A destituição do poder do voto

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Urna de voto.
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Qual será a legitimidade de quem não escolhe, de quem se recusa a participar na “coisa pública ” de criticar o que for?

Sara Tavares *

Cada vez mais se fala em abstenção, as pessoas demitem-se de participar no processo político. Enumeram-se hipotéticas razões para o justificar, elencam-se possíveis soluções.

Do rol das razões saltam: o desinteresse pela política; o desinteresse pelas propostas dos partidos e o desconhecimento sobre o valor do voto e suas consequências. Apesar dos números da abstenção serem cada vez mais preocupantes, o que é certo é que cada vez mais se assiste ao nascimento de movimentos cívicos, normalmente associados a problemas locais ou específicos de uma comunidade, ou seja, quando há uma determinada ligação, nasce igualmente a vontade de participação cívica, a mobilização.

Então qual será o verdadeiro problema? Faltará educação política? Informação? Sabemos que muitos dos eleitores escolhem o partido em que vão votar como se de um clube de futebol se tratasse e se lhes perguntarmos as linhas orientadoras do partido que estão a escolher, não sabem definir uma.

Sempre ouvi que quando não se domina um assunto a atitude natural é evitá-lo. A abstenção é, sem dúvida, fuga à responsabilidade. Mas por que razão se evita o desconhecido? Dever-se-ia-inclusivamente querer saber mais, até porque é da nossa vida, que se trata. A orientação política tem marcas e deixa marcas na nossa sociedade, bem como na nossa vida. O voto determina linhas de pensamento, escolhas políticas, assim como medidas.

No que concerne a soluções há quem defenda como solução o voto obrigatório, na medida em que os seus defensores acreditam que as pessoas que agora se demitem de escolher, teriam curiosidade em obter informações sobre as propostas de cada candidatura. Hoje em dia, a informação sobre estas propostas é vasta e o cidadão pode dar o seu contributo para determinado projeto de candidatura. A participação é indubitavelmente uma mais valia.

Qual será a legitimidade de quem não escolhe, de quem se recusa a participar na “coisa pública ” de criticar o que for?

A democracia é uma conquista, pela qual Portugal é reconhecido, a revolução dos cravos símbolo de uma luta sem armas, os cravos a marca da liberdade. Da liberdade de escolha. E são escolhas que estão em jogo quando vamos votar.

Não me demito de participar no processo político, não me demito de dar o meu contributo. A abstenção é indiferença.

O voto é um direito? Sem dúvida! É um dever? Também!

Não lhe retiremos o seu valor e poder.

* Professora, eleita do PS na Assembleia Municipal de Aveiro.

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