadores e disseminação de resultados, bem como da análise e proposta de soluções para os constrangimentos existentes na investigação nacional em Oncologia.
Recentemente, com o apoio da Fundação “la Caixa”, da Fundação Calouste Gulbenkian e da Novartis, a ASPIC produziu um relatório que retrata a Investigação em Cancro em Portugal nos últimos 10 anos. Deste relatório concluiu-se que em Portugal a investigação em cancro está em expansão e tem conquistado excelência e competitividade a nível europeu nos últimos anos. Contudo, existem ainda áreas críticas de intervenção de grande benefício para os doentes onde Portugal continua a falhar. A começar pela inovação patenteável e a transferência de tecnologia – o número de patentes concedidas em aplicações biomédicas está muito abaixo da maioria dos países europeus.
Por outro lado, no que toca aos ensaios clínicos, Portugal tem um ambiente de ensaios clínicos claramente de baixo desempenho, fortemente dependente da iniciativa e do patrocínio da indústria farmacêutica, sendo a maioria dos ensaios de grande escala, multicêntricos, de Fase 3, onde Portugal não tem um papel de liderança. É preciso ainda garantir uma melhor integração e alinhamento das atividades de investigação em cancro, da investigação básica à aplicada, reforçando e ativando redes e infraestruturas.
As redes entre grupos académicos, indústria, sociedades científicas e sociedade civil são motores de investigação comum que nutrem as necessidades dos doentes nos vários níveis da sua jornada. O garantir que a investigação de bancada continua e que o ciclo do medicamento se acelera em todas as suas fases é crucial para que a Investigação se concretize em outcomes diretos no estado de saúde da população.
Uma investigação que se dirige para a precisão e uma medicina que se torna cada vez mais personalizada, desde o diagnóstico ao tratamento, deve mobilizar a responsabilidade e liderança dos seus vários atores para a tornar real e efetiva a oportunidade dos cidadãos Portugueses.
* Artigo partilhado no âmbito da iniciativa organziada pela Fábrica Ciência Viva de Aveiro para assinalar o Dia Mundial da Lutra Contra o Cancro.
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